Embale Certo

Embalagens que têm história

Maio/Junho 2018

Antonio Celso da Silva

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Antonio Celso da Silva

oderíamos dar para essa coluna também os títulos “Embalagens com valor agregado”, “Embalagens diferenciadas”, “Embalagens para encantar o consumidor” ou “Embalagens que contam uma história” e até usar o termo da moda “storytelling”.

Na verdade, o que me chamou a atenção foi um evento que participei na semana passada onde se percebia claramente os jovens palestrantes, com suas surradas calças jeans, tênis e camisas, tomando o lugar dos engravatados, de cabelos grisalhos e postura formal. Jovens inteligentes com domínio total do palco e do que falavam. Essa é a nova geração de executivos, descolados, sem medo e que sabem exatamente o que querem. A chamada geração Y.

Coitados de nós, “velhinhos”, décadas de experiência. Coitados nada! Temos que ser inteligentes e unir nossa experiência com a força e o dinamismo desses jovens talentosos. Burrice é ignorá-los.

Ainda falando do evento, várias foram as empresas que mandaram seus jovens apresentar seus lançamentos e suas inovações em cada segmento do mercado, sempre falando do produto, mas tendo a embalagem como foco principal do assunto.

Primeiro balde de água fria jogado por um desses jovens talentos: se você vai criar ou desenvolver uma nova embalagem e busca na concorrência algo para “chupinhar” com a arrogância de quem vai copiar, mas fazer melhor, começou errado! Aliás, quantos de nós não passamos por isso? O pessoal do marketing sai visitando lojas, compra tudo que achou bonito, traz para a empresa, coloca sobre uma grande mesa, e todos debruçados observando a concorrência iniciam o processo de criação de uma nova embalagem.

Ou mais do que isso, viajam pelo mundo e pagam excesso de bagagem, trazendo em suas malas produtos importados, produtos cujas embalagens chamaram a atenção.

Tudo isso não é fruto da minha vivência nas empresas por onde passei, mas foi dito por um jovem talento que palestrou no evento e ainda provocou a plateia: “Isso é o que vocês chamam de criação/inovação!”.

Outro jovem, na mesma linha de raciocínio e falando de um lançamento da sua empresa, mostrou as várias etapas da criação de uma embalagem para a qual a inspiração era uma semente que, obviamente, pelo seu formato, depois de transformada numa embalagem, não parava em pé. E ele perguntou: e precisa, isso é importante?! Será que o mais importante não é a história desse produto, e tão importante quanto o produto é a história dessa embalagem?

Sinceramente, saí desse evento com cócegas no cérebro e matutando...

São essas as mudanças que nos fazem ser contra e com certeza a razão de muitas empresas estarem morrendo.

E, como diretor da área técnica e industrial da minha empresa, jamais aceitaria fazer parte de um time que desenvolvesse uma embalagem que não para em pé.

Na verdade, a gente já começa errado quando pensa em desenvolver uma embalagem sem levar em conta o canal de vendas onde ela vai estar. Imaginem que, na venda emocional porta a porta, o olhar e a decisão de compra são bem diferentes do canal varejo ou do que está na moda, canal atacarejo (mistura de varejo com atacado), onde a embalagem solitariamente tem que chamar a atenção a ponto de impactar na decisão de compra daquele produto. Essa nova geração que palestra tão bem é a mesma geração que compra o produto, e a decisão de compra hoje é mais criteriosa, pois a informação está em todo lugar e ela tem acesso.

Não adianta lançar uma embalagem dizendo que é diferente, uma inovação, pois esse mesmo jovem que tem acesso rápido à informação, se descobrir que não é, vai desmentir rapidamente e, além de não comprar, já carimba aquela marca como um engodo e divulga isso nas suas redes sociais.

Um dos palestrantes explicou o seguinte: na empresa multinacional francesa na qual atua, o abraço é visto como algo meio antipático, comportamento típico do País. Bem diferente do Brasil.

Segundo ele, o abraço é genuinamente brasileiro, exemplificar isso numa embalagem faz com que essa embalagem tenha passado por uma criação, faz com que essa embalagem tenha uma história.

O que quero dizer com tudo isso é que não podemos ficar presos nas empresas sem sair pra ver o que está acontecendo lá fora e, quando eu digo lá fora, estou falando desses eventos que nos fazem pensar, nos fazem entender que, pode parecer clichê, mas fazer mais do mesmo é o início do fi m do negócio das empresas.

Participar de congressos e workshops abre a nossa cabeça e nos coloca frente a frente com o novo, mesmo que não concordemos com esse novo.

A embalagem tem história quando seu criador tem mente aberta e não se prende ao “time que tá ganhando não se mexe”.

A embalagem que tem história pode acabar não sendo diferencial de vendas, mas, no mínimo, vai arrancar a frase padrão do tipo: “Tão simples, por que eu não pensei nisso antes?!”

Se esse texto fez você repensar e ver a embalagem com outros olhos, já valeu a minha inspiração para escrevê-lo.

Por falar em evento, anote na agenda: no próximo dia 14 de agosto, acontecerá o Fórum de Embalagens para Cosméticos, organizado pela Associação Brasileira de Cosmetologia e coordenado por esse colunista.



Outros Colunistas:

Deixe seu comentário

código captcha

Seja o Primeiro a comentar

Novos Produtos