Mercado

Distribuição de renda

Janeiro/Fevereiro 2018

Carlos Alberto Pacheco

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Carlos Alberto Pacheco

Tem-se falado muito nestes últimos dois meses sobre a pobreza. Longe de ser um problema local, ela vem se fazendo presente em várias partes do mundo e assumindo diversas facetas. Resumindo: o fato é que este quadro vem apresentando uma piora generalizada ao longo dos anos e principalmente nos anos mais recentes. Por outro lado, escuta-se também falar em crescimentos econômicos positivos em algumas regiões ou mesmo em países isolados, mesmo que na grande maioria tímidos. O Banco Mundial, por exemplo, declara um percentual de crescimento econômico mundial de 2,4% em 2016, uma estimativa de 3% para o fechamento de 2017, e uma projeção de 3,1% para 2018. Segmentando o mesmo índice apenas para as economias emergentes, nas quais nos incluímos, os dados são promissores e mais robustos: 3,7%, 4,3% e 4,5%, respectivamente.

Diante disso, à mente a pergunta: se há um crescimento econômico, por que não há uma diminuição da pobreza? A princípio, isso parece um paradoxo. No entanto, não se trata de uma contradição, apenas de uma defi nição de conceitos. A questão levantada trata de uma entre as quatro questões fundamentais que a ciência da economia se ocupa desde o princípio do mundo e pode ser traduzida pelo conceito de distribuição de renda.

Faz-se necessário explicar que geração de riqueza não é a mesma coisa que distribuição de renda. A distribuição de renda diz respeito a como a riqueza gerada por um país é distribuída pelos geradores desta riqueza – a população. Esta parte importante da economia tem sido uma preocupação constante dos governantes independentemente da orientação econômica dos seus respectivos países, seja ela orientada pelo liberalismo econômico (capitalista), que afirma que as forças do mercado, a iniciativa individual e o aumento de produtividade possibilitariam no longo prazo uma melhora efetiva da renda dos menos favorecidos, seja ela orientada pelo conservadorismo (socialista), que, por sua vez, afirma que somente as lutas sociais poderiam trazer uma distribuição de renda de fato justa.

A realidade tem mostrado que nem um sistema nem outro tem sido eficaz nesta questão específica da distribuição de renda. Como evidência, menciono o estudo realizado por Thomas Picketty, que informa que, em 2016, 23,4% da riqueza mundial se concentrava nas mãos de 1% da população; 53,9%, nas mãos de 10%; e apenas 14,6%, nas mãos de 50% da população. No Brasil, a desigualdade na distribuição é a maior do mundo: 27,8% da riqueza nacional está nas mãos de 1% da população, ficando à frente até mesmo das monarquias árabes.

Mas por que tamanha desigualdade? Não se pode generalizar a causa, uma vez que o fenômeno é gerado por diferentes fatores nas diversas regiões do mundo. Numa pesquisa feita pelo instituto Oxfam (Nós e as desigualdades, 12/2017) em conjunto com o Datafolha, os entrevistados indicam como fontes da desigualdade nacional a corrupção do poder político, o falido sistema educacional e a falta de oportunidades de emprego e/ou desemprego.

Em linha com a declaração acima, neste mês o Fórum Econômico Mundial se reuniu em Davos para discutir as problemáticas mundiais, e o relatório indica que, entre os riscos globais prováveis nos próximos cinco anos, está o desemprego e/ou subemprego dos jovens (entre 19 e 24 anos). Numa escala de 1 a 5, este risco tem 3,4% de probabilidade de ocorrer e, na mesma escala, há 3,3% de chances de um impacto na economia mundial. De acordo com o relatório, a atual taxa de desemprego mundial é de 12,5% e, na América Latina, de 17,5% (com tendência de alta considerando os últimos 3 anos).

O impacto qualitativo deste risco implica no envelhecimento da população mundial (menos filhos por casal, geração de filhos mais tarde, menor taxa de mortalidade na terceira idade, maior expectativa de vida) e no aumento dos impostos para sustentar o maior número de pessoas que chegam ao topo da pirâmide demográfica. As consequências deste risco podem ser traduzidas no profundo aumento da instabilidade social (insurreições, greves etc.) e no agravamento das consequências negativas dos avanços tecnológicos que a 4ª revolução industrial tem inevitavelmente ocasionado.

A pobreza, que acaba sendo uma das formas práticas de se medir a qualidade da distribuição de renda, tem nos mostrado a piora deste aspecto ao longo dos anos, a despeito do crescimento econômico de algumas regiões ou mesmo de alguns países individualmente. O relatório Oxfam indica que apenas oito homens no mundo reúnem um patrimônio igual ao patrimônio de 50% da população mundial. Os números são alarmantes. Mais se teria para falar aqui, mas o espaço é pequeno para tamanho desafio.

Se não houver uma política de Estado que permita eliminar os efeitos nocivos da corrupção política na economia local e um real plano de investimento educacional, as tendências e consequências apontadas aqui pelos estudiosos mencionados tenderão a se confirmar em um futuro próximo. Um problema atual que coloca em risco as futuras gerações!



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