Embale Certo

Terceirização: embalagem pode ser um complicador

Setembro/Outubro 2017

Antonio Celso da Silva

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Antonio Celso da Silva

Estou coordenando um grande projeto que tem como objetivo terceirizar 100% dos produtos da empresa em que trabalho. Tenho alertado que a terceirização é o futuro da cosmetologia brasileira, considerando que as marcas de cosméticos que têm suas fábricas não querem construir novas unidades nem ampliar as existentes. Legislação morosa, custos fixos altos, ações trabalhistas e fiscalizações sem critérios são algumas das razões para que isso aconteça.

Por outro lado, vemos nascer todo dia uma nova fábrica focada em terceirização e multinacionais chegando ao Brasil, todas fazendo uma leitura da explosão desse segmento.

Nesse trabalho de visitação e avaliação de dezenas de terceiristas, para achar o mais adequado e com perfil técnico e de porte para fabricar os produtos, pude verifi car suas carências.

E a grande reclamação por parte dos clientes é ser “acarinhado” para tornar a relação mais leve, produtiva e duradoura.

Um aspecto também muito interessante é que, no passado, as marcas tinham receio de informar na sua embalagem que não eram o real fabricante do produto, mas sim um terceirista. Isso hoje não tem a menor importância, pois o consumidor não se importa com quem fabrica e não dá atenção para isso. Ele compra a marca e sabe que ela não vai arriscar o nome fabricando seu produto em um terceirista que não tenha competência.

Nesse processo de terceirização, trabalhamos basicamente com três tipos de contrato. O Full service, em que o terceirista compra matérias-primas e embalagens; o chamado Industrialização, em que o terceirista entra com as matérias-primas e o cliente com alguma parte de outro insumo, normalmente as embalagens; e o contrato Serviço, em que, ao contrário do Full service, o cliente envia todas as matérias-primas e embalagens.

Nos três tipos de contrato, a matéria-prima não é o grande problema, considerando que a maioria são “de prateleira” praticamente pronta-entrega, ficando os poucos problemas para um ou outro ativo na questão quantidade mínima de compra, prazo de validade e prazo de entrega, quando importado.

No contrato serviço, em que o cliente envia tudo, a embalagem não chega a ser um complicador para o terceirista.

Quando falamos em contrato industrialização, em que o cliente normalmente envia as embalagens, o complicador é que nem sempre o cliente envia essas embalagens em tempo hábil, considerando que normalmente o terceirista só dispara a compra das matérias-primas depois de ter em casa as embalagens enviadas pelo cliente. O resultado é um prazo longo para receber um pedido colocado no terceirista (e não por culpa do terceirista).

Finalmente, no contrato full service, em que a embalagem se torna um grande complicador porque o prazo de entrega normalmente é de 30 dias, mas pode chegar a absurdos 120 a 180 dias, como vemos em alguns fornecedores de bisnaga.

Também é complicada a questão da quantidade mínima de compra de embalagens que os fabricantes exigem, considerando que, quanto maior a quantidade de compra, menor é o preço por milheiro dessas embalagens. É regra do mercado.

Em resumo, colocar um pedido de mil unidades de shampoo num terceirista, por exemplo, vai implicar na compra obrigatória pelo terceirista de pelo menos 5 mil frascos, tampas e conjunto de rótulos. É nessa hora que começa a nascer o descontrole de estoque no terceirista.

Muitos fazem constar em contrato e devolvem as quantidades compradas como lote mínimo e não utilizadas, o que, consequentemente, gera um grande problema para o cliente que normalmente não tem espaço para guardar essas embalagens e, se vai para algum armazém de logística, paga caro pelo espaço/palete.

Enfim, para não cair nessa armadilha, é preciso fazer um pedido de produto acabado, obedecendo os lotes mínimos de embalagem de cada fabricante, ficando o terceirista com a responsabilidade de dar um fim ecologicamente correto para possíveis embalagens com defeito ou que tenham sido danificadas durante o processo de envase.

Como resultado do complicador que a embalagem pode ser no processo de terceirização, temos terceiristas com mais da metade da sua fábrica dedicada ao armazenamento de embalagens de clientes, e o que é pior: muitos fizeram apenas uma ou duas compras. Por uma razão ou por outra sumiram, deixando o abacaxi na mão do terceirista.

Na escolha do tipo de contrato, além do grande diferencial de impostos entre um e outro, fica o alerta para a possibilidade da embalagem vir a ser um grande complicador.



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