Mercado

Desigualdade de gênero

Setembro/Outubro 2017

Carlos Alberto Pacheco

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Carlos Alberto Pacheco

Fala-se muito nas maravilhas da Quarta Revolução Industrial (4RI), mas há difi culdades agachadas que começam a sair das sobras deste futuro que já entrou pelas nossas portas. Uma delas diz respeito às lacunas de gênero no mercado de trabalho.

Entre as várias agendas organizadas pelo Fórum Econômico Mundial realizado no final de 2016, uma aponta para uma tendência preocupante: 118 anos, no atual ritmo, é o que precisaremos para estabelecer uma paridade econômica de gênero em âmbito mundial.

O ritmo acelerado das mudanças tecnológicas que abrangem os mundos físicos, digitais e biológicos afetará o papel das mulheres na economia, na política e na sociedade? Antes de respondermos a dúvida, vejamos alguns argumentos.

Para começar, a perspectiva é de que a 4RI crie 2 milhões de empregos contra a extinção de 7,1 milhões entre 2016 e 2020, deixando assim um saldo de 5,1 milhões de desempregados num período de 4 anos. Ao lado da China e da Índia, o Brasil é um dos países com maior risco de desemprego em massa. O ano de 2020 está em nosso quintal e não é mais uma realidade tão distante.

Uma questão importante a considerar é se as profissões dominadas por mulheres ou por homens estão mais suscetíveis a serem automatizadas, ou seja, se irão desaparecer. O relatório “Future of Jobs”, produzido por este mesmo Fórum, indica que as perdas signifi cativas de empregos poderão abranger ambos os gêneros. Se, por um lado, há maior tendência ao desemprego por causa da automação em setores dominados por homens, tais como manufatura e construção civil, os crescentes recursos de inteligência artificial e a capacidade de digitalizar as tarefas nas indústrias de serviço indicam que uma ampla gama de empregos está em risco, desde posições em call centers em mercados emergentes (a fonte de subsistência de um grande número de jovens trabalhadoras) até as funções administrativas e no varejo das economias desenvolvidas (fonte de emprego
importante para mulheres de classe média baixa).

Perder o emprego causa efeitos negativos em muitas circunstâncias, mas o efeito cumulativo de perdas significativas em categorias inteiras que tradicionalmente garantem o acesso das mulheres ao mercado de trabalho é motivo para uma grave preocupação. Especificamente, isto colocará em risco famílias com um único rendimento chefiadas por mulheres pouco qualificadas, achatará os ganhos totais das famílias com dois rendimentos e aumentará as já preocupantes lacunas de gênero em todo o mundo.

Mas e as novas funções e categorias de trabalho que surgem com a 4RI? Que novas oportunidades podem existir para as mulheres em um mercado de trabalho transformado? Embora seja difícil mapear as competências e as habilidades esperadas em indústrias que ainda não foram criadas, podemos presumir de forma razoável que irá aumentar a demanda por habilidades que permitam aos trabalhadores projetar, construir e trabalhar ao lado de sistemas tecnológicos, ou em áreas que preencham as lacunas deixadas por essas inovações tecnológicas.

Levando em conta que os homens ainda tendem a dominar a ciência da computação, a matemática e a engenharia, o aumento da demanda por habilidades técnicas especializadas pode exacerbar as desigualdades de gênero. Ainda assim, poderá haver um aumento de demanda por funções que as máquinas não conseguem realizar e que dependem de características intrinsecamente humanas e capacidades como a empatia e a compaixão, atividades exercidas majoritariamente por mulheres.

Toda esta disparidade de gênero faria com que os benefícios que a diversidade de gênero já nos concedeu retroagissem, pois é sabido e notório que empresas com equilíbrio de gênero são mais criativas e eficientes. Nem tudo são flores.

Em 2030, a população de mulheres entre 25 e 59 anos deverá corresponder a um quarto da população brasileira, ou seja, cerca de 28,7 milhões de mulheres procurando o seu lugar ao sol no mercado de trabalho em um mundo onde as oportunidades poderão não estar se abrindo com mais facilidade do que hoje. Atualmente, a média salarial nacional do gênero feminino é 35% inferior à masculina, e a Taxa de Atividade (população feminina economicamente ativa / população feminina em idade ativa) é de 58%, enquanto a do homem é de 80%, apesar da escolaridade da mulher (6,4 anos) ser maior que a do homem (5,3). Infelizmente, até o momento não temos políticas claras para uma diminuição da desigualdade de gênero, seja para o presente, seja para o futuro.

Apesar de não podermos prever os diferentes impactos da 4RI nos homens e nas mulheres de um futuro próximo, deveríamos aproveitar a oportunidade de uma economia em transformação para redesenhar as políticas laborais e as práticas comerciais e garantir, assim, que homens e mulheres atinjam o tão sonhado bem-estar social.



Outros Colunistas:

Deixe seu comentário

código captcha

Grato Aguiar. O objetivo era este mesmo: atentar para a problemática e indicar o seu lado mais frágil - o gênero feminino. Se fosse incluída a variável raça, veríamos dados mais alarmantes para o gênero feminio/negra. Sds.

por Pacheco 26/09/2017 - 17:53

Novos Produtos