Manipulação Cosmética

Terapia individualizada: será mesmo?

Maio/Junho 2017

Luis Antonio Paludetti

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Luis Antonio Paludetti

Recentemente, eu tenho visto muita gente falar sobre terapia individualizada. Então tomei um café e coloquei a cabeça para pensar: até que ponto esse lance de terapia individualizada em farmácias com manipulação é individualizado mesmo?

Então, vamos lá. O primeiro passo para entendermos isso tudo é conceituar o que é terapia individualizada e seu contraponto, a medicina baseada em evidência.

Em 1966, o pesquisador David Sackett definiu como princípios da medicina baseada em evidência “o uso consciente, explícito e criterioso das melhores evidências na tomada de decisões para o tratamento de pacientes individuais. A prática da medicina baseada em evidência significa integrar a experiência clínica individual com as melhores evidências clínicas externas disponíveis na pesquisa sistemática”. Em outras palavras, as diretrizes clínicas devem servir como suporte para que o clínico possa estabelecer a
melhor terapêutica para um paciente individual.

Já a terapia individualizada compreende a examinação curativa, reabilitativa e preventiva, bem como tratamentos personalizados para um indivíduo em particular para, então, proporcionar uma abordagem integral e integrativa. A terapia individualizada tem como fundamento que a doença, seu curso e a resposta ao tratamento dependem não só de fatores relativos ao indivíduo, como a sua idade, o gênero e sua herança genética, mas também como de fatores ambientais, como seu estilo de vida, suas crenças e sua condição social. Para tanto, a terapia individualizada divide os pacientes em subgrupos clínicos relevantes.

Espera aí. Quer dizer então que a terapia individualizada não é para um indivíduo, mas sim para um grupo de indivíduos?

Isso mesmo! De fato, o conceito de terapia individualizada nada mais é que uma “estratificação que individualiza” a intervenção generalizada em uma intervenção específica para um determinado grupo.

Isso nos leva a pensar sobre o que realmente as farmácias fazem no que se refere à terapia individualizada. Será que o simples fato de manipular o medicamento torna a terapia individualizada? Será que podemos ir além do “individualizado” e evoluir para o
“personalizado”?

Para tanto, vamos imaginar uma situação hipotética simples, mas totalmente verossímil: um médico prescreve um determinado fármaco para o tratamento da psoríase por via tópica e adota um creme base como veículo da preparação.

O paciente, então, leva a prescrição até a farmácia que fará o preparo da formulação.

Ao recepcionar a fórmula, a farmácia verifica a dosagem (que está dentro das doses usuais), verifica as quantidades a serem preparadas e faz o orçamento.

Uma vez aprovada, a prescrição será enviada ao laboratório, e os componentes serão pesados.

Provavelmente, o fármaco será levigado ou solubilizado com um levigante ou solvente “padrão” e incorporado a um creme base de uso geral, disponível entre as bases dermatológicas prontas na farmácia.

Como podemos ver, neste tipo de rotina, nada (mas nada mesmo) é personalizado - nem sequer é individualizado.

A meu ver, para que esse medicamento fosse personalizado de fato, a rotina deveria ser a seguinte:

O médico verifica a condição do paciente e, com base nas evidências científicas e na sua experiência clínica, prescreve um fármaco em uma dose específica para a necessidade do paciente e utiliza como veículo um creme que seja o mais efetivo e benéfico à sua condição que lhe cause os menores transtornos possíveis (por exemplo, que o creme não contenha componentes que irritem a pele). Opcionalmente, o médico poderia solicitar que a escolha do veículo fosse feita pela farmácia.

Ao recepcionar a formulação, o farmacêutico consulta expressamente o paciente sobre suas necessidades, seu modo de vida etc. e, então, escolhe uma técnica de preparo adequada a ele (com solventes ou levigantes que não causarão irritação ou agravamento da lesão) e um creme base compatível com a condição clínica do paciente.

É um paradoxo que os estabelecimentos farmacêuticos que se destinam a personalizar os medicamentos estejam cada vez mais adotando a “padronização” em todas as suas frentes, como, por exemplo, padronização de excipientes, padronização de veículos, padronização de aromas, padronização de atendimento e assim por diante.

Em outros artigos, eu pretendo conversar com vocês sobre como poderíamos fazer mais terapia personalizada. Eu proponho que a farmácia com manipulação deixe de utilizar o termo “terapia individualizada” apenas como uma estratégia de marketing ou como um “nome bonitinho”, para abraçarmos, como competência e dedicação, a terapia personalizada.

Nossos pacientes irão agradecer.



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