Boas Práticas

Desconhecimento e desinteresse

Maio/Junho 2017

Carlos Alberto Trevisan

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Carlos Alberto Trevisan

Possivelmente, o desconhecimento dos benefícios justifique o desinteresse que muitas pessoas, especialmente aquelas em posição de comando dentro das organizações, têm pela Qualidade. A razão de eu abordar o tema vem de insights surgidos durante minha participação em inúmeros eventos sobre o assunto.

Em algumas das várias apresentações que tive oportunidade de fazer, indagações de participantes dirigidas a mim indicaram que os inquiridores não possuíam embasamento prático-teórico mínimo sobre os conceitos da Qualidade. Existe a falsa crença de que todos nós temos a noção do que significa “qualidade” – de que sabemos o que certo e o que é errado – e, portanto, de que nada mais precisa ser feito para que a Qualidade aconteça. Faço essa afirmação com base no seguinte questionamento que me foi apresentado em palestra recente, realizada em uma das capitais do Brasil.

- Por que a Qualidade custa tanto?

Minha resposta foi esta: deve-se considerar que Qualidade é um investimento, pois os resultados obtidos sempre proporcionam à empresa uma melhor imagem dos produtos e o atendimento da expectativa dos clientes.

Além disso, há necessidade de saber o que motiva a empresa a se interessar pela Qualidade. Será que é por imposição da legislação sanitária ou, o que seria mais louvável, por visualizar uma melhoria do seu produto junto aos olhos dos clientes?

Independentemente da razão de a empresa se interessar pela Qualidade, o investimento na Qualidade, se for efetuado da forma correta, trará retorno garantido, traduzido em muitos benefícios para a empresa e para os produtos.

Outra observação que sempre faço é que, infelizmente, nos eventos do setor, é raro serem abordados temas da Qualidade em comparação a temas sobre novas matérias-primas, com enfoque em ativos, às vezes, “milagrosos”.

Muitas vezes me questiono sobre quais são as razões do desinteresse sobre o tema Qualidade. Essa falta de interesse acontece embora se saiba que, sem Qualidade, a empresa vai perceber, mais cedo ou mais tarde, que seu mercado está diminuindo e que, quando isso acontecer, ela vai tentar recuperar sua participação no mercado, mas talvez seja tarde.

O desinteresse pela Qualidade decorre também da ignorância sobre as formas de implantar os processos da Qualidade.

Muitos empresários pensam que essa implantação é simples e rápida, e que qualquer profissional está apto a fazê-la. Mas, ao serem informados dos requisitos necessários para a implantação do processo da Qualidade e, principalmente, dos requisitos quanto ao fator humano, eles acabam desistindo. Muitos deles desistem no início do processo de implantação, ou antes de começá-lo, e outros, infelizmente, desistem algum tempo após iniciá-lo. Estes últimos sofrem prejuízos financeiros e prejuízos causados pela frustração de expectativa dos colaboradores que porventura tenham se comprometidos com o processo.

Nas minhas palestras sobre motivação, sempre alerto para o fato de que quem faz a Qualidade são pessoas. Esse pode parecer um chavão, um clichê, mas o fato é que, sem a efetiva participação dos funcionários ou colaboradores ou, mais modernamente, dos parceiros, a implantação de qualquer processo, e principalmente, do da Qualidade, será fantasiosa e existirá apenas no papel.

Uma estatística particular, que fiz em meu trabalho de consultoria na área da Qualidade, nesses quase 20 anos de atuação, é a seguinte: de cada 10 empresas que se propõem a implantar o processo da Qualidade, 6 interrompem nos primeiros 18 meses da implantação.

Espero que tenha ficado claro ao leitor que o desconhecimento pode trazer o desinteresse pela Qualidade.



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