Mercado

4ª Revolução industrial

Maio/Junho 2017

Carlos Alberto Pacheco

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Carlos Alberto Pacheco

Os historiadores costumam classificar as revoluções industriais em três partes. A 1ª, de 1780 a 1830, foi marcada pela aplicação massiva do uso do vapor, principalmente nos teares das indústrias têxteis e depois nas locomotivas. A 2ª, de 1870 a 1930, teve como principal característica o largo desenvolvimento da indústria metalúrgica e química, tendo como base a eletricidade e o petróleo como fontes energéticas. Por último, de 1970 em diante, consolidou-se a 3ª, com o avanço da eletrônica, sendo o computador seu símbolo máximo, ao lado das inovações biotecnológicas desta época.

No entanto, os economistas começam a discutir um marco para uma 4ª Revolução Industrial (4RI). Da mesma maneira que as demais colocaram países em vantagens competitivas e levaram outros ao ostracismo, seja pelo fato de serem obtusos na forma de enxergarem os tempos em que viviam, seja pela incapacidade de absorver as mudanças, a 4RI, se bem aproveitada, também pode modificar a geopolítica tecnológica. Mas o que vem a ser a 4RI?

Não se trata de um simples desdobramento de tecnologias anteriormente existentes, mas um “encontro destes desdobramentos produzindo uma nova realidade”. Desta forma, ela não é marcada por uma nova tecnologia, como foram o vapor, a eletricidade ou a eletrônica, mas sim pela transformação que a era eletrônica nos trouxe - a transformação digital. O suporte a esta ideia baseia-se na velocidade, no alcance e no impacto sem precedentes que o conjunto destas transformações nos causa. Exemplo: sistema de inteligência artificial governando máquinas de cirurgia cardiovasculares automatizadas, moldando implantes produzidos em impressoras 3D sob medida e just-in-time, ao mesmo tempo em que administram precisas drogas de nanofármacos, assistida por um grupo de médicos espalhados em várias partes do mundo. É disto que estamos falando: tudo junto e ao mesmo tempo – base de dados, robótica, biotecnologia, engenharia. Nada de novo, tudo já existente, mas organizado de uma nova forma.

Em razão disto, paralelamente ao WEF (World Economic Forum), há mais de 10 anos um grupo de vários expoentes da sociedade discutem os riscos mundiais mais prováveis e os maiores impactos na sociedade mundial nos próximos dez anos. Entre os vários riscos mapeados, está o “Risco Tecnológico”. Dentro deste grupo, existe a variável “Consequências
negativas dos avanços tecnológicos”, que tem como definição“ as consequências pretendidas ou não intencionais causadas pelos avanços tecnológicos, tais como a inteligência artificial, biologia sintética e de geo-engenharia, causando danos humanos, ambientais e econômicos”.

Apesar de longe dos olhares do cidadão comum, os novos poderes das novas tecnologias virão da engenharia genética e das neurotecnologias que já ardem nos porões dos países de tecnologia de ponta e fortes economias.

O assunto ganhou tamanha prospecção que mereceu um capítulo à parte no relatório do ano de 2017, em que acaba explorando com mais detalhes o relacionamento entre os demais riscos globais e as tecnologias emergentes da 4RI. Onde se encontra o sapo do desconforto nesta floresta de oportunidades?

Diferente do cenário político que embalou as três revoluções anteriores, em um mundo globalizado, há a necessidade de uma governança neste assunto. Com a aplicação do vapor nos teares têxteis, a Inglaterra não precisou da benção da comunidade internacional para desenvolvê-los. No início do século XX, as indústrias químicas americanas não tinham o peso das leis ambientais que existem hoje. Nos primórdios do boom do Vale do Silício, nem sindicatos existiam com leis que controlavam o home office. Estas novas tecnologias demandam urgentemente uma governança se vamos construir regras, normas, padrões, incentivos, instituições e outros mecanismos que são necessários para moldar o desenvolvimento e a implantação dessas tecnologias. O fato é que a inércia para estabelecer a governança poderá chegar tarde frente às novas tecnologias, expondo-nos a seus riscos, ou irá emperrar os seus aproveitamentos. Atualmente já enfrentamos assimetrias na regulamentação de tecnologias emergentes, que vão do extremo rigor (ex.: produtos biotecnológicos farmacêuticos) até o quase descaso (ex.: o uso das inteligências artificiais). No entanto, é a velocidade com que se estabelece a governança para as novas tecnologias, ou a velocidade com que se avança sem o respeito a uma governança mínima, que faz o eixo geopolítico oscilar ou mudar de vez.

Administrar as novas tecnologias é um desafio mais complicado e impactante para o mercado de trabalho do que os efeitos deletérios da globalização. A cada mudança tecnológica, velhos postos de trabalho deixam de existir e, ao mesmo tempo, outros surgem, porém em quantidades de oportunidades menores.

Estas são janelas de oportunidades que podem alavancar a posição econômica de um país ou... levá-lo às trevas.



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