Embale Certo

Teste de compatibilidade

Maio/Junho 2016

Antonio Celso da Silva

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Antonio Celso da Silva

O tema central desta edição é a estabilidade de produtos, o que já me faz começar esse texto com um esclarecimento aqui necessário.

O que é na verdade essa estabilidade? É um teste, ou melhor, uma série de testes necessários e exigidos pela Anvisa para a regularização do produto, nos quais a indústria faz simulações e submete o produto a condições análogas às que estarão nos diversos tipos de PDV (ponto de venda), seja qual for o canal de venda em que a empresa opera.

Os produtos também são submetidos a temperaturas severas de transporte - dentro de um caminhão baú, por exemplo, ou mesmo em uma vitrine de loja com luz natural ou com incidência direta da luz do sol.

É sabido que no canal de venda porta a porta (venda direta) o produto fica menos exposto a condições drásticas se comparado com o canal varejo (perfumarias, farmácias etc.). Isso não muda as condições de laboratório em que os produtos são testados. O teste é padronizado em condições que simulam temperaturas maiores, como no Nordeste (estufa), e temperaturas menores, como no Sul (geladeira), além da tradicional temperatura ambiente e também da janela, até porque é comum o consumidor manter seus produtos em janelas de banheiro, principalmente shampoos e outros produtos capilares.

É importante ressaltar também que o teste de estabilidade visa acima de tudo determinar o prazo de validade do produto.

Em resumo, esse é o teste de estabilidade é feito a partir do bulk (produto fabricado e ainda não envasado) colocado em um pote de vidro de aproximadamente 250 gramas ou em quantidade suficiente para a realização dos testes, principalmente quando se trata de um teste de viscosidade, que requer uma quantidade maior.

Voltando ao esclarecimento que citei no início desse texto, vamos falar de testes, porém daqueles que são feitos nas embalagens, especificamente nas primárias, aquelas que entram em contato direto com o produto.

Esse teste denominamos compatibilidade, pois trata da observação de reações que podem ocorrer no produto ou mesmo na embalagem pelo contato de um com o outro.

Mas o que exatamente pode ocorrer numa incompatibilidade produto/embalagem? Na verdade, essa incompatibilidade pode ser química ou mesmo física. Por exemplo, quando o produto migra através da embalagem, isso mostra que ele passou pela sua parede, o que não deveria ocorrer. Mas por que isso acontece?

Esse fenômeno não se dá em embalagens de vidro, mas sim nas plásticas, porque o plástico e a resina plástica têm, em suas paredes, poros parecidos com os da nossa pele. Alguns tipos de plásticos têm esses poros mais abertos; outros, mais fechados. Essa migração ocorre quando esses poros são mais abertos, o que indica que o produto deve ser colocado em um tipo de plástico que tenha esses poros mais fechados. Nesse quesito, o PET é o mais indicado e o mais usado se comparado com o PEAD (polietileno de alta densidade), também muito utilizado.

Uma comprovação da existência desses poros nas embalagens plásticas pode ser observada dentro das fábricas que fazem decoração (silk screen, por exemplo). Antes de aplicar a tinta na superfície da embalagem, é necessário realizar uma flambagem, ou seja, fazê-la passar na frente de bicos de gás, onde o aquecimento dilata os poros, facilitando a penetração da tinta e melhorando sua fixação.

Uma incompatibilidade clássica que podemos destacar é a existente entre o óleo mineral contido em bronzeadores e óleos de banho e as embalagens PEAD.

Por outro lado, a incompatibilidade química também acontece, e talvez a mais clássica seja o uso de bandeja de folha de flandres em um pancake. Isso porque, para aplicar o pancake, a consumidora umedece a esponja e a movimenta sobre o produto. A oxidação (ferrugem) da bandeja ocorrerá gradativamente devido ao contato com a água. Nesse caso, deve-se usar uma bandeja de alumínio, que é um pouco mais cara, mas não oxida.

A experiência do técnico de embalagem ou do profissional de desenvolvimento de produto é fundamental para evitar essas clássicas incompatibilidades, porém isso não elimina a necessidade de sempre executar o teste de compatibilidade.

Ele deve ser feito depois do desenvolvimento do produto e da definição do material de embalagem a ser usado. Se houver qualquer alteração na formulação ou no material de embalagem após o início do teste, este deve ser desprezado e refeito imediatamente, contemplando essas alterações.

Vale ressaltar que o teste de compatibilidade não deve ser feito no ato de recebimento dos lotes de embalagens (controle de qualidade), mas sim e apenas no desenvolvimento do produto. No recebimento, deve-se comprovar que o material da embalagem é o descrito na especificação técnica.

As condições de temperatura e ambiente de teste são basicamente as mesmas do teste de estabilidade, porém com o produto dentro da embalagem a ser testada.



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