Tricologia

Cabelos e fotoproteção

Julho/Agosto 2015

Valcinir Bedin

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Valcinir Bedin

Os efeitos nocivos da radiação ultravioleta sobre a pele já foram amplamente estudados e são de conhecimento de todos que trabalham no segmento. A fotodegradação do cabelo se dá pela fotólise, mecanismo no qual a cistina, a tirosina, a fenilalanina e o triptofano absorvem radiação UVB, resultando na formação de radicais livres. Ocorre ainda a cisão das pontes bissulfridicas. O que vemos como resultado são a desidratação dos fios, a redução da resistência à tração, a modificação da textura da superfície, a fragilidade e o clareamento da cor. Tudo como consequência direta da fotodegradação induzida pela radiação UVB.

Com base nestas informações podemos deduzir um fato já comprovado: os cabelos embranquecidos sofrem mais fotodano do que os cabelos escuros naturalmente, levando a um processo maior de envelhecimento dos fios.

Embora a radiação UVA não seja a principal causa dos danos aos cabelos, os cientistas descobriram que a luz visível e a UVA são, em grande parte, responsáveis pelo desvanecimento da cor nos cabelos tingidos.

Em resumo, as radiações UVB e UVA desempenham um papel determinante no fotodano dos cabelos. Esse dano no cabelo pode ser manifestado de diversas formas, inclusive com a perda de cor e diminuição de resistência à tração, a degradação das pontes e um aumento da rugosidade superficial dos pelos. A sensibilização dos consumidores para a fotodano dos cabelos tem aumentado, e o mercado espera por produtos com proteção solar que mostrem resultados de forma mais perceptível visualmente.

À primeira vista, toda a questão de fotoproteção para o cabelo pode parecer irrelevante; no entanto, muitas vezes o paciente consulta o dermatologista para aconselhamento sobre crescimento de fios e problemas com a aparência destes. A fotoproteção dos cabelos é uma parte importante para se manter o valor cosmético da haste do fio.

Apesar de todo estudo com relação ao fotodano capilar estar ainda no seu início, já temos estudos que mostram, por exemplo, que os corantes capilares protegem os cabelos contra este tipo de dano. A eficácia da fotoproteção dada pelos produtos corantes foi medida por meio do monitoramento da resistência à tração e a integridade das pontes bissulfidricas nas fibras. Estudo recente envolveu também a dosagem de proteínas nas hastes pré e pós exposição à radiação ultravioleta.

Pode parecer paradoxal pois, embora os cabelos tingidos sejam inicialmente enfraquecidos devido ao estresse oxidativo causado pelos danos químicos, eles também mostram um ritmo mais lento de degradação pela radiação UV, comparados com os cabelos não tingidos. Assim sendo, apesar de ser uma vantagem teoricamente menor, tingir os cabelos pode ser uma proteção contra danos causados pelo sol.

Uma análise feita por microscopia eletrônica de transmissão de cabelos expostos ao sol revelou danos importantes. Os resultados indicam uma alteração de diversos componentes celulares. Ocorrem danos na cutícula, que podem levar à sua perda. Ocorre ainda a separação das macro-fibrilas e a destruição de pigmentos melânicos, resultando em danos ao córtex. Algumas das mudanças químicas e físicas que ocorrem nos cabelos expostos ao sol foram: formação de grupos carbonila, destruição de cistina, modificação de proteínas obtidas através da redução das pontes bissulfidricas, perdas de força mecânica e descoloração.

Sabe-se, portanto, que as radiações ultravioleta causam alteração nas propriedades dos cabelos. O que se coloca como questão é a quantificação do fator de proteção que um produto para cabelos pode ter. Ao contrário dos protetores para pele, que já têm bem especificado seu mecanismo de ação, aqueles para os cabelos ainda não têm um protocolo formal para medir o quanto ele pode proteger das radiações luminosas.

Foi proposto um mecanismo para se avaliar o quanto de proteção um produto pode ter nos cabelos, chamado de HPF (sigla, em inglês, para Hair Protection Factor, ou, em português, Fator de Proteção do Cabelo), que seria semelhante ao Fator de Proteção Solar (FPS) mas, com relação aos cabelos o que se mede é a resistência à tração antes e depois da aplicação do produto. Por questões regulatórias, este índice ainda não é usado nos produtos capilares.

Finalmente, qual é a melhor maneira de se acoplar um fotoprotetor a um produto para cabelos? Shampoos e condicionadores são os produtos mais comuns que incorporam esta tecnologia ao dia a dia, mas, produtos de estilo, como géis para penteados ou mousses para finalização de penteados, são mais adequados, uma vez que ficam mais tempo em contato com os fios.

Já avançamos muito neste tópico, mas ainda há muito espaço para inovações que podem nos levar à criação de produtos mais tecnológicos, que possam fornecer uma proteção maior para esta parte do corpo muitas vezes negligenciada.



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