Mercado

O que a OCDE tem a nos dizer?

Março/Abril 2015

Carlos Alberto Pacheco

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Carlos Alberto Pacheco

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)* vem, há vários anos, ajudando de diversas formas os governos dos Estados Membros a desenvolverem políticas que resultem em vidas melhores para os seus cidadãos. Há mais de 50 anos, produziu estatísticas de alto padrão, que têm ajudado governos bem-intencionados a entender as forças que movem as mudanças positivas em todas as esferas do bem-estar.

Nos últimos 10 anos, a partir da simples pergunta “nossas vidas estão realmente melhorando?”, descobriu-se que a análise do PIB de um país não é suficiente para medir “o grau de satisfação de vida” de um cidadão. Afirmação curiosa, não? Em geral, partimos da premissa de que, quanto mais dinheiro disponível, maiores as chances de se obter o bem-estar pessoal. Ledo engano! Embora se reconheça a importância da riqueza material na obtenção do bem-estar pessoal, a importância desta variável para a determinação da satisfação varia de cultura para cultura. O que é importante para uma sociedade, não o é necessariamente para outra. As percepções de bem-estar variam também de acordo com outros fatores, como sexo, estado civil, idade, orientação religiosa e doutrina de governo, além de outras variáveis, que, no fundo, podem ser traduzidas como os valores importantes para cada cidadão.

Imbuída deste desafio, a organização determinou 11 dimensões consideradas valores importantes para a natureza humana, como: comunidade, educação, meio ambiente, engajamento cívico, saúde, moradia, renda, empregos, satisfação pessoal, segurança e equilíbrio vida-trabalho. Estas dimensões são medidas por 24 indicadores independentes, que, ponderados e cruzados, dão origem ao indicador “Viver Melhor”.

A diferença deste indicador para os demais é que, além de um indicador geral, ele também pode ser derivado para um indicador individual, no qual você - como indivíduo - escolhe que dimensões quer que componha o seu indicador, baseado na sua escala pessoal de valores, além de permitir também a atribuição de pesos diferentes a cada uma destas dimensões.

A plataforma onde os dados estão livremente disponíveis para consulta permite que, ao ajustar as dimensões e os pesos do seu indicador personalizado, você possa compará-lo entre o seu país de origem e outro Estado Membro.

A seguir, temos um pequeno extrato deste relatório. Vejamos o índice da dimensão “Satisfação Pessoal” do indicador “Viver Melhor”. Como ele é medido? Esta dimensão mensura como as pessoas avaliam sua vida como um todo em vez de seus sentimentos momentâneos. Ela obtém uma avaliação reflexiva de quais condições e circunstâncias da vida são importantes para o bem-estar subjetivo. Quando solicitadas a classificar sua satisfação geral com a vida em uma escala de 0 a 10, as pessoas dos Estados Membros da OCDE lhe atribuíram um índice médio de 6,6. No Brasil, a pesquisa indica que este índice é 8,1. Note que nosso índice está situado entre os obtidos pelos Estados de Luxemburgo (7,9) e Nova Zelândia (8,4) e é superior aos obtidos em Estados como Alemanha (7,5), França (6,4) e Japão (4,1). Podemos perceber, portanto, que não existe uma relação direta entre “Satisfação Pessoal” e PIB, uma vez que o PIB de qualquer um destes Estados é superior ao do Brasil.

Por outro lado, nosso índice da dimensão “Segurança” perde feio para os demais Estados. Este indicador é medido pelas taxas de agressão e de homicídios e pela percepção do temor ao crime. Enquanto o índice aponta para 9,3 na Nova Zelândia e 8,4 em Luxemburgo, no Brasil este indicador é de 2,2, ficando à frente apenas do México, com 0,4. O mesmo acontece com o índice da dimensão “Educação”, já que apenas 43% da população entre 25 e 64 anos tem pelo menos uma graduação superior. Como referência, aponto o Chile, com 73% da população entre 25 e 64 anos com pelo menos uma graduação superior.

O indicador também permite realizar comparações entre a vida de homens e mulheres, assim como entre aqueles situados no mais alto e no mais baixo degrau da escala econômica e social, além de muitos outros cortes e relacionamentos entre os vários indicadores.

Como se pode observar, os dados estão disponíveis e as ideias, lançadas e testadas em economias de Estados mais desenvolvidas do que o nosso. O que falta talvez seja um poder político mais forte e focado no bem-estar social com o intuito de enveredar ações mais assertivas no desenvolvimento social do Brasil.



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