Manipulação Cosmética

Brincadeira de criança

Setembro/Outubro 2014

Luis Antonio Paludetti

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Luis Antonio Paludetti

Quem nunca brincou com um brinquedo de montar? Em casa, na escola ou com os filhos (quando voltamos a ser crianças), a maioria de nós já teve essa experiência.

Neste universo, dois brinquedos se destacam: o Lego e o Playmobil. Sem querer fazer juízo de qual deles é o melhor (poderíamos ficar aqui por páginas e páginas sem qualquer conclusão), certamente podemos afirmar que eles são essencialmente diferentes.

O Lego geralmente é composto por blocos encaixáveis com os quais você pode criar infinitas formas, exercitando bastante a sua criatividade e sua imaginação. Eventualmente, personagens e cenários podem ser colocados no jogo.

Já o Playmobil é composto por cenários e personagens com os quais se pode criar infinitas histórias, exercitando bastante a imaginação e a criatividade.

Resumidamente, com o Lego você cria do zero e, com o Playmobil, você imagina a partir de cenários.

Professor, alguém lhe falou que esta é uma coluna sobre manipulação dermatológica e não sobre brinquedos?

Então tá. Vamos relacionar as coisas.

Nas farmácias magistrais, frequentemente somos solicitados a manipular produtos dermatológicos, para os quais temos que combinar fármacos com veículos apropriados, que atualmente denominamos de bases dermatológicas.

Da mesma forma que os brinquedos de criança, as bases dermatológicas podem ser divididas em “bases Lego” e “bases Playmobil”.

As “bases Playmobil” são aquelas bases prontas, que a farmácia já compra de distribuidores ou fabricantes, algumas vezes também chamadas de bases concentradas.

As “bases Lego” são aquelas produzidas pela própria farmácia, com componentes que ela combina conforme sua necessidade e competência; essas bases também são denominadas bases próprias.

Basicamente, os dois tipos servem bastante bem à finalidade desejada, qual seja, um veículo para incorporação de fármacos ou ingredientes cosméticos prescritos por um médico.

Mas, quando se analisa melhor, vemos que os dois tipos de base, apesar de terem a mesma finalidade, têm papéis diferentes.

As bases concentradas devem ser utilizadas tal e qual se apresentam e geralmente permitem apenas a adição de água, algum solvente compatível e os fármacos. Da mesma forma que o Playmobil, essas bases oferecem diferentes cenários (aniônico, não iônico, loção, gel, shampoo, condicionador etc.) nos quais o farmacêutico pode incorporar diversos ativos. Para fazer isso, ele deve conhecer a natureza dos ativos e os componentes da base, de modo a tornar mínima a possibilidade de interações e incompatibilidades. Estas bases atendem a um grande leque de possibilidades e permitem manipular o medicamento com praticidade, eficiência e redução de custos.

Mas e se você quiser brincar com uma história diferente? Por exemplo, se você comprou o Playmobil do Hospital, provavelmente não conseguirá usar os mesmos cenários e personagens para brincar com o Playmobil dos Bombeiros.

Ou seja, as bases concentradas circunscrevem a sua criatividade para os limites para os quais foram criadas, não permitindo muita personalização ou individualização. Por exemplo, se você quiser transformar uma base não iônica em uma base com toque seco (ou vice-versa), poderá até adicionar alguns componentes, mas o resultado não será o melhor possível. Caso você queira um creme aniônico com toque seco, terá que comprar a base específica.

Do outro lado, as bases próprias podem ser montadas conforme a farmácia necessita. Utilizando o mesmo conceito dos blocos de montar, uma base própria pode ser pensada para atender a uma demanda específica de uma farmácia, respeitando as características regionais e individuais da terapia. Por exemplo, podemos preparar uma base isenta de conservantes ou isenta de ésteres ou derivados de lanolina e ainda assim ter excelentes características reológicas e sensoriais. Essas bases também podem ser deixadas prontas para uso posterior, conforme a legislação vigente, e podem também ser aditivadas para melhorar suas características reológicas e sensoriais. Como se sabe a sua composição qualitativa e quantitativa, ficamos totalmente seguros para incorporar quaisquer ativos que desejarmos. A desvantagem é que, se você quiser guardar estas bases, terá de providenciar alguns testes de estabilidade.

Em suma, com as bases prontas temos muita praticidade, mas limitamos a nossa criatividade; com as bases próprias exercitamos nossa criatividade, mas perdemos um pouco em praticidade.

Hoje, algumas empresas fornecem bases dermatológicas prontas realmente diferenciadas, que podem trazer muitas vantagens na individualização de terapias e que podem – e devem – ser utilizadas. Por outro lado, será que vale a pena comprar bases convencionais – e ter suas bases idênticas a de tantas outras farmácias concorrentes?

A melhor ideia neste caso é fazer como as crianças: vamos juntar o Lego e o Playmobil e brincar com os dois?



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