Manipulação Cosmética

Rolling Stones

Julho/Agosto 2014

Luis Antonio Paludetti

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Luis Antonio Paludetti

Start me up! Quem nunca ouviu os primeiros acordes desse enorme sucesso da banda de rock inglesa? Bem, se você for da geração Z ou não gostar de rock´n´roll, talvez não tenha escutado.

“Start me up” pode ser traduzido como “dar a partida”, com o sentido de se iniciar algo. E, ao que parece, muitas coisas estão “estartando” no Brasil.

Recentemente, em junho, ao visitar uma feira do setor magistral, encontrei alguns colegas que há muito militam neste segmento, e vários deles estavam preocupados com uma certa “monopolização” do setor.

Comecei, então, a investigar o fato. Percebi que há muito mais coisas “rolando” no mundo farmacêutico, e que, apesar de não estarem aparentemente relacionadas ao segmento magistral, podem afetá-lo consideravelmente. Uma dessas coisas é a recente aquisição de uma grande rede de drogarias brasileira por uma grande rede norte-americana.

Segundo informações que recebi, o grupo está finalizando uma análise sobre o mercado brasileiro para se adaptar às suas particularidades e então iniciar uma nova etapa no varejo farmacêutico em nosso país.

O CFF (Conselho Federal de Farmácia), na Resolução nº 357/2001, define os serviços farmacêuticos como aqueles “de atenção à saúde prestados pelo farmacêutico.”

Entretanto, a Organização Pan-americana da Saúde (OPAS) nos oferece uma definição mais interessante: “grupo de prestações relacionadas com medicamentos, destinadas a apoiar as ações de saúde que demanda a comunidade através de uma atenção farmacêutica que permita a entrega dos medicamentos a pacientes hospitalizados e ambulatoriais, com critérios de qualidade da farmacoterapia. São partes integrantes dos serviços e programas de saúde, representam um processo que abarca a administração de medicamentos em toda e cada uma de suas etapas constitutivas, a conservação e controle de qualidade, seguridade e eficácia terapêutica dos medicamentos, o seguimento e avaliação da utilização, a obtenção e divulgação da informação sobre medicamentos e a educação permanente dos demais membros do grupo de saúde, o paciente e a comunidade para assegurar o uso racional de medicamentos.”

Como vemos, o conceito da OPAS abrange todos os serviços relacionados ao medicamento, como controle de qualidade, armazenamento, seguimento e avaliação da sua utilização.

Aparentemente, esta rede norte-americana investirá profundamente naquilo que denominamos “serviços farmacêuticos.”

Os primeiros passos incluem a qualificação dos farmacêuticos (incentivando, exigindo e patrocinando pós-graduações em farmácia clínica) e a implementação de consultórios farmacêuticos em suas lojas. Sistemas altamente informatizados serão adotados para implementar o perfil farmacoterapêutico e dar o devido seguimento.

Isso, ao que parece, é uma guinada na forma de tratar o varejo farmacêutico no Brasil.

Historicamente, as drogarias – sejam elas de que tamanho forem – não se preocuparam em investir em serviços farmacêuticos; pelo contrário, tentam de todas as maneiras expurgar os profissionais e seus serviços. Infelizmente, ainda há no Brasil a mentalidade de que o farmacêutico “atrapalha” as vendas - um conceito ultrapassado e que não encontra respaldo em nenhum outro país. Nesses países, o farmacêutico é valorizado profissional e financeiramente, sendo que seu trabalho auxilia a fidelizar clientes, aumentando o lucro das drogarias, e possibilita uma farmacoterapia de alta qualidade.

E como isso afeta o segmento magistral?

O segmento magistral se caracteriza basicamente por prestar serviços farmacêuticos bastante diferenciados das drogarias. O farmacêutico – sempre presente e disponível para o atendimento – orienta, auxilia e informa seus pacientes e os prescritores. Como o preço dos medicamentos manipulados nem sempre é menor que o dos industrializados, o serviço farmacêutico é o que fideliza e motiva os pacientes a procurar a farmácia magistral.

Em um cenário no qual as drogarias passem a prestar um serviço farmacêutico diferenciado – e é provável que, se uma grande rede der o “start” no conceito, as pequenas também o farão –, as farmácias magistrais terão de investir ainda mais em qualificação, organização e informatização para continuar sendo diferentes.

E, se você está no varejo farmacêutico, por que não pensar também em entrar no segmento magistral? É bastante provável que, após se estabelecer no varejo, estas grandes redes também comecem a se expandir ou incorporar os serviços de manipulação.

Os próximos meses revelarão como esta dinâmica de mercado se dará. É possível que outras empresas norte-americanas ou europeias também entrem na dança, revolucionando o cenário farmacêutico nacional.

Parece que um novo baile vai começar. E, nesse baile, muita coisa nova vai rolar. Afinal, como diz a canção dos Stones, “Eu te levarei a lugares que você nunca, nunca viu”.



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