Temas Dermatológicos

Estrias e gravidez

Julho/Agosto 2014

Denise Steiner

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Denise Steiner

As estrias desenvolvem-se em até 90% das mulheres durante o sexto e o sétimo mês da gestação, sendo que 43% das pacientes desenvolvem antes de 24 semanas de gestação. Sua etiologia é desconhecida até o momento, e há poucos trabalhos sobre o assunto. Elas surgem em uma variedade de circunstâncias, algumas envolvendo o estiramento físico da pele – como grandes aumentos de peso ou estirão de crescimento do adolescente – e outras associadas a alterações hormonais decorrentes do uso crônico de esteroides ou da síndrome de Cushing. Na gravidez, dois fatores principais parecem estar relacionados ao seu surgimento. O primeiro é o condicionamento da pele pelo nível aumentado de estrógeno e relaxina. Estes hormônios aumentam a produção de colágeno e mucopolissacarídeos – substâncias que, na derme, atraem a água, que, por sua vez, atua para diminuir as forças de coesão entre o colágeno e as fibras, levando à separação fácil. O segundo fator é o alongamento físico sobre a derme, causando interrupções no colágeno. São encontradas mais em mulheres que ganham muito peso e nas mais jovens. Parece haver também uma predisposição genética para o problema, que também depende da história pessoal e da raça.

As estrias são lesões lineares, mais frequentemente encontradas em regiões de mamas, abdômen, quadris e coxas. Esta localização depende, em parte, da circunstância em que elas se desenvolveram. Por exemplo, levantadores de peso estão mais propensos a apresentar estrias nas axilas e nos braços, enquanto gestantes tendem a sofrer com o problema especialmente no abdômen e nas mamas.

Elas começam como lesões avermelhadas e roxas, e, ao longo do tempo, perdem pigmentação e ficam atróficas. Ocasionalmente, são pruriginosas.

Nenhuma terapia comprovou definitivamente sua eficácia na prevenção de estrias durante a gravidez. As tentativas contemplam massagens com óleo de oliva, cremes emolientes com vitamina E, vitamina C, manteiga de cacau, loção de aloe vera e uso de vitaminas e sais minerais. Algumas terapias não convencionais incluem aplicação de óleo de castor, algas, ácido glicólico tópico, frutas ácidas/alcalinas e cremes homeopáticos e/ou óleos. No entanto, nenhuma destas foi comprovada por grandes estudos prospectivos. Evidências limitadas sugerem que dois tratamentos tópicos podem ajudar a prevenir estrias. Um contém extrato de centella asiática mais alfa-tocoferol e hidrolisado de colágeno e elastina. O outro tratamento apresenta tocoferol, ácidos graxos essenciais, pantenol, ácido hialurônico, elastina e mentol. No entanto, estes produtos são amplamente disponíveis, e a segurança do uso de centella asiática e os componentes responsáveis por sua eficácia durante a gravidez não está totalmente clara. Um sucesso pessoal de um médico na prevenção de estrias em todas suas pacientes gestantes usando a combinação de zinco, ácido ascórbico, piridoxina e óleo de linhaça é fascinante, porém merece um estudo prospectivo controlado para avaliar esta observação.

O tratamento de estrias pós-parto inclui tretinoína tópica (considerado categoria C pelo FDA e de segurança desconhecida na amamentação) e procedimentos a laser (585 nm, pulsed dye laser), além de peelings com ácido retinoico e baixas concentrações de ácido tricloracético (15-20%). Atualmente, outras terapias incluem o uso de luz intensa pulsada em estrias avermelhadas; lasers fracionados (1540 nm) e luz com emissão de UVB (por exemplo, excimer laser 308 nm) em estrias brancas; além de excisão cirúrgica com abdominoplastia nos casos associados à flacidez da pele.

Com comprovação científica, os emolientes são produtos seguros e de fundamental papel na prevenção de estrias, já que aumentam a umidade da pele e podem modificar as propriedades mecânicas das indesejadas marcas. Para a hidratação da pele, existem duas formas: a ativa, com substâncias que formam o fator natural de umectação (por exemplo, lactato, ácido pirrolidônico e ureia), e a passiva, com compostos emolientes e oclusivos (glicerina, vaselina, óleo mineral, silicones, lanolina, sorbitol etc.). Destes produtos o mais controverso em relação à gestação é a ureia. Seu uso via intra-amniótica tem sido relacionado à indução de aborto. No entanto, não há nada descrito na literatura científica que contra-indique formalmente seu uso na gravidez. Ela, de fato, pode aumentar a penetração de outros ativos, podendo ser danosa. Segundo o FDA, a concentração de ureia nas formulações de produtos cosméticos hidratantes não pode passar de 10% - acima deste valor é considerado categoria C. Já a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) considera uma concentração máxima de 3% de ureia para produtos com finalidade especificamente cosmética com grau 1; entre 3% e 10%, classifica como cosmético grau 2 e já indica seu uso na gestação.

Em resumo, o manejo de estrias durante a gestação consiste na tentativa de preveni-las com emolientes que não contenham ureia, e o tratamento das que aparecerem deve ser postergado até o período pós-parto.



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