Embale Certo

Integração empresa e universidade

Setembro/Outubro 2013

Antonio Celso da Silva

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Antonio Celso da Silva

Na semana passada, ministrei uma palestra na Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná, a convite da organização do II SIUIN (Simpósio de Integração Universitária à Indústria).

Nós ouvimos tanto falar da necessidade de aproximação da universidade com a indústria, mas efetivamente, na prática, o que vemos são duas partes que precisam uma da outra, mas ainda estão muito distantes. A universidade e a indústria parecem dois namorados tímidos, vivendo um amor platônico. É óbvio que esse trabalho existe com algumas poucas indústrias de cosméticos, com alguns fornecedores de matérias-primas e com poucas universidades.

Também vemos trabalhos de pesquisa interessantíssimos sendo desenvolvidos nas universidades e que poderiam resultar em produtos cosméticos de eficácia comprovada. Existem trabalhos de doutorado e mestrado, alunos dedicados e professores incansáveis, mas os resultados raramente aparecem nas indústrias de cosméticos de ponta.

Nota-se, também, que as universidades do Norte e do Nordeste têm belos e sérios trabalhos de pesquisa prontos para serem aproveitados pela indústria cosmética. Contudo, o “mundo” cosmético está no Sul e no Sudeste e as dificuldades que essas universidades encontram para fazer parcerias com empresas se tornam gigantescas por causa do problema logístico.

Sabemos que há o incentivo do governo para que as universidades realizem pesquisas. Porém, efetivamente, esse é um assunto que precisa ser mais divulgado e mais usado tanto pela universidade quanto pela indústria.

Em relação às universidades do Sul e do Sudeste, os trabalhos de pesquisa também são excelentes e, nesse caso, a logística da proximidade dessas instituições em relação às empresas de cosméticos deveria facilitar a parceria entre elas e efetivas aplicações em novos produtos.

Essa logística se explica quando vemos a distribuição das indústrias de cosméticos legalizadas e registradas na Anvisa, por região: Sudeste, 1.454; Sul, 449; Nordeste, 231; Centro-Oeste, 163; e Norte, 45.

Outro fato notório é que normalmente são sempre as mesmas empresas, sejam de matéria-prima, sejam de produto acabado, que realizam trabalhos com as universidades. Nota-se também que as universidades escolhidas, por uma razão ou outra, são sempre as mesmas.

É importante salientar que o trabalho de pesquisa das universidades, quando são usadas plantas da biodiversidade brasileira e pela indústria, ficou seriamente comprometido por causa das exigências e penalidades do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN). Mas não me cabe abordar ou aprofundar esse assunto aqui.

Fiz essa breve abertura para que vocês possam entender o que vou colocar na sequência.

A exemplo do que acontece nos desenvolvimentos de produtos na indústria, na qual a atenção é total para o produto, os dados físico-químicos, os apelos de marketing, os testes de estabilidade, a segurança, a eficácia, o atendimento, a legislação etc., ficando a embalagem em segundo plano, vejo que na universidade o problema se repete. É óbvio que, nas pesquisas de universidades, o foco é o resultado efetivo de um ativo, de um preservante, de um doador de viscosidade etc., e a possibilidade da aplicação destes em um produto acabado.

Porém, é preciso que, pelo menos, exista o conhecimento de que é necessário realizar testes de compatibilidade entre o produto e a possível embalagem primária que vai contê-lo.

Quero dizer, com isso, que um trabalho de pesquisa que tenha durado anos pode ser colocado em cheque se o produto final for testado em uma embalagem cujo material for incompatível com o ativo pesquisado e o pesquisador desconhecer que incompatibilidades podem ocorrer. Esse resultado de incompatibilidade pode ser confundido com problemas não detectados na pesquisa.

Alterações de cor, odor, aparência, pH do produto, migração, “chupamento” ou estufamento da embalagem são alguns dos problemas que podem ter como origem a incompatibilidade da embalagem com o produto. Também existe a possibilidade de contaminação microbiológica, que pode ser atribuída a problemas na formulação do produto, mas, na verdade, ser causada por uma embalagem contaminada, usada nos testes de compatibilidade.

Sabemos também da dificuldade que as universidades encontram para conseguir matérias-primas para complementar uma pesquisa. Mas o pior é a dificuldade de (as universidades obterem embalagens, considerando que os fabricantes destas raramente fornecerão amostras se souberem que não existe a possibilidade de uma futura compra desses produtos. Isto não ocorre com as indústrias.

Finalizando, um trabalho completo de pesquisa nas universidades, cujo objetivo final é ver um ativo pesquisado em um produto cosmético, deve necessariamente considerar a compatibilidade entre os produtos e suas respectivas embalagens primárias.




Outros Colunistas:

Deixe seu comentário

código captcha

Seja o Primeiro a comentar

Novos Produtos