Toxicologia

As crianças e as substâncias químicas

Janeiro/Fevereiro 2012

Dermeval de Carvalho

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Dermeval de Carvalho

Por maior e mais concentrado que seja o foco desta coluna de caráter técnico-científico, não devo postergar a oportunidade de desejar um feliz 2012 aos diretores da Cosmetic & Toiletries Brasil, ao pessoal de apoio, aos colaboradores e aos leitores.
Estamos completando nossa 30a coluna. Ao longo desses anos, vários assuntos foram abordados: ingredientes cosméti- cos, segurança e seus múltiplos caminhos, formação de recur- sos humanos, necessária integração acadêmica e setores regu- latório e produtivo, a arte de dirigir a investigação científica, conquistas destituídas dos desapegos pessoais, dentre outros. Buscas constantes devem ser mantidas. Desafios arrojados, projetos bem delineados e assuntos regulatórios sustentados com o devido rigor científico são vistos como parceiros dos bons resultados. Nesta edição, vou abordar as substâncias químicas e as crianças.
A toxicologia faz parte da história dos povos. Nos últimos 200 anos, mais de 83 mil substâncias químicas têm sido uti- lizadas em todos os setores manufaturados (o que é fruto da Revolução Industrial). Novos processos tecnológicos, sem dúvida, vêm aumentando a exposição das pessoas a substâncias químicas que podem causar danos, especialmente à saúde das crianças, no decorrer dos últimos 50 anos. (Environmental Protection Agency, 2011).
A exposição às substâncias químicas tem sido objeto de preocupação da toxicologia e de áreas afins, pois, de maneira geral, o parque industrial tem crescido bastante. Entenda-se, portanto, que isso significa uma maior exposição. Avanços na avaliação da toxicidade têm conseguido grandes feitos. A mo- derna toxicologia deixa de ser a ciência dos efeitos adversos, para tornar-se mais predisposta a enfrentar os desafios e des- dobramentos da biologia molecular e assim melhor entender e descobrir os caminhos ambientais que conduzem os mecanis- mos da toxicidade. (Casareth & Doull’s – 5th Ed,1975 e Toxicity testing in the 21st Century: a vision and strategy, 2007).
Quando se fala em toxicidade, o indivíduo adulto é, obriga- toriamente, parte integrante deste protocolo. As crianças, por sua vez, como têm sido tratadas pela comunidade científica em relação ao efeito de substâncias químicas em seus organismos, que estão em fase de evolução?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 250 milhões de crianças ao redor do mundo estão envolvidas com o trabalho infantil, sendo que cerca de 110 milhões, com menos de 15 anos, trabalham em áreas perigosas. Isso acontece em quase todos os setores da economia, sobretudo na zona rural e particularmente na agricultura, na mineração, na construção e na pesca. Segundo a OMS, a saúde das crianças sujeitas à exposição ambiental é passível de sofrer danos, e riscos emer- gentes têm sido identificados todos os dias.
A OMS tem afirmado que os riscos para os homens também são válidos para as crianças, tendo em mente que elas estão mais vulneráveis do que eles, uma vez que se encontram em fase de desenvolvimento biológico, físico, fisiológico e com- portamental.(www.who.org,acesso em 13/1/12, e Journal of Pediatric Health Care 224, 17:(5), 223-7, 2003)
Por outro lado, o ciclo da pobreza, conforme referido pela OMS, é motivo de outras preocupações e tem sido objeto de avaliação, especialmente quando a exposição das crianças ocorre em baixas doses e todos os dias, meses e anos da vida. A grande pergunta é: como minimizar esta situação?
A questão do controle de política química vem sendo elaborada por grupos partidários de diferentes pensamentos e por formuladores de políticas públicas, os quais estão tra- balhando na elaboração e na construção de um apoio, com a finalidade de aprimorar e melhorar a legislação regulatória. Esse trabalho tem os objetivos de dar proteção à comercia- lização, bem como à distribuição de grandes volumes de substâncias químicas, e gerenciar possíveis riscos. Além desse trabalho, devem ser outorgados à Environmental Protection Agency (EPA), nos Estados Unidos, e a outros organismos de outras nações, maiores poderes regulatórios que permitam aos órgãos obterem, com os fabricantes, infor- mações capazes de reduzir o risco de exposições químicas prejudiciais à saúde das crianças. (Journal of Pediatric Health Care, 2011, in press). Há possibilidades de pesquisa do assunto, com forte grau de varredura.
Para concluir, falamos em crianças, substâncias químicas, exposição a estas, danos à saúde, avaliação e gerenciamento do risco, medidas saneadoras e regulatórias. Não falamos das crianças brasileiras, possivelmente sujeitas aos problemas de exposição, mas protegidas conforme a Lei no 8069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente.
O introdutório para a próxima coluna já está pronto. O assunto será: crianças e ingredientes cosméticos!



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