Tricologia

Produtos naturais para cabelo

Maio/Junho 2011

Valcinir Bedin

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Valcinir Bedin

Está cada vez mais difícil para os formuladores de produtos para cabelo criarem produtos ditos naturais, uma vez que o mercado está tomado por materiais sintéticos, inovadores e eficazes. Todas as semanas somos invadidos por informações de fabricantes que tentam ultrapassar seus concorrentes com produtos de ótima qualidade e de alto desempenho.

Quando pensamos em produtos ditos naturais, precisamos, antes de tudo, observar a origem dessas matérias-primas. É consenso mundial que produtos advindos de locais sujeitos a práticas agrícolas de irradiação para esterilização ou uso de fertilizantes em excesso não devem ser utilizados.

A maioria das formulações de produtos para cuidados com os cabelos já oferece benefícios ao consumidor. Contudo, no caso de itens de cuidado pessoal cuja proposta é proporcionar benefícios mais específicos, é utilizado um conjunto definido de ativos nas formulações, com propriedades mais direcionadas à finalidade do produto. São exemplos os protetores solares, produtos antioxidantes, antiacne e antienvelhecimento.

Alguns benefícios podem ser mais difíceis que outros de se obter por meio de ingredientes naturais, pois eles foram projetados para as moléculas sintéticas. Vou comentar, a seguir, a inserção de ingredientes naturais em três dos mais importantes produtos para cabelo.

- Shampoos: apesar de todos os seus benefícios adicionais, são principalmente destinados a limpar os cabelos. Embora a quantidade real do tipo de surfactante necessária para promover o mecanismo de ação de remoção de óleo ser pequena, o consumidor atual está à procura de espuma abundante. Assim, a indústria é obrigada a desenvolver espuma natural e de alta densidade. Sabonetes feitos com óleos de ácidos graxos insaturados, por exemplo, azeite ou óleo de cânhamo, podem se tornar claros em uma solução concentrada. Quando são misturados com coco para melhorar a espuma, esses sabonetes líquidos limpam bem, mas enfrentam problemas de solubilidade em água dura. Uma sugestão seria adicionar quelantes naturais, como inositol hexafosfato, com cálcio divalente e íons de magnésio.

- Condicionadores: o que significa condicionar os cabelos? Reduzir a força necessária para pentear os cabelos molhados ou secos, bem como diminuir a carga de superfície das fibras do cabelo, com o intuito de melhorar a penteabilidade. A melhor maneira de obter esses efeitos seria usar tensoativos catiônicos, exemplificados por sais quaternários de amônio, mas o uso destes encontra severas restrições das certificadoras de produtos naturais.

As combinações de óleos vegetais, como o de jojoba, a outros emolientes também podem encontrar seu caminho em formulações de condicionadores de cabelo, bem como a lecitina (geralmente originária da soja), que está disponível em versões orgânicas. Esses materiais têm alguma substantividade para a cutícula do cabelo, desde a virgem até a mais danificada, e podem atuar como um filme de redução de atrito no eixo da haste.

É importante lembrar que, quando se olha para os derivados naturais, alguns produtos simples podem ser obtidos por via sintética. Glicina, o menor aminoácido, por exemplo, é abundante na natureza, mas é difícil distinguir o natural do sintético. Isso também ocorre com os derivados de glicerol – existem tanto os sintéticos como os derivados, a partir de óleos vegetais e gorduras.

Há, no entanto, sérias limitações em relação à cor, pois muitas cores extraídas de plantas não são aprovadas para o uso cosmético, mesmo se forem aprovadas para o uso em drogas e alimentos. Os corantes solúveis que podem ser usados são caramelo, urucum, beta-caroteno e carmim da cochonilha mexicana, entre outros.

Produtos para penteados: produtos para pentear os cabelos dependem de propriedades adesivas de formação de película ou de seus resíduos secos. Esses produtos são revestidos com uma solução de polímero ou pulverizados como uma névoa de gotículas que “soldam” as fibras em conjunto, para estruturar o penteado. Esses polímeros podem vir de fontes naturais, baseados em carboidratos ou proteínas. A desvantagem é a sua reduzida resistência à umidade. Proteínas como as do milho e as provenientes de gomas vegetais podem ser usadas, a exemplo da goma arábica extraída da acácia e da pectina. Finalmente, para modificar a flexibilidade e reduzir a descamação, o glicerol pode ser considerado um plastificante universal, e glicóis, como o propilenoglicol fermentado na origem, podem ser usados.

Por último, mas não menos importante, é preciso lembrar que o formulador tem um desafio constante quando se trata de produtos ditos naturais: o de testar a fórmula final em relação à qualidade microbiana e à sua preservação.



Outros Colunistas:

Deixe seu comentário

código captcha

Seja o Primeiro a comentar

Novos Produtos