Toxicologia

Trabalhos de longa vida: uma garantia para a ciência

Março/Abril 2011

Dermeval de Carvalho

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Dermeval de Carvalho

O ensino da toxicologia no Brasil, com raras exceções, foi iniciado nos cursos de farmácia, principalmente em razão da formação e do âmbito profissional dos nossos mestres de sempre. Provavelmente em razão disso, uma ênfase especial foi dada à toxicologia analítica. Por ser necessário, para fins didáticos e de sistematização de trabalho, os compostos de interesse toxicológico, orgânicos e inorgânicos foram divididos em quatro importantes grupos: metálicos, solúveis, voláteis e orgânicos fixos. O grupo dos orgânicos fixos é assim chamado por causa dos seus coeficientes de partição água/solvente orgânico, em meio ácido ou básico.

Na busca por um assunto que pudesse atender a esta coluna, eu caminhava entre publicações presentes em nosso banco de dados, quando me reencontrei com uma delas, que me levou ao ano de 1965, período no qual eu ainda era aluno do curso de farmácia da Faculdade de Farmácia e Odontologia de Ribeirão Preto.

Com a publicação em mãos, lembrei-me da aula “Análise de Alcaloides” que eu havia ministrado aos colegas de classe, como parte das atividades da disciplina de toxicologia. A escassez dos livros didáticos e das revistas especializadas era grande. Recorremos à publicação “Monografia didática nº6 - Química Analítica dos Alcaloides”, escrita pelo saudoso prof. Milton Lessa Bastos, do Instituto de Pesquisas Químicas da Universidade Federal do Paraná.

O trabalho do prof. Bastos abordava com muita clareza o tema proposto, frente aos recursos laboratoriais oferecidos nos anos 1960. A bem da verdade, os alcaloides foram, em épocas passadas, objeto de consumo científico dos toxicologistas.

Pensando em compostos orgânicos fixos e no crescimento dos produtos cosméticos, verificamos que eles têm sido agregados a vários ingredientes obtidos de plantas (cultivadas naturalmente, orgânicas ou silvestres), na forma de tinturas, ceras, óleos vegetais, ativos biológicos, entre outros. Esses compostos orgânicos fixos podem ser incorporados às formulações cosméticas como antioxidantes, anticarcinogênicos, anti-irritantes, corantes naturais, fragrâncias, conservantes, hidratantes, surfactantes, clareadores da pele, fotoprotetores e anti-idade, ficando resguardadas as normas regulatórias (Food Chem Toxicolog 46(2):446-475, 2008 e J Cosmetic Dermatology 7:89-95, 2008).

Ainda pensando em compostos orgânicos fixos, quais são os caminhos a serem observados na obtenção de ingredientes cosméticos resultantes de extratos botânicos empregados na avaliação de toxicidade? Para essa finalidade, as informações a seguir devem estar presentes no protocolo de trabalho, a saber:

• Informações botânicas (nomenclatura usual, oficial, variedade, espécie, gênero e família);

• Partes utilizadas;

• Tempo de plantio;

• Fatores genéticos, fisiológicos e ambientais;

• Ocorrências observadas durante a cultura e em relação à natureza do solo (pH, composição química, adubos, fertilizantes e praguicidas utilizados);

• Época e procedimentos operacionais durante a colheita e a estocagem de campo;

• Transporte;

• Boas práticas laboratoriais (lavagem, manuseio, condições de estocagem e secagem);

Processos de extração (solventes empregados, preferencialmente de baixa toxicidade, bom grau de pureza); e Processos de purificação, identificação e quantificação dos ativos (The SCCP’S notes of guidance for the testing of cosmetic ingredients and their safety evaluation - 6th revision, 2006, Flavour and Fragrance J 25:253-271, 2010).

Às vezes, aos menos avisados, a não observância desses cuidados pode trazer danos irreparáveis em distintas fases dos procedimentos envolvidos, seja em pesquisas acadêmicas, seja na pesquisa e no desenvolvimento de cosméticos, cosmecêuticos e medicamentos. O simples desconhecimento da qualidade do solvente pode levar à oxidação de ingredientes, e um pH ácido e/ou alcalino pode acarretar processos de hidrólise, alterando estruturas químicas ativas.(J Ethnopharmacology 91:331-334, 2004, J Chromatography B 812:35-51, 2004 e J Supercritical Fluids 22:129-138, 2002).

O toxicologista deve estar sempre atento ao uso crescente de ingredientes botânicos e aos parâmetros dose/resposta e exposição. (J Dermatolog 48:923-934, 2009 e www.organimonitor.com).



Outros Colunistas:

Deixe seu comentário

código captcha

Seja o Primeiro a comentar

Novos Produtos