Toxicologia

Toxicidade sistêmica na avaliação de segurança

Janeiro/Fevereiro 2011

Dermeval de Carvalho

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Dermeval de Carvalho

Tempos remotos... Pesquisa e desenvolvimento eram praticados com elevado grau de empirismo e magia; cosméticos eram usados ocasionalmente por elites que, paradoxalmente, eram distintas e semelhantes entre si. Nos dias de hoje, o uso de cosméticos se generalizou por todas as classes sociais.

A aparente singeleza dos conceitos que vêm sendo atribuídos aos produtos cosméticos, por parte da comunidade científica e dos órgãos regulatórios, traz em seu bojo similaridades e contornos distintos, porém ricos em detalhes, os quais são de fácil acesso àqueles que se interessarem pelo assunto.

Paracelsus (1493-1541) deixou notáveis desdobramentos científicos aplicados à toxicologia. Contudo, destaca-se em seu legado as afirmações que o imortalizaram: “Todas as substâncias são venenos, não há nenhuma que não seja um veneno. A dose certa diferencia um veneno de um remédio”.

Embora nada tenha sido registrado, acredito que Paracelsus já havia assumido o conceito de dose/resposta, hoje visto como um complexo mecanismo quimiocinético que se desenvolve desde o momento da absorção de uma substância química pelos organismos vivos, por meio de sua interação no sítio de ação, seja na sua forma inalterada ou seu produto de biotransformação.

Esse “deslocamento” da substância até o órgão-alvo, a clássica toxicodinâmica, tida como de natureza bastante complexa, pode oferecer ao toxicologista meios para que ele estabeleça seu provável ou real mecanismo de ação, pois para isso são levados em consideração fatores relacionados à absorção, à distribuição, à metabolização, à excreção, a aspectos bioquímicos, farmacológicos e patológicos, entre outros. Esses fundamentos foram aplicados aos cosméticos e aos produtos dermatológicos por Arnold Lehman e John Draize, há mais de meio século, e continuam sendo úteis. (Toxicology and Applied Pharmacology 243:225-238, 2010).

A toxicologia estuda os efeitos adversos ocasionados pelas substâncias químicas. Por isso, os toxicologistas devem estar suficientemente capacitados para avaliá-los (mecanismos celulares, bioquímicos e moleculares) e para avaliar as probabilidades de eles ocorrerem. Os toxicologistas que se propuserem a realizar esse tipo de trabalho devem estar cientificamente envolvidos com as áreas da toxicologia mecanicista, descritiva e regulatória. O conhecimento dessas três importantes áreas permitirá ao profissional trabalhar na avaliação do risco, desdobramento essencial e conclusivo para a avaliação de segurança.

A toxicidade sistêmica tem merecido, em todas as ocasiões, forte atenção dos toxicologistas. Atualmente, tem sido discutida exaustivamente, especialmente quando se propõe a mistura de diferentes substâncias químicas e suas possíveis interações, bem como o uso de baixas doses e tempo de exposição. (Food and Chemical Toxicology 34:1025-1031, 1996). O parágrafo anterior deve servir como parâmetro para se fazer o delineamento de futuros trabalhos relacionados à avaliação de toxicidade, pois a notificação dos efeitos adversos tem sido avaliada utilizando-se doses consideradas altas e extrapoladas para menores. (Journal of Applied Toxicology – disponível em www.interscience.willey.com).

Os ingredientes cosméticos estão incluídos como se fossem preocupantes, nesse painel de baixas doses? De forma genérica, não. Em casos específicos, sim.

O foco da discussão tem sido especialmente direcionado às substâncias químicas que podem atuar como desreguladores endócrinos (Journal of Applied Toxicology 28:561-578, 2008), a exemplo do que vem acontecendo com alguns conservantes e outros ingredientes.(Critical Review in Toxicology 40(S3):1-30, 2010).

O espaço reservado a esta coluna não permite que se faça uma abordagem minuciosa a respeito dos pontos convergentes e das divergências que têm sido veiculados a respeito do assunto, mas pode ser visto como sinal de alerta. Daí, com o devido respeito, a sugestão para a realização de um encontro de alto nível na busca de objetivos comuns é: a segurança de ingredientes e produtos cosméticos e a saúde de usuários.



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