Toxicologia

Nanopartículas: um desafio à cosmetotoxicologia

Setembro/Outubro 2010

Dermeval de Carvalho

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Dermeval de Carvalho

O título, a princípio, pareceu-me bastante sugestivo para a mídia, especialmente para os veículos de comunicação que se preocupam com audiências e manchetes sensacionalistas. As informações desta coluna, embora extremamente pequena, frente ao grande número de publicações, mostram o pensamento dos segmentos envolvidos na avaliação de segurança dos produtos resultantes de processos nanotecnológicos.

As nanopartículas (do grego nano, que significa pequeno, pigmeu), são representadas por minúsculas partículas cujas dimensões são expressas em nanômetros (1 nm = l0-9 do metro) e vêm sendo usadas de maneira crescente no desenvolvimento de materiais para diferentes fins, incluindo a produção de cosméticos. A Revolução Industrial e a do conhecimento não podem deixar de incluir em suas agendas uma das mais promissoras tecnologias do século 21: o revolucionário uso das nanopartículas, pois, segundo o US National Science Foundation o mercado global alcançará, dentro dos próximos 20 anos, cerca de 1 trilhão de dólares (http://www.nanotechprohect, org/file_download/77).

Pesquisas relativas à segurança de nanopartículas ainda são preocupantes, especialmente quando a palavra de ordem está direcionada a danos ambientais e à saúde humana. Passadas largas e urgentes são necessárias e devem ser praticadas, de forma ampla e irrestrita, na avaliação de toxicidade, pois a ciência pouco tem convivido com essas “invisíveis moléculas” (Regulatory Toxicology and Pharmacology 49:217-229, 2007 e Contempory Clinical Trials 28:433-441, 2007).

A nanotecnologia deve ser vista como um novo, vasto e relevante campo de trabalho, didaticamente agrupado em compartimento único conectado por meio de divisórias interligadas. Esse imaginário dispositivo deve ser monitorado pela comunidade científica, pelos órgãos regulatórios e pelos setores produtivos. A avaliação de segurança de nanomateriais, segundo meu entendimento, mesmo sabendo dos contraditórios químicos, quando direcionados à saúde humana, não se distancia dos fundamentos básicos e resultantes da evolução das ciências toxicológicas (Environmental Health Perspective 109:547-551 2001).

Cientistas e jornalistas, na Inglaterra, avaliaram assuntos relacionados à nanomateriais divulgados por meio da comunidade científica e da mídia, respectivamente. Ambos concordaram quanto às dificuldades atribuídas à comunicação do risco e às incertezas sobre os procedimentos envolvendo nanotecnologias (Circulation 106:141-142, 2002 e Health, Risk & Society 9(2):145-157, 2007).

As nanopartículas exigem inovadoras avaliações de segurança, para garantir, em longo prazo, o seu uso em humanos? A resposta foi discutida em recente publicação, na qual os autores afirmaram que, até o presente momento, ainda é cedo para prever, com base nas características das nanopartículas, se haverá uma possível resposta biológica por causa da falta de métodos confiáveis. (Drug safety 32(8):625-636 2009).

O SCCP publicou estudos preliminares a respeito da utilização dos parâmetros usados na avaliação de segurança de nanomateriais em produtos cosméticos, e concluiu que alguns deles ainda não são adequados (Scientific Committee on Consumer Products: http://ec.europa.eu). Já o Food and Drug Administration abordou o assunto discutindo: a) o estágio do conhecimento resultante da interação biológica com nanopartículas, b) recomendações pertinentes à assuntos científicos e regulatórios (Nanotechnology - a Report of the US FDA 2007).

O crescente aumento do uso de nanopartículas em diferentes produtos comerciais, entre eles os cosméticos, tem motivado o debate, por vezes contraditório, a respeito dos possíveis danos que esses materiais podem causar à saúde humana e ao meio ambiente, fruto de exposições diretas e, ou, indiretas a essas partículas. Organizações ambientais também se mostraram preocupadas com o assunto em pauta (http://www.foe.org, http://greepeace.org.uk e http: www.icta.org).

Sob o ponto de vista de conceituados toxicologistas, os protocolos de estudos empregados na caracterização rotineira das substâncias químicas são suficientemente robustos para prover, também, a caracterização de nanopartículas (http:www.nanotoxicology.ufl.edu). Nos últimos anos, o risco potencial de nanopartículas para a saúde humana e o meio ambiente foram revisados pela comunidade internacional. A conclusão foi consensual: as nanopartículas podem oferecer novos riscos, embora a natureza desses possa ser grandemente hipotética (Critical Reviews in Toxicology 37:151-177, 2007).



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