Embale Certo

Embalagem é mais reprovada que MP?

Julho/Agosto 2010

Antonio Celso da Silva

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Antonio Celso da Silva

Cada vez mais, assusto-me com os problemas de qualidade que são encontrados quando se analisa lotes de embalagem, por ocasião do seu recebimento. Os defeitos (motivos para reprovação) se repetem e parece que o fornecedor não conhece o cliente, que eles nunca se falaram ou nunca se viram.

Se compararmos com os lotes de matérias-primas, ficará ainda mais visível esse descompasso. Não são reprovados lotes de matérias-primas tanto quanto os de embalagem. O que será que há de errado?!

Percebo também que, no caso de embalagens, decidir em função da necessidade é o que tem falado mais alto, ou seja, são utilizados lotes que foram reprovados pelo Controle de Qualidade (CQ). Explico: existem reprovações onde o defeito é localizado, o que na maioria das vezes permite que se faça uma seleção prévia das peças defeituosas, ou mesmo durante o uso da embalagem na linha de produção.

É óbvio que isso não pode ser uma regra, após ser reprovado o lote teria de ser devolvido ao fornecedor.

Pior é quando o CQ reprova o lote e um superior “passa por cima” e, em nome da urgência e do faturamento, acaba desconsiderando a reprovação e considerando o defeito “passável”. Esse é o primeiro passo para a perda de credibilidade e autonomia do CQ e para a perda de “qualidade” dos produtos.

O que acontece com as embalagens não acontece com as matérias-primas.

Mas, voltando à pergunta, o que será que existe de errado? Acredito ter a resposta.

Quando se analisa uma matéria-prima, procura-se por defeitos visuais (cor, aparência, entre outros) e por defeitos mensuráveis (como pH, viscosidade, densidade e doseamento). Defeito é uma não conformidade em relação à especificação técnica existente, seja esta visual ou mensurável. As não conformidades visuais nas
matérias-primas são normalmente menores em relação às mensuráveis e a maioria das reprovações, portanto acontecem por causa de defeitos mensuráveis.

O inverso acontece com as embalagens, nas quais os defeitos resultantes dos controles mensuráveis, também conhecidos como controles por variáveis ou dimensionais, são menores em relação aos controles por visuais, também conhecidos como controles por atributos.

Em controles por variáveis, as não conformidades que são resultantes de defeitos, por exemplo, em um molde ou uma faca, são mais difíceis de acontecer, a não ser por causa de desgaste ou de mau uso da peça, do equipamento ou do acoplamento entre componentes da embalagem.

Altura, largura, profundidade, diâmetro, espessura, peso e volume são controles por variáveis ou dimensionais, nos quais não existem dúvidas quando acontece uma não conformidade, uma reprovação. Se o diâmetro interno de uma boca de frasco for de, por exemplo, 20 mm mais ou menos 1 mm (mínimo 19 e máximo 21), isso significará que se esse mesmo diâmetro tiver 22 mm estará acima do especificado e que, portanto, será reprovado por ser uma não conformidade clara e mensurável.

Em controles por atributos não existe medição, (por exemplo, cor, borrado, sujeira, falha de gravação, pintas, manchas, descolado e amassado). Deveriam existir um padrão visual, uma linguagem clara e única e, acima de tudo, bom senso entre fornecedor e cliente. As reprovações nos controles por atributos são bem mais frequentes em relação aos dimensionais, e as “boas” brigas e discussões entre fornecedor e cliente também.

Em resumo, o que existe de linguagem clara, especificação, padrões e técnicos especializados no caso das matérias-primas não existe nas embalagens.

Salvo as grandes empresas, poucas têm um CQ de embalagem bem equipado e com técnicos conhecedores, habilitados e com autonomia para tomarem decisões no caso de uma reprovação.
Por outro lado, se não existir um laboratório químico, onde se faça as análises das matérias-primas, a empresa nem poderia funcionar.

Portanto, acredito que a razão de ocorrerem mais reprovações de embalagens do que de matérias-primas, é porque os maiores motivos das reprovações de embalagens acontecem nos controles por atributos, e porque para esses controles não existem padrões visuais e faltam acima de tudo uma linguagem única e bom senso entre fornecedor e cliente. É óbvio que excluí aqui os fornecedores e os técnicos que não têm competência e desconhecem qualquer critério de qualidade.



Outros Colunistas:

Deixe seu comentário

código captcha

Seja o Primeiro a comentar

Novos Produtos