Boas Práticas

BPFeC: Comportamento ou procedimento?

Julho/Agosto 2010

Carlos Alberto Trevisan

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Carlos Alberto Trevisan

Ao ler o título, o leitor poderá ficar confuso pois a própria definição de Boas Práticas de Fabricação e Controle (BPFeC) define um “conjunto de procedimentos”.

Já na fase do desenvolvimento e da implantação de BPFeC, verifica-se que, embora sejam fundamentais, os procedimentos somente passam a ter importância quando acontece seu efetivo cumprimento.

A experiência mostra que em muitas empresas, ao ser considerada a necessidade de implantar esse sistema, sempre surgem as perguntas:

1 - Quantos procedimentos deverão ser escritos?
2 - Quem vai ser encarregado de escrevê-los?
3 - Quanto tempo será empregado na elaboração dos procedimentos?

Os questionamentos são efetivamente a comprovação de que o conceito real de BPFeC está sendo entendido como uma coletânea de papéis, a qual pode ser elaborada de uma forma qualquer ou, quando muito, por quem não necessariamente está diretamente envolvido nas atividades a serem descritas.

Apenas para exemplificar, gostaria de relatar um fato acontecido durante o acompanhamento que fiz de produção realizada por uma empresa tercerista contratada por uma empresa que é nossa cliente. Esse fornecedor foi considerado aprovado em processo prévio de qualificação.

Seguindo o procedimento normal, após prévio aviso feito por nossa cliente e em concordância com o estipulado no contrato de terceirização, durante a visita para acompanhar a produção solicitei ao setor responsável pela qualidade da contratada a documentação referente àquela produção e, de posse da mesma, dirigi-me ao local para acompanhamento do ciclo básico de produção: pesagem, fabricação e envase.

Na pesagem verifiquei algumas não conformidades comportamentais, que com treinamento de média carga poderiam ser eliminadas. Em seguida, dirigi-me ao manipulador, apresentei-me e lhe informei o motivo da minha presença. Fui surpreendido pelo manipulador que me perguntou se ele poderia verificar a cópia do procedimento de fabricação que estava em minhas mãos e, após ler atentamente, com a maior naturalidade do mundo, exclamou: “Este não é o procedimento que eu executo, este é o que foi escrito pelo meu supervisor quando para implantar as Boas Práticas”.

Poderia o prezado leitor avaliar minha surpresa em relação ao ocorrido? Após fazer uma investigação rápida, pude constatar a inexistência de BPFeC naquela empresa, embora existissem os procedimentos escritos.

Em razão do ocorrido, encerrei o acompanhamento e comuniquei imediatamente o fato ao cliente, que em seguida retirou o fornecedor de sua lista de fornecedores qualificados.

Ao avaliar as não conformidades envolvidas no fato relatado, pude considerar que:

- A área da qualidade desconhecia que as BPFeC haviam sido implantadas na empresa, ou melhor, que havia sido “tentada” sua implantação.

- Havia desconhecimento da administração da empresa de que procedimentos elaborados, revisados e aprovados não eram cumpridos. O mais grave é que isso acarretou o descredenciamento da empresa de um de seus maiores clientes.

Acredito que esse relato serve de alerta sobre a importância da correta implantação das Boas Práticas de Fabricação e Controle, pois, para haver o comprometimento dos colaboradores, deve ocorrer a participação efetiva de todos na elaboração dos procedimentos e, mais ainda, é preciso realizar o treinamento dos envolvidos, antes da sua implantação.

Para concluir, gostaria de deixar uma colocação para que o leitor reflita: o comprometimento, e não os procedimentos escritos, é o que efetivamente comprova a adoção das
BPFeC.



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