Toxicologia

Cabelo: fonte alternativa na avaliação de segurança

Maio/Junho 2010

Dermeval de Carvalho

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Dermeval de Carvalho

Recente publicação apresentou dados relativos à área de marketing, os quais, entre outros, destacam com detalhes a fiel preferência do público masculino pelos produtos cosméticos usados para os cuidados dos cabelos, diferentemente do que acontece com as mulheres. (Cosmetic & Toiletries Brasil 22(2):26-32, 2010). O tema me motivou a discutir, nesta coluna, o mesmo tema “cabelo” como fonte de exposição no que diz respeito à avaliação da quantidade e freqüência da exposição a humanos, a substâncias químicas, a ingredientes cosméticos ou não, e ao seu uso como matriz analítica para fins de avaliação de segurança.

Isso não me esquecendo da importância que as tinturas capilares representam, mostrada por meio de uma avalanche de excelentes publicações. Sinto que as portas da investigação bibliográfica poderiam estar abertas às informações, aos esclarecimentos e dirimir dúvidas a respeito do estágio em que se encontram as pesquisas focadas na palavra-chave “cabelo”.

A palavra-chave marcou presença em diversas áreas de interesse da saúde pública, especialmente quando se prezou os estudos destinados à avaliação de segurança, os quais se completam desde que sejam bem conhecidas as propriedades físico-químicas dos xenobióticos (entenda-se ingredientes cosméticos), a relação dose/resposta e a íntima interação entre eles.

O cabelo representa fonte de exposição de inestimável valor científi co. Estrutura anatômica de natureza complexa, forma-se a partir do folículo piloso localizado de 3 a 5 milímetros abaixo da superfície da pele; cerca de 5 milhões de unidades estão presentes nos adultos, 1 milhão deles presentes na cabeça. Contém proteínas, lipídeos, melanina, polissacarídeos e mínima quantidade de água, e crescimento ativo e de repouso com duração de 7 a 94 semanas (período discutível). Destaque: algumas informações ainda são enigmáticas (Forensic Science International 63:9-18, 1993).

Para fins de análises toxicológicas, o cabelo – matriz biológica - pode ter suas limitações, mas representa uma opção após as amostras de sangue e, ou, de urina, e mereceu especial publicação que o enquadra como amostra alternativa de interesse da Toxicologia Forense (Biomedical Chroma- tography 22:795-821, 2008). O mesmo tem acontecido com a Toxicologia Social (Forensic Science International 176:23-33, 2008 e Transtornos Adictivos, 9(3): 172-83 2007). A Society of Hair Testing discute a “acreditação” do uso do cabelo para fi ns de análise. O trabalho discute a importância da cromatografi a líquida de alta
efi ciência na determinação de algumas substâncias (minoxidil, progesterona, hidrocortisona, entre outras) em produtos “cosméticos”. Entretanto, os autores se contradisseram, pois afi rmaram que “as presenças destas substâncias em produtos cosméticos comerciais são proibidas (Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis 48:641-648, 2008). O título deveria ter sido melhor cuidado.

A biomonitorização de poluentes realizada nos últimos 20 anos empregando-se o cabelo como matriz foi objeto de análise. Os autores discutiram as limitações e correções de rotas, e apresentaram medidas que exigem estudos complementares, bem como destacaram grandes avanços. Se persistirem os caminhos já percorridos, a matriz alternativa poderá ser a chave para a biomonitorização de contaminantes orgânicos, neles incluídos produtos farmacêuticos, cosméticos, fragrâncias e hormônios (Chemosphere 72:1103-1111, 2008, idem 72:1118-1123, 2008, Environmental Polution 16:1-7, 2009 e Water Research 41:4339-4348,2007).

A moderna toxicologia, entre tantos ganhos científicos conquistados, ainda mantém sérias preocupações sobre estar na “pauta do dia” a discussão dos possíveis danos ocasionados ao homem - neurotoxicidade, mutagenicidade, reprodução - decorrentes de exposições químicas - especialmente daquelas em baixas doses. Ainda nessa linha de pensamento, não se pode deixar de lado os avanços conseguidos com indicadores biológicos da exposição, a exemplo do glucoronídeo de etila (Forensic Science International 198:23-27, 2010).

Outros assuntos certamente ainda poderiam ser acrescidos, mas o uso do cabelo, como matriz, pode representar significativos avanços da Toxicologia na avaliação de segurança de ingredientes e produtos cosméticos.



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