Mercado

Competência coletiva, o que é isto?

Maio/Junho 2010

Carlos Alberto Pacheco

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Carlos Alberto Pacheco

Em vez de definirmos esse conceito, vamos construí-lo. Há não muito tempo, vem sendo dito que a Competência Coletiva é o principal ativo de uma empresa. Eu fico me perguntando por que levamos tanto tempo para enxergar essa realidade. Foi preciso o conhecimento ganhar a velocidade das fibras óticas e a tecnologia transbordarem o conhecimento por qualquer tomada em que se possa ligar um computador, para que inegavelmente aceitássemos esse fato, mesmo que veladamente.

No último fórum de RH promovido pela HSM, o professor Mário Sérgio Cortella, filósofo e administrador de empresas, martelou a necessidade de abandonarmos o conceito de Competência Individual, do qual nasce a idéia “a minha competência acaba onde a competência do outro começa”, por uma realidade mais condizente com as atuais dinâmicas de mercado, nas quais se preconiza uma ideia muito diferente, ou seja, “a minha competência acaba onde a competência do outro também acaba”.

Parece contraditório, porém não é, se enxergarmos a empresa como um organismo vivo, no qual a perda de competência de um ou alguns faz que todos, de uma maneira ou de outra, percam também a sua própria competência. Aqui vale então abrirmos um pouco mais o conceito de competência que vai além das competências técnicas, muita das quais podem ser aprendidas em livros, chegando até as competências pessoais que compreendem relacionamento, capacidade de planejar e executar, priorizar, delegar, sintetizar, entre outras. Dessa maneira, quando alguém ganha esse tipo de competência, os demais também passam a usufruí-la por capilaridade.

No entanto, para que o discurso se transforme em prática é preciso que os que dominam o saber repartam o conhecimento, concomitantemente à ação da procura de conhecimento por parte de quem ainda não o tem (“...quem sabe reparte, quem não sabe procura...”). Para os que acreditam que dessa forma o conhecimento se nivelaria rapidamente tornando todos iguais, peço que não se esqueçam de duas variáveis: a velocidade com que o conhecimento se renova e a velocidade com que assimilamos novos conhecimentos. Não preciso dizer que essas velocidades são diferentes entre si e que a primeira é muito superior à segunda. Conhecimento parado é conhecimento que tende ao desuso, a tornar-se obsoleto. Girar e gerir o estoque de conhecimento dentro das organizações é a grande sacada da excelência em gestão do conhecimento.

O professor evocou a ajuda dos santos, quando citou São Beda (filósofo inglês do VIII século EC) que mencionava três coisas que levariam ao fracasso espiritual: “Não ensinar o que se sabe, não praticar o que se ensina e não perguntar o que se ignora”. Bem atual na era da informação, não?

Não podemos deixar de mencionar que o conhecimento tácito é mais dinâmico do que o acadêmico. Ambos devem existir, mas o tácito tem efeito sinérgico, pois encontra aplicação prática no dia a dia e, por ter conexão com uma realidade mais presente, oferece mais facilidade de aprendizado, além do fato de que quanto mais conhecimento prático se obtém, maiores são as chances de despertar a própria curiosidade para um aprofundamento teórico do mesmo. Quando eu estava no curso técnico, aprendi a calcular logaritmo (lembra-se?). Quando perguntei à minha professora de matemática para que ele servia, ela me disse: um dia você vai saber. Graças a Deus eu soube, porque fiz o curso técnico em química e depois a faculdade, mas muitos não aprenderam o que era aquilo, nem enquanto estudavam nem depois, porque não encontraram praticidade, correlação, conexão do logaritmo com as suas realidades e, por isso, o conhecimento se tornou difícil e para muitos se perdeu.

Hoje a tecnologia facilitou o trabalho da gestão das competências coletivas, pois, com alguns softwares simples, conseguimos facilitar a distribuição do conhecimento ao mesmo tempo que diminuímos o esforço de quem procura por ele. No entanto, a tecnologia ainda não conseguiu mexer no cerne da questão, que é despertar o desejo – onde tudo começa – de repartir e procurar a competência coletiva. Aqui cabe uma lição de casa aos gestores, ainda a ser feita, que passa pela criação de um ambiente propício onde haja o estímulo e até a gratificação por essas atitudes, pois, do contrário, continuaremos comentando o “pecado” da centralização do conhecimento.



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