Boas Práticas

Prática e Gramática

Setembro/Outubro 2006

Carlos Alberto Trevisan

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Carlos Alberto Trevisan

Continuando ao assunto das edições anteriores, vamos abordar as disparidades existentes entre o comportamental e o documental. Os exemplos descritos a seguir fundamentam o título da presente
coluna.

Como é de conhecimento geral, uma das principais características das Boas Práticas de Fabricação e Controle é a prevenção, ou seja, conhecer a causa para evitar o efeito.

Durante as várias atividades de consultoria que executamos nas empresas, muitas vezes deparamos com fatos que se não fossem trágicos seriam cômicos, pois além de colocar em risco a saúde de pessoas também levam risco à qualidade dos produtos.

Treinamento

Iniciaremos com o acontecido em uma empresana qual, uma funcionária teve o piercing que portava no umbigo, preso na esteira transportadora situada no setor de envase. Felizmente não houve maior gravidade, além do enorme susto pelo qual todos passaram.

Ao analisarmos o fato, o primeiro passo foi verificar a existência de instruções quanto ao uso adequado e à efetiva proteção fornecida pelos uniformes.

Para nossa surpresa existiam procedimentos, Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, etc... Mas faltava um detalhe muito importante: o “treinamento” adequado.

Ao entrevistar a colaboradora fomos informados de que trabalhava com o uniforme aberto em razão do calor intenso na área de trabalho devido à inexistência de ventilação adequada.

Devemos ressaltar que uso de uniformes abertos era uma prática generalizada e, portanto, esse fato poderia já ter ocorrido anteriormente. A possibilidade de evitá-lo seria a existência de condições de conforto térmico no ambiente de trabalho.

Calor em Excesso

Outro exemplo que pode ser mencionado é quando no setor de manipulação existem fontes de calor tais como tanques aquecidos, tubulações sem isolamento, tampas de recipientes inadequadas, paredes que recebem grande quantidade de irradiação solar etc.

Nesse caso muitos operadores transpiram de maneira excessiva e ,o suor do rosto e dos braços sempre acaba gotejando. A possibilidade de que isto aconteça sobre produto ou componente de embalagem, em determinado momento, é muito grande.

Para evitar este fato é necessário que, desde o projeto, prevendo os fatores que possam acarretar tais ocorrências, sejam adotadas soluções adequadas - que, neste caso, incluem não só a correta orientação espacial do edifício, controlando a incidência solar, como também o monitoramento da temperatura para proporcionar climatização, situação de conforto, etc.

Nossa experiência indica que de todas as sugestões apresentadas aos empresários, quando da elaboração do projeto construtivo, o condicionamento ambiental é o que mais sofre resistência para sua implantação com a desculpa do alto custo de investimento.

Inútil tentar explicar que condições de trabalho adequadas são também parte fundamental das Boas Práticas de Fabricação e Controle, pois ninguém pode suportar, em situações adversas, realizar suas tarefas com satisfação.

Ergonomia

Outro exemplo é a utilização de equipamentos inadequados do ponto de vista ergonômico, ou seja, obrigando os colaboradores a executar suas atividades em posições não-conformes ou através de esforços que podem acarretar em não-conformidades quanto ao manuseio e carga de insumos.

Vivenciamos neste caso uma ocorrência singular.

Ao inspecionar uma empresa, notamos que por várias vezes um operador se ajoelhava atrás de um tanque de manipulação. Em razão da freqüência de tal ocorrência, questionamos ao encarregado do setor sobre o fato que nos informou a razão.

O tanque de manipulação fora adquirido de segunda mão. Na instalação original estava localizado sobre uma plataforma. Como na empresa atual, o pé direito do vão, na área de manipulação, era insuficiente para abrigar a plataforma original, o tanque foi instalado sobre uma plataforma mais baixa.

Inexplicavelmente, quando da instalação, o termômetro localizado na parte inferior do equipamento foi posicionado com a face voltada para a parte posterior do tanque, ou seja, fora do campo de visão do operador. Para verificar e anotar a temperatura o operador tinha que se ajoelhar - seria óbvio supor que a temperatura, na maioria das vezes, era anotada com base na “adivinhação”.



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