Boas Práticas

Ser ou não ser, eis a Questão

Maio/Junho 2006

Carlos Alberto Trevisan

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Carlos Alberto Trevisan

Prosseguindo com a abordagem conceitual relativa às Boas Práticas de Fabricação e Controle consideramos de grande relevância comentar a efetiva participação da implantação das BPF e C com sua característica de Ferramenta da Qualidade no processo da Qualidade.

Como continuamente enfatizamos, Qualidade é um estado de espírito, pois está umbilicalmente ligada às pessoas e, portanto, à conscientização e, conseqüentemente, ao comprometimento, constituindo pilar de sustentação para a estrutura da Qualidade.

Foram inúmeras as vezes em que, ao prestarmos serviços na atividade de treinamento de empresas para a auto-inspeção, deparamos com o quadro de que não está implantado um processo de BPF e C. Portanto a questão que se apresenta é: auto–inspeção ou inspeção?

A dúvida surge a partir da constatação de que são tantas as não-conformidades, que estas deixam de ser exceção para se transformarem em regra.

Formulamos este questionamento pois a autoinspeção já consta da Portaria 348 de 1997, mas não tem, até o momento sido levado em consideração. Com a publicação, na qual consta que as empresas devem, pelo menos uma vez ao ano, realizar uma auto-inspeção sob a responsabilidade do respectivo Responsável Técnico, teve início uma corrida para a realização desse procedimento - sem que as empresas levassem em conta os fatos mencionados anteriormente.

Quando da apresentação do Relatório de Auto- Inspeção aos responsáveis pela empresa surgem questionamentos do tipo: mas isto não me foi exigido quando da inspeção. Por que seria necessário agora?

Esta dúvida muitas vezes é difícil de ser esclarecida, pois não podemos efetivamente considerar que a empresa ao iniciar suas atividades não tenham, por simples bom senso, sido levadas em consideração, coisas mais básicas, como recipientes de lixo e proteção contra a entrada de insetos, animais etc.

O quadro que relatamos, obviamente, ocorre em empresas em pleno funcionamento e podemos, apenas para efeito de exemplificação, indicar no gráfico que segue um percentual médio de atendimento ao constante na Portaria 348 que contempla o Guia de Boas Praticas de Fabricação e Controle e o respectivo Roteiro de Inspeção.

O gráfico representa o resultado de auto-inspeções, realizadas em 22 empresas identificadas pelas letras de A a X, localizadas em várias regiões do território nacional, no que respeita ao atendimento dos quesitos classificados como necessários, ou seja, aqueles que em uma segunda inspeção seriam classificados como imprescindíveis.

Observando o gráfico verificamos que 13 das 21 empresas, ou seja, 61% não atingem 60% de conformidade e que apenas uma está no patamar de 90%.

Ressaltamos que em vários dos casos a auto-inspeção realizada indicou a impossibilidade de adequação, pois a quantidade de não-conformidades são tantas que, do ponto de vista econômico-financeiro, a empresa entraria, segundo informações prestadas por seus administradores, em estado de insolvência.

Tomamos a liberdade de abordar este exemplo para sinalizar que muito deve ser feito ainda, para que se construa o alicerce antes de tentar alcançar o telhado.

Tem ocorrido comentários sobre a necessidade de implantar processos de Gestão da Qualidade e Qualidade Total, mas talvez aqui se aplique a conhecida expressão: “É depois do terremoto que aprendemos Geologia.”

Concordamos que o processo da Qualidade é dinâmico, e ai está o ciclo PDCA que não nos deixa mentir, mas devemos ter em mente que não existe a possibilidade de durante o processo saltar as etapas, como se o organismo vivo “Qualidade” pudesse sobreviver sem que suas células básicas estejam funcionando e se desenvolvendo de modo harmônico e saudável.

A busca da Qualidade como objetivo da melhoria contínua não se obtém sem que os princípios básicos da BPF e C estejam solidamente implantados no dia-a-dia da empresa.

Por fim esperamos que o bom senso prevaleça e não ocorra a precipitação oportunista, pois as conseqüências podem ser funestas.



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