Tricologia

Produtos Capilares

Março/Abril 2006

Valcinir Bedin

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Valcinir Bedin

É importante ressaltar que, por definição, e até por lei, é considerado criança um indivíduo com até 12 anos de idade. Nesta fase da vida a pessoa não responde pelos próprios atos, tendo, portanto, um tutor que, na ausência dos pais, tutores naturais, pode ser o próprio Estado.

Por que estas considerações? Porque temos visto, de uma maneira que, no nosso entendimento, beira a irresponsabilidade, campanhas publicitárias instigando crianças de bem tenra idade ao uso de produtos cosméticos.

A pele da criança não difere muito, do ponto de vista anatômico, da pele de uma pessoa adulta, a não ser no quesito mais importante para o uso de produtos tópicos, que é a absorção e a defesa imunológica. Então, quando se pensa um produto específico para esta faixa etária, deve-se pensar sempre neste quesito.

As células de Langerhans e de Merckel, presentes na nossa pele e responsáveis pelo sistema de informação imunológica, têm de “aprender” durante a vida, para que se tornem eficientes naquilo para o qual foram feitas, a preservação imunológica. Entenda- se aí, além de eventuais doenças, as dermatites mais comuns, como a de contato por irritante primário e por sensibilização.

Com relação especificamente aos pêlos e cabelos, sabemos que, na pré-puberdade o corpo não produz hormônios sexuais e que estes estão muito ligados a esses anexos. Assim é que vamos encontrar na infância infecções fúngicas no couro cabeludo que não encontramos na fase adulta, a não ser que o indivíduo tenha alguma complicação no seu sistema imunológico.

Os cabelos podem ser sítio de algumas síndromes que apresentam quadros dermatológicos, chamadas de genodermatoses.

As mais importantes são: síndrome de Netherton (cabelos em forma de bambu), síndrome dos cabelos impenteáveis (na qual a forma da haste, estabelecida por informações genéticas, faz com que esta fique sempre “armada”), ticotiodistrofia, na qual o metabolismo do enxofre está alterado, fazendo com que os cabelos fiquem com aparência de “rabo de tigre”. Há perdas capilares, em situações de psiquismo alterado, como na tricotilomania, na qual a criança acometida por este mal arranca cabelos ou pêlos e, quase sempre, os engole! Outra perda importante se dá nos quadros de alopecia areata, quando se perdem, temporariamente, áreas de cabelos ou pêlos corporais.

Mas, em se tratando de crianças sem problemas nesta área, os produtos capilares podem ser os mesmo utilizados pelos adultos?

Vamos começar com os mais básicos: shampoos e condicionadores. Como os cabelos infantis, geralmente são virgens de tratamentos químicos, e como as crianças não produzem a mesma quantidade de sebo que os adultos, uma vez que não têm os estímulos hormonais, os shampoos e condicionadores devem levar em consideração estes dois fatores.

Houve um momento quando os shampoos infantis eram fabricados com substâncias anfóteras, que não ardiam nos olhos, mas, descobriu-se que, ao invés de ser um benefício, este atributo podia ser uma fonte de agressão a córnea, uma vez que não havia o ardor e a dor como fatores de afastamento do agente agressor.

Com relação a tinturas e colorantes, o nosso entendimento é que só deveriam ser utilizados, muito eventualmente, os que se sobrepõem a cutícula, uma vez que agentes mais agressivos podem danificar a cutícula definitivamente.

Com relação aos modificadores do formato da haste somos frontalmente contra a sua utilização em menores de 12 anos. Na adolescência, com ressalvas.

Géis, mousses e produtos de estilo podem ser utilizados sem problema, uma vez que, ficam apostos na haste. O único risco seria, como em todos os outros, o da dermatite de contato quando estes produtos atingirem a pele ou mucosas.

Mais do que em relação aos produtos para adultos, os produtos infantis devem se reger pela parcimônia, na qual o adágio menos é mais e sempre valioso.



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