Toxicologia

Buscas e desafios

Novembro/Dezembro 2009

Dermeval de Carvalho

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Dermeval de Carvalho

A verdadeira história do nascimento dos cosméticos pode estar relacionada ao costume dos homens de tingirem o corpo, atendendo ao desejo de ficar com melhor visual, que data de provavelmente 4000 a.C., creiam vocês. Desde outrora até nossos dias, os cosméticos estão mais integrados ao cotidiano das pessoas, ornamentando-as e tornando-as expostas a inúmeras substâncias químicas, pois a pele representa uma porta aberta à absorção sistêmica.

Os usuários contam com muitas publicações em revistas de fácil acesso (por vezes trazendo informações que nada os ajudam; apenas os brindam com imagens apelativas e lindos momentos televisivos).

Quando a abordagem toma rumo no sentido da segurança de ingredientes cosméticos, horizontes “nos quais a terra e céu se encontram” simulam pequenos caminhos, mas quanto mais nos aproximamos do imaginário encontro entre céu e terra, maiores se tornam as caminhadas.

Como trabalhar para diminuir a caminhada e buscar o risco menor possível. Risco cosmético: o que é isto? Verdade ou ficção científica?

Para a comunidade científica, a regulatória e o setor produtivo, o PubMed constitui excelente banco de dados, especialmente por ser de custo zero. No referido banco de dados foi constatada presença de 49.903 e 89.032 publicações, respectivamente relacionadas às palavras-chave “cosmetic” e “toxicology”. Certamente, se outras palavras tivessem sido objetos de busca, os números acima seriam bem maiores. Ratifica essa afirmação recente publicação (Regulatory Toxicology and Pharmacology 49:208-216, 2007), que enfatizou a necessidade de banco de dados atualizados, dia a dia, para a avaliação de segurança de ingredientes cosméticos. Mesmo com o rigor exigido, algumas publicações chegam, por vezes, a ser maldelineadas, com resultados conflitantes e de frágil fundamentação científica, mostrando a carência na formação de recursos interativos das ciências toxicológicas e cosméticas. Certamente, outras fontes importantíssimas, sites de órgãos regulatórios e entidades institucionais (mantidas pelo setor produtivo) constituem também fonte de alto valor informativo (por exemplo, http://ncbi.nlm.nih.gov).

Certamente, uma boa formação escolar conta como primeira etapa desse processo; já os cursos de especialização, mestrado, doutorado e pós-doc constituem, hoje, exigência para aqueles que pretendem ingressar no setor de pesquisas patrocinado pelas universidades, institutos e centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de grandes empresas do setor. Mas não é somente isso: o grande nó a ser desfeito está na dificuldade de realizar parcerias entre as universidades e o setor produtivo; a primeira tem dificuldades para vencer seus próprios nós e, especialmente, seus complicados projetos pedagógicos, enquanto que o segundo não dispõe de tempo para esperar que os nós sejam desfeitos e a corda passada a ferro quente.

Um grande e verdadeiro exemplo do crescimento integrado da Toxicologia e da Cosmetologia foi evidenciado por ocasião do VII World Congress on Alternatives & Animal Use in the Life Sciences, realizado em Roma, de 30 de agosto a 3 de setembro passado. Uma pausa para os nós: nesse evento foi apresentado um grande número de trabalhos de alto valor científico (por meio de apresentação oral e pôster). Palestrantes da academia, órgãos regulatórios e da iniciativa privada dividiam o mesmo espaço e o mesmo lado da verdade científica, é no que queremos firmemente acreditar. Essa foi a razão do encontro. Ainda mais surpreendente: de viva-voz ouvimos o pronunciamento de que determinado organismo estava disponibilizando, para pesquisas, nada mais do que 50.000 milhões de euros, especialmente dedicados à validação de métodos alternativos. Lembrem-se: o uso de animais de experimentação, para certos fins, já está banido.

O Brasil, terceiro mercado cosmético do mundo, também não está parado. Um bom exemplo disso vem sendo dado pela Sociedade Brasileira de Toxicologia que, nos seus últimos quatro eventos, trouxe para discussão temas nos quais as ciências toxicológicas e cosméticas foram figuras de destaque. Conferencistas do Brasil e exterior estiveram presentes. O tema “Ciências Toxicológicas e Segurança de Ingredientes e Produtos Cosméticos” também foi tema do Seminário de Atualização em Cosmetologia, ocorrido em São Paulo (SP), no mês de outubro.

Um importante passo destinado à formação de recursos humanos, especialmente à segurança e aos aspectos regulatórios de ingredientes e cosméticos, acaba de ser dado.

A Associação Brasileira de Cosmetologia apresentou, conforme determinação da Resolução nº 444/06 do Conselho Federal de Farmácia, o curso “Cosmetotoxicologia: Avaliação de Segurança e Regulatória”, com carga horária de 420 horas, e início previsto para o mês de fevereiro de 2010. Programação científica inteiramente voltada ao tema proposto, corpo docente altamente qualificado, mestres e doutores das mais importantes universidades e centros de pesquisa do País, por certo serão garantia de um curso de qualidade para o corpo discente.

As ciências toxicológicas e cosméticas aguardam novas contribuições.



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