Toxicologia

Henna - Milênios de uso e avaliação de segurança

Novembro/Dezembro 2007

Dermeval de Carvalho

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Dermeval de Carvalho

A partir da extração e tratamento adequado das folhas de Lawsonia inermis, Lythraceae – genericamente: henna, pó de henna, Lawsonia Alba, henna pulverizada e raiz de henna, obtém-se um pó de coloração verde-escuro empregado ao longo de quatro milênios como tintura para os cabelos e tatuagem (Food and Chemical Toxicology 42:517-543, 2004).

Como tintura capilar semipermanente, tem sido utilizada, por aplicação, cerca de 20 g do extrato vegetal, que contém de 200 a 300 mg do seu ingrediente ativo - Lawsone, quimicamente, 2-hidroxi-1,4- aftoquinona-HNQ (CAS 84.988-66-9), além de outras substâncias.

As tinturas que contêm HNQ são preparadas nas concentrações de 1,20 a 1,50%. Assim, segundo normas do FDA - CFR 73.2190, o uso do Lawsone como tintura capilar é permitido, mas com restrições. Como ingrediente cosmético não consta no Anexo 4 da Directive 76/768/EEC, porém está presente na forma de pasta para decoração da pele (tatuagem).

Embora não sendo o foco desta coluna, o tema tatuagem deve ser visto como crescente moda do mundo moderno merecendo, inclusive, a publicação “Cosmetic tattooing (J Compilation 46:456-462, 2006). Mas esta palavra chave deve ser analisada como problema de saúde pública, não podendo ser preterida pelas autoridades sanitárias, pois a sua prática pode constituir-se sério vetor de doenças transmissíveis (European Commission – Institute for Health and Consumer Protection 2003). É interessante dizer que na tatuagem os extratos são aplicados na pele usando-se dispositivos especiais cujo resultado – o escurecimento – ocorre de 2 a 6 horas. Entretanto, artifícios para diminuir este tempo têm sido empregados mediante o uso de adjuvantes químicos (Contact Dermatitis 55:26-29, 2006).

Como lei básica, todo ingrediente cosmético deve ser seguro nas condições de uso. Embora ainda restritas, as publicações científicas não são conclusivas quanto à toxicidade, especialmente, a genotóxica da HNQ, fato que tem sido justificado face à complexidade dos ensaios (Mut Res 62:383-387, 1979 – id. 537:183-199, 2003 – id. 560:41-47, 2004 e Food and Chem Toxicol 42:517-543, 2004).

Contrariando as informações acima referidas, em 2002, o Scientific Committee on Cosmetics and non Food Products (SCCNFP), atualmente Scientific Committee for Consumer Products (SCCP), avaliou, para a HNQ, os resultados préclínicos que se seguem: toxicidade dérmica, irritação e corrosividade dérmicas, irritação de mucosas, sensibilização cutânea, absorção percutânea, toxicidade com doses repetidas, mutagenicidade e genotoxicidade. O Comitê concluiu que as informações submetidas à apreciação são insuficientes para avaliar a segurança da HNQ como tintura capilar (SCCP-0943/05).

Trabalho recentemente publicado (Cut Ocul Toxicol 26:45-56, 2007) determinou a extensão da absorção in vitro através do emprego de células de difusão. Os autores usaram 4 preparações disponíveis no mercado, as quais foram adicionadas de HNQ contendo 14C e aplicadas às células de difusão, simulando as condições de uso. Durante o estudo, os seguintes parâmetros foram avaliados: tempo de exposição, concentração no fluido receptor, no estrato córneo, na epiderme, na derme e concentração total remanescente. Concentrações maiores da dose aplicada permaneceram no estrato córneo.

À ciência cabe o questionamento; sendo que tal questionamento requer tempo, trabalho, planejamento, integração do conhecimento, e mesmo assim ainda podem persistir as incertezas. A extensão da penetração/absorção dos ingredientes cosméticos, predominantemente de uso tópico, ontem impossível de ser quantificada devido às baixas concentrações utilizadas e técnicas inadequadas, hoje já conta com dispositivos e recursos analíticos altamente sensíveis e específicos. Esta afirmação tem facilitado muito a avaliação de segurança de ingredientes cosméticos.

Portanto o cientista vê o presente com os olhos no futuro.

Dimitri I. Mendeleyev publicou, em 1869, a primeira tabela periódica com os 60 elementos químicos conhecidos e ainda pôde prever espaços para outros. Herman Beigel, também, no mesmo ano, foi o primeiro cientista a se preocupar com a segurança de tinturas capilares onde sustentou a tese de que elas não podem causar danos à saúde (Beigel H., 1869 – The Human Hair Piper-London).



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