Boas Práticas

Qualidade e integridade

Setembro/Outubro 2009

Carlos Alberto Trevisan

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Carlos Alberto Trevisan

As Boas Práticas de Fabricação e Controle (BPF e C), uma das ferramentas da Qualidade, e talvez a mais importante, têm um aspecto que poucas vezes é abordado com a devida importância.

Refiro-me à relação existente entre os conceitos de qualidade e de comportamento dos Administradores quanto à prática das BPF e C.

Devido às minhas atividades nas mais diversas empresas, geralmente me deparo com aqueles programas de motivação de colaboradores, com o estabelecimento de objetivos de redução de custos, criação de indicadores de melhorias, entre outros, que, aos olhos dos desavisados, podem levá-los a crer que a organização tem efetivamente compromissos com os referidos programas.

Se formos à busca das razões para que existam tais programas, que em nada se parecem com processos, concluiremos que se aqueles forem efetivamente implantados não alcançarão o resultado esperado.

Apenas para iniciar com um exemplo, fiz o seguinte questionamento:

É possível estabelecer um programa de redução de custos por meio de colaboradores que não sabem o que são custos?

O pior é que, por falta de conhecimento, as propostas apresentadas não são factíveis de ser implantadas, pois a origem dos custos é totalmente desconhecida pelos proponentes.

Existem casos em que aparecem propostas como a de redução do percentual de determinado componente da formulação. Propostas assim são feitas por quem não tem a mínima ideia do motivo pelo qual esse componente foi incluído na composição do produto.

Outra proposta geralmente apresentada é relativa às atividades de avaliação e sugere a diminuição da quantidade de parâmetros avaliados, sem nenhuma preocupação em conhecer a razão da necessidade da referida avaliação.

Posso também mencionar a proposta de eliminar o uso de papel-toalha nos lavatórios ou a de redução da quantidade de uniformes entregues aos colaboradores.

Menciono essas propostas para ressaltar que, quando elas são apresentadas, em nenhum momento é considerado seu impacto nocivo, quando não destruidor, e que, se fossem implementadas, causariam às BPF e C.

Para um simples exercício, sugiro ao leitor acompanhar as seguintes ponderações:

1 – Alterar a formulação para reduzir a concentração de determinado componente poderia trazer como resultado um produto sem ou com baixa eficácia.
2 – Diminuir o número de parâmetros de analíticos poderia colocar em risco a segurança do produto ou dos ingredientes.
3 – Restringir o consumo de papel-toalha iria trazer repercussões negativas nos princípios de higiene.
4 – Reduzir a disponibilidade de uniformes diminuiria a frequência com que seriam trocados, aumentando os riscos de contaminação do produto.
O leitor pode ter ficado chocado com esses fatos e ponderações, e suas implicações nas BPF e C, mas o objetivo desta exposição é justamente tornar explícito que em nenhuma das propostas, com certeza, ocorreu aos autores avaliar o impacto que elas teriam sobre a qualidade.

Para ilustrar essa afirmação, gostaria de relatar o caso vivenciado por um colega em uma empresa que implantou um programa de conscientização dos colaboradores, para envolvê-los nos planos de crescimento da empresa. Em nenhum momento, durante a apresentação do programa, foi mencionado o tema Qualidade!

Quero deixar claro que o compromisso com a Qualidade não torna mandatório fazer que os objetivos sejam alcançados, mas, sem este compromisso, os riscos de não alcançá-los serão cada vez mais eminentes, pois a atenção dos colaboradores sempre estará voltada para outra direção.

Pergunto: como é possível criar um programa de motivações sem que a maior delas, a de satisfazer necessidades e expectativas dos clientes com produtos e serviços de elevado nível de qualidade, seja atendida pelo fabricante?

Gostaria que o leitor refletisse sobre os tópicos apresentados e tirasse suas conclusões.



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