Toxicologia

Segurança de produtos cosméticos: um constante desafio

Março/Abril 2008

Dermeval de Carvalho

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Dermeval de Carvalho

T indústria cosmética vem utilizando na produção de suas formulações cerca de 13.000 substâncias químicas com mais de 30.000 diferentes denominações comerciais. Com o mercado em franca expansão, graças ao uso mais difundido, a indústria cosmética tem peso no valor da balança comercial de alguns países (Pharmacological Research 53:16-21, 2006).

Na avaliação de segurança de ingredientes e produtos cosméticos tem pesado aqueles eventos relacionados: à toxicidade do ingrediente, ao produto acabado, ao usuário e ao meio ambiente. Dos fatores acima alinhados, quando desmembrados, de 30 a 35 variáveis seguramente participam de um programa de avaliação de segurança interativo - químico/biológico/ regulatório - que exige rigoroso protocolo e delineamento científico que garanta as boas práticas de fabricação, laboratoriais e clínicas. Mesmo com as exigências pressupostamente requeridas, e cercada de tantos cuidados, risco zero aos usuários está fora de cogitação.

Outra importante abordagem a respeito da segurança pós-comercialização está relacionada às reações adversas (RA), consideradas de incidências relativamente baixas, atribuídas à fragilidade de diagnósticos médicos e pela falta de sistemas de notificação, os quais não podem ser ignorados, (Acta Venearol 84:291-295, 2004), exceção feita a perfumes e fragrâncias (Am J Clin Dermatol 4(11):789-98, 2003), tinturas capilares (Int J Câncer 91:575-9, 2001, Critical Reviews in Toxicology 37:521-536, 2007) e desodorantes (J Appl Toxicol 23:89-95, 2003).

A segurança de produtos cosméticos se sustenta quando informações precisas a respeito da exposição são conhecidas. Loretz e cols. (Food and Chemical Toxicology 43:279- 291, 2005) avaliaram 360 mulheres de 19 a 65 anos, de 10 áreas geográficas dos Estados Unidos, quando expostas às seguintes preparações: batom, loção para o corpo e creme facial. Para tanto, quantidades utilizadas, número de aplicações, área corpórea, compilação dos dados obtidos e análise estatística foram apreciados. Os autores concluíram que os dados obtidos poderão ser utilizados na avaliação do risco. Ainda na mesma linha de trabalho, Loretz e cols. (Food and Chemical Toxicology 2007-Accepted Manuscript) relataram a exposição a condicionadores capilares, produto de limpeza facial e sombra para os olhos.

Hall e cols. (Food and Chemical Toxicology 45:2097- 2108, 2007) desenvolveram um estudo em parceria com fabricantes cosméticos na Europa com a finalidade de construir um modelo populacional probabilístico que pudesse ser utilizado na avaliação da exposição. Os autores concluíram que o modelo poderá servir para futuras avaliações na exposição populacional às substâncias químicas e produtos cosméticos.

Revisão da literatura, utilizando-se palavras-chave “exposição e Cosmetovigilância” permite recolher milhares de publicações cujo foco pode atender às diferentes áreas na avaliação de segurança como, por exemplo, os trabalhos “Cosmetovigilance survey: are cosmetic considered safe by the consumers?” e “A Cosmetovigilance Survey in Europe”, publicados em Pharmacology Research (53:16-27, 2006 e 55:455-460, 2007), respectivamente. O último deles é importante, pois comenta sobre países com sistemas de notificação e projetos futuros.

Isto dito, pergunta-se: qual deve ser a participação do setor produtivo e regulado para a implantação de sistemas para o monitoramento de possíveis RA aos usuários de produtos cosméticos? Para a pergunta formulada, a resposta ficaria facilitada se o Brasil já contasse com um sistema de Cosmetovigilância atuante. Mas a Anvisa, conforme referido no Art.1º da resolução RDC nº 322/05, determina que “as empresas fabricantes e/ou importadoras de Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes, instaladas no território nacional, deverão implementar um Sistema de Cosmetovigilância, a partir de 31 de dezembro de 2005”. Verdade seja dita: o resto do mundo não está tão a frente do nosso País.

Melhor sistema de divulgação através da mídia, abertura direta de canais de comunicação, envolvendo os setores produtivo/regulatório/usuário, deve mostrar dados robustos em relação à RA.



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