Tricologia

Neurocosméticos e produtos capilares

Novembro/Dezembro 2008

Valcinir Bedin

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Valcinir Bedin

A pele é dotada de um sistema particular e efetivo de comunicação e controle cuja função é proteger o organismo do meio ambiente. Este sistema engloba um outro sistema altamente denso e especializado de nervos autônomos e sensoriais distribuídos por todas as camadas da pele. A informação que passa por essa rede é processada no sistema nervoso central e pode produzir uma reação inflamatória, por meio da propagação dos impulsos. A atividade de resposta de um nervo pode ser determinada por neuropeptídeos liberados e receptores das estruturas-alvo correspondentes.

A beta-endorfina é um neurotransmissor peptídeo produzido sua maior parte no sistema nervoso central onde promove efeito analgésico e sensação de euforia quando ligado a receptores opiáceos. Já está provado que existe um sistema complexo e funcional de receptores de endorfina na pele. A beta-endorfina estimularia a migração de queratinócitos e estaria envolvida nos processos de reparação de feridas. Estariam também envolvidas no processo de bronzeamento. A importância do papel dos hormônios sobre os neurônios e sua correspondente reação química tem causado muito interesse na indústria de cosméticos. As recentes descobertas de que não somente o sistema nervoso central, mas também a pele é influenciada por beta-endorfinas e receptores opiáceos levaram ao desenvolvimento de novos ativos que têm propriedades semelhantes às da endorfina. Em 2007, no programa do Encontro Anual da Sociedade Norte-americana de Químicos Cosméticos, em Nova York, foi feita a primeira menção oficial a uma nova categoria de cosméticos, denominada “neurocosméticos”. Isso se deveu ao fato de os profissionais terem descoberto o sistema nervoso cutâneo.

Mas, afinal, o que é realmente um neurocosmético? É um produto que contém substância ativa cujo alvo são as terminações nervosas sensíveis ao calor, frio, dor, prurido e pressão. Esses receptores enviam sinais por meio de fibras da pele para a coluna e, em seguida, para o córtex cerebral.

Como exemplo mais simples temos o etanol, que age por meio da evaporação, criando uma sensação de frio. Outros compostos, como o éter ou aldeído acético, são até mais potentes. Entretanto, a evaporação é um modo de ação que não qualifica estes materiais como neuroativos.

Cosméticos agem sobre neurônios há muito tempo. O efeito refrigerante do mentol é um exemplo. O mentol, que age sobre termorreceptores para dar a sensação de frio, também pode causar a sensação de dor ou calor. Da mesma forma, a capsaicina pode causar sensação de calor. Obviamente, inúmeros ingredientes químicos podem desencadear impulsos nervosos.

Hoje temos as neurotrofinas, uma família de fatores de crescimento polipeptídeos. O mais importante membro desta família é o Fator de Crescimento Nervoso (NGF, sigla em inglês), necessário para a sobrevida de algumas classes de neurônios, incluindo alguns da pele. Testes mostraram que fatores neurotróficos, derivados do cérebro, regulam alguns mecanoreceptores cutâneos. Uma vez que a preservação da rede neurocutânea é benéfica para a pele, esta preservação é o local lógico da ação dos neurocosméticos.

Sabe-se que o NGF, como quase todos os compostos bioquímicos na natureza, diminuem sua atividade com o tempo. Acetilcolina, dopamina, adrenalina e serotonina são alguns exemplos de químicos neuroativos.

Peptideos biomiméticos, produzidos sinteticamente, podem replicar uma seqüência pequena, mas ativa, de aminoácidos neuromoduladores e torná-los disponíveis na derme. Uma vez que os dipeptídeos podem ser atacados por enzimas da pele, dipeptídeos decarboxilados têm sido usados para evitar esta destruição enzimática, enquanto mantêm a atividade semelhante dos neuropeptideos naturais. Algumas empresas já têm utilizado estes peptídeos em seus produtos finais, alguns em combinações com extratos vegetais e botânicos. Ainda não temos notícia da utilização dos neurocosméticos nos processos de tratamento dos problemas capilares, mas nos parece ser só uma questão de tempo.

Entender os processos do envelhecimento cutâneo e dos cabelos ainda está longe do fim, mas as possibilidades de se criar produtos novos e mais eficazes parece ser interminável. Os neurocosméticos são apenas um passo nessa direção.



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