Toxicologia

Cosmético seguro - não faça pequenos planos

Novembro/Dezembro 2008

Dermeval de Carvalho

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Dermeval de Carvalho

O uso de produtos cosméticos está presente ao longo dos séculos, enriquecido com historias, fatos hilariantes, curiosos e inacreditáveis (à luz do atual conhecimento científico) não constituem novidade àqueles que vêm trabalhando na área. O preparo do “cosmético da época”, por parte dos povos bizantinos, entre outros, mostrava a grandeza do empirismo, a crença na alquimia e a busca da preparação desejada, hoje ricamente rubricado como pesquisa e desenvolvimento.

Sem dúvida a beleza, a aparência pessoal e a sensação de bem-estar - hoje tipificados como parte integrante da qualidade de vida - já eram razão e motivo de forte interesse daqueles povos, mas a segurança, embora não documentada, não os preocupava.

Vejamos: conforme relatado em um dos mais antigos documentos - no Papiro de Ebers (1500 a.C) - alguns venenos já foram citados como metais pesados e plantas, provavelmente ingredientes utilizados nas primeiras preparações cosméticas. A História da Toxicologia reconhece Hippocrates (400 a.C), Theophrastus (370-286 a.C), entre outros, como parte do acervo científico e cultural das Ciências Toxicológicas.

A Idade Média marca a presença de Madame Toffana e sua clássica preparação cosmética - água de Toffana – que continha arsênico; na idade tida como a do esclarecimento científico, princípios e fundamentos da toxicologia, vários nomes poderiam ser citados, mas o imortal pronunciamento de Paracelsus (1493-1541): “All substances are poison; there is none which is not a poison. The right dose differentiates a poison from a remedy”, tem sido consagrado pelo tempo e se aplica, conseqüentemente, a qualquer situação onde ocorre a exposição.

A moderna Toxicologia cresceu, de forma assustadora, a partir da Segunda Guerra Mundial, graças à Toxicologia Analítica, mecanismos de ação dos xenobióticos e estudos interativos. A Toxicologia do século XXI constitui-se como desafio ao conhecimento das respostas celulares, permitindo à Ciência desvendar como os agentes ambientais, vistos de forma global, podem caminhar pelos trilhos que conduzem à toxicidade, resultando efeitos adversos a saúde (Toxicity testing in the 21st century - A vision and a strategy, The National Academies Press, Washington D.C., 2007).

A integração multiprofissional e multidisciplinar, a crescente interação entre sociedades científicas afins, a percepção de que as moléculas utilizadas em produtos cosméticos devem ser tratadas à semelhança daquelas usadas para outros fins têm permitido o conhecimento de parâmetros essenciais na avaliação de toxicidade do ingrediente cosmético. A título de ilustração, recente publicação divulga trabalho onde discute com riqueza científica os prováveis mecanismos envolvidos nos processos de irritabilidade cutânea, resultantes da exposição a peles sensíveis (Dieamant e cols., Neuroimmunomodulatory compound for sensitive skin care, International Journal of Toxicology 134(16): 28-39, 2008).

Toda a evolução do conhecimento, envolvendo segurança, seria em vão se não houvesse plena integração acadêmica, órgãos de fomento à pesquisa, órgãos regulatórios e setor regulado. A academia - o conhecimento científico - cujos resultados devem ser expressos na forma de publicações em revistas de impacto científico. Aos órgãos regulatórios competem o difícil e necessário mister de assegurar e garantir a saúde dos usuários. O setor regulado, do que sabemos, tem procurado estar pronto ao entendimento e parcerias com os órgãos de regulamentação, academia e agências de fomento, inclusive motivando reuniões técnicas e científicas de alto alcance.

Para fins de harmonização, estudos regulatórios comparativos, entre organismos de diferentes países, deve ser objeto de constante preocupação, se possível com a mesma velocidade que se pratica a comunicação eletrônica, pois o que se discute hoje em pesquisa e desenvolvimento poderá, no dia de amanhã, ser produto acabado, estar do outro lado do globo, porém os desdobramentos sanitário e econômico não podem ser meras expectativas (Comparative study on cosmetic Legislation, European Commission, DG, 2004).



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