Boas Práticas

Custo versus benefício

Novembro/Dezembro 2008

Carlos Alberto Trevisan

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Carlos Alberto Trevisan

O título desta coluna, aparentemente, pode ser considerado estranho quando se trata das Boas Práticas de Fabricação e Controle (BPFeC). Alguns até poderão dizer que há alguma incongruência nessa afirmação, pois a aplicação das boas práticas sempre irá trazer benefícios.

Embora seja defensor dessa tese, até por dever de ofício, fiquei pasmo quando, durante uma apresentação da técnica das BPFeC, um participante, ao avaliar algumas das recomendações que fiz, reagiu com o seguinte comentário:

- Mas antes da sua implantação deve se levar em conta o custo versus benefício.

Após alguns instantes, para que pudesse me recuperar do susto, respondi:

- Mas qualidade não é benefício.

Cito este acontecimento como testemunho do que venho afirmando na maioria dos textos desta coluna.

Quando afirmo convicto que as BPFeCs quando são implementadas na maioria das empresas o são por imposição dos órgãos reguladores, muitos discordam dizendo que não é verdade.

Nossa experiência mostra que a maioria das empresas ainda tem uma noção distorcida da realidade quando dizem que como não recebem reclamações de seus clientes, ou se recebem são em número estatisticamente não-relevante, o nível de qualidade de seus produtos está adequado.

A tendência de se considerar os valores financeiros requeridos pela implantação das BPFeCs como custo está ainda muito arraigada; a tal ponto de ao visitar uma empresa e comentar as necessidades de adequação, invariavelmente, as perguntas são:

- Temos mesmo que fazer isso?

- Qual o dispositivo legal que nos obriga a cumprir essa exigência?

Ou escutamos afirmações do tipo:

- Faz tanto tempo que não recebemos inspeção sanitária e, quando da última vez, nada foi comentado.

- Estamos no início, mas quando a empresa crescer faremos o que for necessário.

Voltando ao custo versus benefício, ainda estamos pesquisando para encontrar uma justificativa de como alguém em sã consciência pode considerar a utilização dessa ferramenta como apenas custo que não traz benefício.

Com freqüência converso com profissionais das várias áreas do comportamento na tentativa de encontrar uma justificativa para essa atitude, mas até o presente momento não foi possível.

A justificativa mais plausível é que as pessoas, quer na sua individualidade, quer quando personificam a empresa, não admitem que seu trabalho não seja de boa qualidade.

Esta consideração foi comprovada por mim quando, em conversa com o proprietário de uma empresa, ele afirmou:

- A operação na minha empresa já alcançou alto nível de qualidade e estou satisfeito com isso. Se eu participasse de cursos e seminários sobre esse tema estaria dando testemunho perante os meus concorrentes de que o nível de qualidade da minha empresa ainda não é o suficiente.

Pode o leitor avaliar o que senti ao ouvir este impropério?

Se o prezado leitor considera esta narrativa um exagero de minha parte e algo incomum, posso afirmar de que se trata de um conceito generalizado e, muitas vezes, aceito por pessoas envolvidas em supostos programas da qualidade.

O quadro fica ainda mais crítico quando colaboradores da empresa estão participando de treinamento e no intervalo se aproximam e comentam:

- Que bom se meu chefe ouvisse isso...

Quando ouço essa afirmação, o primeiro impulso contido é de dizer ao interlocutor para que vá buscá-lo, mas a prudência me impede de fazer isso.

Portanto, prezado leitor, ainda ficou alguma dúvida se é custo ou é benefício?



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