Toxicologia

Métodos alternativos e ingredientes cosméticos

Julho/Agosto 2008

Dermeval de Carvalho

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Dermeval de Carvalho

A avaliação da toxicidade, envolvendo o uso de substâncias químicas, não importa para qual utilidade, tem crescido de maneira avassaladora, notadamente nos países desenvolvidos. Esta realidade tem motivado desdobramento da clássica Toxicologia em áreas do saber, que lhes são pertinentes, resguardado princípios e fundamentos, gerando centros de excelência junto à academia, órgãos regulatórios e setor regulado. Acrescente-se a este desenvolvimento, a integração multiprofissional e disciplinar que agrega robustos conhecimentos de patologia, epidemiologia, genética, bioquímica molecular e avaliação do risco, necessários à avaliação de toxicidade.

No Brasil, embora de maneira ainda muito tênue, algo já está sendo colocado em prática. O desenvolvimento da Toxicologia no Brasil, quali-quantitativo, tem crescido de maneira razoável, graças às atividades dos cursos de pósgraduação. Entretanto, o conservadorismo tem inibido o seu crescimento, contrariamente ao que acontece nos países desenvolvidos. Desde que meios não obstruam propostas de interesse, poderemos contar com grande parceiro - o Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit), órgão do Ministério da Saúde (www.saude.gov.br). O Decit veicula no boletim Oficina de Prioridades: “Saúde define prioridades de pesquisas para 2008, enfatizando a criação de centros de Toxicologia para a realização de ensaios pré-clínicos”. Uma boa notícia.

Qual a urgência destes testes?

“REACh and the consequences for Natural Ingredients” artigo publicado por Ritzman (International Journal for Applied Science 134(4): 24-31, 2008, discute a necessidade e aplicabilidade desta legislação implantada pela Comunidade Européia em junho de 2007, para fins de avaliação de toxicidade de substâncias químicas de uso diário, produtos naturais (leia-se ingredientes cosméticos), entre outros. Pergunta- se: qual a relação desta legislação com os métodos alternativos? A resposta é simples: a segurança dos usuários, passíveis à exposição de tantas substâncias químicas, está acima de qualquer grandeza. Os métodos alternativos já validados, ainda em validação e em desenvolvimento são atalhos valiosos.

Métodos alternativos: parcerias necessárias. Como viabilizá- las?

Criado em 1992, sediado em Ispra (Itália), o Ecvam (www.ecvam.org) trabalha na validação de métodos alternativos, mantém e controla base de dados, promove o diálogo entre órgãos reguladores, indústrias, comunidade científica, organização de consumidores e sociedades protetoras dos animais, contando com inúmeros laboratórios e órgãos dos estados-membros da Comunidade Européia.

Criado em 2005, na Suécia, o projeto “ACuteTox” pode servir de modelo e estímulo à implantação de núcleos interativos na busca de estratégias simples e robustas necessárias à avaliação de toxicidade sistêmica.

Nele participam 35 pesquisadores, 13 países da Comunidade Européia, academia e indústria (Atla 35:33- 38, 2007). Em razão da dimensão continental do Brasil, este modelo, atende às nossas necessidades, merecendo especial desvelo.

Perspectiva brasileira

A integração empresa/ escola, já praticada em países desenvolvidos e/ou em desenvolvimento, tem-se mostrado benéficas às partes, pois se para o primeiro parceiro a segurança e qualidade são palavras de ordem, ao segundo fica facilitada a capacitação do docente e formação de neoprofissionais aptos para enfrentar o difícil mercado de trabalho. Se pensado de outra forma, o nanismo científico permanecerá entre nós.

Deixar somente por conta de um “patrão” é pedir muito

Precisamos do apoio financeiro institucional, cultivado ao longo dos anos através de pesquisas acadêmicas, dos programas implantados pelo Ministério de Ciência e Tecnologia/ Finep, BNDES (apoio à inovação), Agência USP de Inovação Tecnológica e órgãos de regulamentação. Precisamos, também, que universidades privadas sejam despertadas, pois contam com grande fatia do ensino superior, que disponibilizem recursos financeiros e, se agreguem à pesquisa, à semelhança do que já vem sendo feito, em parte, pelo setor produtivo.



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