Mercado

Consumo em movimento

Julho/Agosto 2008

Carlos Alberto Pacheco

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Carlos Alberto Pacheco

Consumo: palavra proibida em alguns círculos da sociedade e palavra de ordem em outras esferas.

Polêmicas à parte, o importante é saber que no meio do processo de consumo está o consumidor. E quem é ele?É urgente encontrarmos uma resposta para esta pergunta, pois, afinal, já são 185 milhões de habitantes no quinto maior país do planeta. Uma quantidade tão grande de pessoas se movimentando no sentido de aumentar o consumo, sem dúvida vai mexer com a estrutura de muitos negócios.

O país, em transformação, vive uma transição demográfica que deixou de ser uma tendência e passa a ser uma realidade. Dos cerca de 147 milhões de habitantes, em 1990, para uma estimativa de 198 milhões em 2010 representa aumento de quase 35% em 20 anos. Além do número, o interessante é que, em 2010, seremos uma população com 17% acima dos 60 anos (terceira idade) contra os 5% já existentes, com expectativa de vida passando de 72,8 para 76,1 anos, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). As mudanças vão além do tamanho da população e das faixas etárias, e atingem hábitos e costumes.

A cada ano concretiza-se a predominância da população feminina: hoje são mais de 2,7 milhões e, em 2010, deverão ser 3,8 em relação à masculina. Aliado a isto, a taxa de crescimento da população feminina economicamente ativa vem crescendo mais do que a masculina e a tendência é continuar. E mais: a taxa de crescimento da renda per capita feminina também foi e será maior. Neste sentido, o aumento do consumo de produtos cosméticos como protetores solares, produtos infantis e tinturas devem aumentar, bem como sopas prontas, eletrodomésticos e produtos típicos do universo feminino.

Cada vez mais, casais escolhem não ter filhos ou deixam para tê-los mais tarde e a atual média de filhos por mulher diminui de 2,2 para 2,0. Este fato representa mais mudanças, pois os gastos de uma população jovem com a manutenção de uma criança são direcionados para bens de consumo como móveis e decoração, refeições prontas (na cidade de São Paulo o potencial de consumo é de 14% do país), aumento do crédito da pessoa física e avanço de uma modalidade de compra ainda incipiente: o comércio eletrônico, conforme publicado em matéria da revista Exame (23/4/2008).

A pirâmide social deve engordar a fatia da classe C em detrimento das classes D e E. Em 2007, pela primeira vez, a classe C constituiu a maior parte da população (46%). Se considerarmos que a maioria dos produtores/vendedores pertence às classes A e B, o movimento de renda nesta faixa irá aumentar o consumo de produtos de alto valor agregado. Para os que não acreditam nisto, basta olhar o caos aéreo (parte por falta de infra-estrutura, parte pelo aumento da demanda) que indica que viagens aéreas deixaram de ser artigo de luxo e o binômio “redução de custo/aumento de renda” faz com que mais pessoas optem por este meio de transporte. Ainda não está convencido? Veja o trânsito caótico da cidade
de São Paulo: representando 12% do potencial de consumo do país, com 6% da população nacional (10,9 milhões), a cidade tem uma frota de cerca de 6,1 milhões ou, se preferir, 950 veículos por dia ingressam nas ruas da cidade, conforme a revista Veja (2/7/2008).

Com uma população idosa, com poder de consumo interessante em fase de crescimento, áreas como lazer e turismo devem aumentar os seus ganhos, o que já é uma realidade. Hoje, 43% do topo da pirâmide social, com ganhos acima de 10 salários mínimos, são pessoas com mais de 50 anos de idade. O perfil deste segmento também indica que são pessoas mais empreendedoras; portanto, mais ávidas pelo novo. O mercado cosmético, como a empresa Natura, já tem em seus planos o lançamento de cremes específicos para mulheres de 80 anos e o mercado de cosméticos masculinos se agita no sentindo de acompanhar os refinados gostos de homens de meia-idade que apreciam vinhos, charutos e não dispensam a manutenção da boa forma.

Mas nem tudo são flores neste mar de esperança consumista. Há riscos neste caminho!! O IPC - Índice de Potencial de Consumo de 2008 (Atlas do Mercado Brasileiro da Gazeta Mercantil) vem sinalizando algumas aberrações no consumo que podem nos levar a um futuro não tão brilhante: o estudo indica que os gastos com contas de celulares no país são 7,2% maiores que os gastos com educação fundamental de 1º e 2º ciclos. Os gastos com fumo se igualam aos gastos com frutas e são duas vezes maiores do que com livros. Sim, há perigos na esquina.

De qualquer maneira, entender este novo padrão de consumo, que vai se desenhando, será cada vez mais preponderante para aqueles que não quiserem ser engolidos pelas ondas da mudança.



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