Mercado

O Desempenho Econômico versus o Social

Janeiro/Fevereiro 2007

Carlos Alberto Pacheco

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Carlos Alberto Pacheco

O CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO continua anêmico, mas há uma parcela da população para a qual a renda cresceu a taxas muito superiores às da economia. Ao contrário dos anos 70 e até 80, quando o Brasil crescia ou se estagnava concentrando riqueza, os anos 2000 inauguraram um período de crescimento que vamos chamar aqui de “pró-pobres”.

Entre 2001 e 2004, a renda dos mais pobres cresceu a ritmo muito superior ao da renda per capita nacional, tendência que se repetiu em 2005 e, provavelmente, nos próximos anos do atual governo, conforme aponta os dados do IBGE.

Os números apontam que, apesar da economia claudicante, a população de baixa renda se saiu melhor em relação ao todo. Entre 2001 e 2004 a taxa de crescimento da renda per capita “pró-pobre” (os de baixa renda), foi em média de 3,1% a.a. contra uma queda na renda per capita geral de 1,35% a.a.

Um exemplo que corrobora com o mencionado acima pode ser visto no mercado de telefonia celular. Apenas em 2004 foram vendidos cerca de 25 milhões de aparelhos, sendo 14 milhões para novos usuários.

A contradição entre o desempenho ruim do ponto de vista econômico e o bom desempenho do ponto de vista social é perfeitamente explicado pelo constante destino de verbas do governo aos programas sociais implantado (“Fome Zero”, “Bolsa Escola”...), que de uma maneira ou outra aumentam a renda dos mais pobres. Ponto para o governo, pois isso indica que os gastos sociais têm sido importantes para a redução das desigualdades.

Essa realidade nos mostra a queda na desigualdade de renda brasileira, já que o abismo que os separa dos mais ricos foi reduzido, porém ainda um abismo quando olhamos aspectos como a inclusão digital, o acesso ao saneamento básico, o sistema de saúde e ensino e outros fatores de seguridade social. Em 2005 a renda dos mais pobres cresceu 8,5% contra 6% da renda média, e a previsão para o biênio 2006/2007 é que continuemos experimentando melhor distribuição de renda entre as classes sociais.

No entanto vale lembrar que a economia ainda reflete a velha máxima “o bolo precisa crescer para ser dividido” (Delfim Netto). É fato que a tendência de uma economia crescente tende a uma concentração de renda, a menos que o Estado aja de maneira a torná-lo mais justo. Vale lembrar que o Estado no Brasil é muito mais representado pelo governo do que do povo, pois a participação deste último na discussão dos assuntos macroeconômicos é simplesmente nula.

Acredito também que diminuir a diferença na renda per capita apenas crescendo o poder de consumo das classes mais pobres não seja a única saída para a solução do problema. Há necessidade do aumento de renda das classes mais ricas para que a geração de emprego esteja assegurada a fim de garantir o giro de capital, pois do contrário teremos uma involução social. A promessa nesse sentido são o PAC e a redução dos juros.

Como isso reflete no mercado cosmético? No Brasil sempre que há mais dinheiro em mãos há mais expectativa de consumo, diferente da cultura nipônica, que procura poupar. Sendo assim, a perspectiva do setor é de um consumo maior nesse segmento. O crescimento de 12,3% no ano passado (faturamento ex-works, ainda estimativa) em relação a 2005 é animador. O segmento tem a característica de movimentar uma grande força de trabalho feminina, principalmente no social que vem experimentando ganho na renda per capita.

Produtos voltados para essa classe tenderão a ser o foco dos lançamentos, principalmente os itens com apelos de manutenção do bem-estar. Acredito numa enxurrada de propaganda sinalizando a elitização de alguns produtos, com o intuito de fomentar o mercado, uma vez que os produtos cosméticos se prestam a mais do que apenas embelezar ou tratar, mas também a posicionar as pessoas na sociedade.

A participação da mulher no mercado de trabalho continuará alimentando dois grandes nichos: o de maquiagem e o infantil. Empresas fortes nestes segmentos deverão continuar disputando a atenção das consumidoras com produtos que mostrem brilho, hidratação, corretivos faciais, enquanto para as crianças a suavidade e segurança deverão ser as palavras de ordem.

Sem dúvida será um ano promissor em termos de taxa de crescimento.



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