Tricologia

Escova progressiva e alisamentos

Março/Abril 2008

Valcinir Bedin

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Valcinir Bedin

O escova progressiva é uma técnica de alisamento ou suavização de cachos e ondas que tem por objetivo quebrar temporariamente a estrutura dos cabelos e reconstruí- la na forma desejada.

Como o próprio nome diz, é progressiva, isto é, quanto mais vezes for feita, mais lisos ficarão os cabelos. Em alguns casos, as concentrações também serão progressivas, aumentando a cada escova.

Para alterar a forma do cabelo, é preciso romper as ligações de dissulfetos, “amolecendo” o cabelo para dar-lhe a forma desejada e, em seguida, refazer essas ligações para fixar o novo formato. Os pocedimentos ou métodos para o alisamento capilar não são registrados pela Anvisa, somente os produtos. Entretanto, todos os salões de beleza devem ser licenciados pela vigilância sanitária local. Os alisantes contêm ingredientes ativos que podem ser empregados em sua composição, tais como: ácido tioglicólico, hidróxidos de sódio, potássio, cálcio, lítio, guanidina, entre outros.

O processo da escova progressiva consiste basicamente em lavar os cabelos, aplicar o produto alisante (para “amolecer” o cabelo), fazer escova (passar escova sob calor de secador para esticar), passar a chapinha/prancha (para fechar as cutículas), aguardar o tempo de espera e neutralizar o alisante. Não é algo difícil, mas para se obter um bom resultado é bastante trabalhoso.

O fio de cabelo, livre de agressões e químicas, tem pH entre 4,5 e 6,5 (ligeiramente ácido) e suas cutículas estão fechadas. Para abri-las é necessário um álcali forte, como o hidróxido de guanidina que permite relaxamento sem sódio, lítio, tioglicolato ou qualquer outro produto químico, mais agressivo aos cabelos.

O produto é formado por uma base cremosa contendo hidróxido de cálcio e um líquido ativador com carbonato de guanidina. Ao misturar a base cremosa com o líquido ativador, ocorre uma reação química com a formação do hidróxido de guanidina, que é o relaxante. O pH elevado da mistura ativada (12,0 – 12,5) proporciona a abertura das cutículas permitindo que o hidróxido de guanidina quebre as ligações de dissulfeto (-S-S-), amolecendo o cabelo. Com uma boa técnica, trabalha- se todos os fios dando o formato desejado.

O cabelo, com alto teor de enxofre (-S-), indica que há mais ligações de dissulfeto para serem quebradas e, portanto, necessita de um tempo maior para o processamento. O ideal é ir acompanhando o comportamento e o grau de curvatura dos fios, à medida que o tempo for passando e que as mechas forem trabalhadas.

A vantagem da escova progressiva sobre os outros processos de alisamento está na variação de pH muito baixa. O alisamento feito com tioglicolato de amônia utiliza níveis de pH entre 7 e 9. Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para produtos de uso profissional, na concentração máxima do tioglicolato de amônia (11%) o pH deve estar entre 7 e 9,5.

Entretanto, com freqüência surgem os exageros do modismo. No caso das escovas progressivas, se deu com o uso indevido do formol, conforme amplamente noticiado pela mídia. O formol, ou formalina, a solução aquosa concentrada do aldeído fórmico - ou aldeído fórmico -, é uma substância permitida na legislação de cosméticos apenas para preservar produto cosmético (RDC 1620/01) e como agente endurecedor de unhas (RDC 79/00- Anexo). Em ambos os casos, esse ingrediente faz parte da fórmula e é adicionado aos produtos durante o processo de fabricação, na indústria.

O uso do formol em procedimentos de escova progressiva se dá pela adição ao produto alisante comercial, com conseqüente alteração da composição de fábrica. Essa operação se constitui numa infração sanitária (adulteração ou falsificação) e num crime classificado pela legislação penal brasileira como hediondo (Art. 273 do Código Penal).

O uso indevido do formol pode causar reações adversas variadas com sérios riscos à saúde do profissional que aplica e do cliente que utiliza.

Quando a exposição é leve ou moderada, essas reações são: irritação, coceira, queimadura, inchaço, descamação e vermelhidão do couro cabeludo, queda do cabelo, ardência e lacrimejamento dos olhos, falta de ar, tosse, dor de cabeça, ardência e coceira no nariz, devido ao contato direto com a pele ou com vapor. Entretanto, exposições sucessivas podem causar também boca amarga, dores abdominais, enjôo, vômitos,
desmaios, feridas na boca, narina e olhos, e câncer das vias aéreas superiores (nariz, faringe, laringe, traquéia e brônquios), podendo levar à morte.

O processo de alisamento químico ou “relaxamento de cabelo” não acarreta danos para a saúde da população, desde que o produto atenda às exigências estabelecidas na legislação sanitária e o procedimento seja realizado seguindo as orientações do fabricante e por profissionais competentes.



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