Mercado

Que tal um pouco de Filosofia?

Março/Abril 2008

Carlos Alberto Pacheco

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Carlos Alberto Pacheco

Talvez seja interessante abordarmos a ética. Como todas as coisas abstratas, a ética também é de difícil definição. Embora seja um assunto antigo, as palavras vão tomando e perdendo as formas e assumindo conceitos diferentes ao longo do tempo. Apesar disto, a necessidade do exercício da ética continua presente na sociedade em que vivemos, embora cada vez mais rara onde é mais urgente: nas pessoas.

A ética é uma tentativa de reflexão em estudar e compreender as relações entre humanos e seu modo de ser e pensar. Sendo assim, à primeira vista, não existe ética boa ou má, pois ela apenas descreve comportamentos. Os comportamentos sim podem ser bons ou maus, e a isto denominamos moral. Enquanto a ética é atemporal, pois não depende de nenhum julgamento de juízo, apenas dos meios que cada um usa para construir os seus raciocínios, a moral é temporal, pois depende de um referencial para ser classificada. Como é de conhecimento geral, o referencial muda de acordo com região, época, costumes e todas as outras variáveis humanas que se pode imaginar. Mas, principalmente, neste século, a palavra “moral” vem assumindo o mesmo sentido da palavra “ética” e, em breve, poderemos obter consenso entre os lingüistas que, dependendo do contexto da aplicação do conceito, ambas as palavras passem a ser sinônimas.

Desfeito o imbróglio, vem a pergunta: o que isto tem a ver com uma coluna que se propõem a falar de mercado? A princípio tudo! Uma vez que a ética se destina ao estudo das relações humanas com o meio, não podemos deixar de lado o aspecto mercadológico da questão. Imagine que o profissional de Marketing da sua empresa identifique um nicho de mercado de pessoas que valorizam a vida em todos os seus aspectos e vertentes.

Faria sentindo usar um filtro químico que fosse suspeito de causar alterações hormonais a mulheres gestantes quando em contato com a corrente sanguínea em um protetor solar? Imagine um nicho de mercado formado por homens de negócios que levam a sério pesos e medidas em seus produtos e serviços. Qual seria a reação deles ao descobrirem que são consumidores de um produto com embalagem que induz ao erro, ou até mesmo com menos produto do que indica no rótulo? Sim, a ética pode ajudar neste sentido, em determinar o que as pessoas esperam de si mesmas e daqueles que os servem ou simplesmente com quem se relacionam.

A moral também deve ser avaliada. Quais são os valores morais vigentes hoje nas várias gerações presentes na sociedade em que vivemos? Será que um adolescente tem o mesmo valor moral que um casal sem filhos? Quais são os valores morais de uma dona de casa, na terceira idade e viúva, que aplica as suas economias na caderneta de poupança em comparação com um jovem empresário solteiro que investe
na bolsa? Embora a moral seja relativa a um referencial, sempre há um padrão moral, mesmo que temporal, a ser atingido pela maioria.

O caso é que a falta de um estímulo maior em estabelecer uma rotina de pensamento ético pelo sistema educacional e familiar, aliado a uma série de fatores sociais, tecnológicos e mercadológicos, vem fazendo
com que seja cada vez mais desafiador reconhecer e estabelecer um padrão moral.

Por exemplo, uma vez, presenciei um empresário alertando seu filho sobre como era incorreto dar e receber “cola” nos exames escolares, mas ao mesmo tempo ele defendia a idéia de que não era errado oferecer “bola” a compradores de matérias-primas, embora julgasse inadmissível receber “bola” por prestação de qualquer serviço. Note que não fiz nenhum julgamento da moral das ações, porém você consegue perceber a incongruência do pensamento ético? Caso tenha dificuldade, apenas imagine as razões que o levaram a emitir uma mensagem ao filho e outra diferente ao mercado.

Em uma outra situação, após uma conversa com um empresário sobre desvio de verbas públicas por parte do governo, percebi que a sua indignação era apenas para se redimir da sonegação praticada contra a Receita, o Fisco, o Ministério do Trabalho, as leis de licença de software e o hábito de comprar mercadorias roubadas.

Como se a discrepância não bastasse, parou numa banca de CD pirata e se vangloriou ao realizar o que julgou ser um bom negócio sem se importar com os direitos autorais do artista. Dois pesos, duas medidas. Você consegue ver algum problema na escala de valor moral?

Na outra ponta, o fabricante se questiona se, com um mercado consumidor sem pensamento ético e com escala de moral de difícil entendimento, onde, por exemplo, uma grande empresa de auditoria não se importa em fraudar laudos contra a sociedade consumidora, ele deve realmente se importar caso um produto com peso nominal de 20 g contenha apenas 18 g (10% a menos)?

Esta coluna não visa corrigir o mundo, mas apenas trazer uma reflexão do quanto somos honestos em nossas reivindicações e saber se a moral de alguns justifica a nossa, lembrando, por fim, que a sociedade somos nós, e não eles.



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