Mercado

PIB – como e a que custo?

Setembro/Outubro 2025

Carlos Alberto Pacheco

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Carlos Alberto Pacheco

Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos buscava entender melhor a capacidade da economia de gerar os materiais necessários para o esforço de guerra. Assim nasceu o indicador denominado PIB (Produto Interno Bruto), criado inicialmente para medir a produção econômica daquele período e que hoje se consolidou como um dos principais parâmetros do desempenho das economias.

O PIB mede o valor total de toda a produção final realizada em um país durante um ano. Considera, portanto, os gastos anuais com a nova produção interna e também o rendimento obtido com ela. Para ilustrar, imagine uma economia simples composta apenas por João e Maria. João oferece R$ 1,00 a Maria para confeccionar uma camisa. Ela aceita, produz a peça e a entrega mediante o pagamento. Nesse exemplo singelo, qual é o valor de gastos, renda e produção dessa economia? A resposta é: R$ 1,00. O gasto de João transformou-se em renda para Maria e resultou em produção. Em 2024, o PIB mundial foi de USD 111,3 trilhões, valor que corresponde a algo incomparavelmente maior do que uma simples camisa na modesta economia de João e Maria.

O PIB não é o único indicador de desempenho econômico. Existe também o PNB (Produto Nacional Bruto), cuja diferença essencial é contabilizar o que se produz “por um país”, ainda que em território estrangeiro. Assim, os carros da Toyota fabricados no Texas integram o PNB do Japão, mas não seu PIB; já a produção da Petrobrás em áreas estrangeiras conta para o PIB nacional, mas não para o PNB, por estar fora das fronteiras brasileiras. Em 2024, os Estados Unidos foram responsáveis pelo maior volume de PIB do mundo, com USD 29,18 trilhões (26,2% do total mundial), enquanto o PNB americano foi de USD 28,1 trilhões. O Brasil respondeu por 1,96% do PIB global, somando USD 2,18 trilhões.

Diferentemente do que muitos imaginam, o PIB não mede a riqueza acumulada de um país, mas sim o fluxo de produção em determinado período. Para visualizar melhor, pense na economia como uma caixa-d’água: a água já armazenada corresponde à riqueza do país, enquanto a água que sai pela torneira simboliza o PIB. Se o fluxo que entra for maior do que a saída, a caixa enriquece; caso contrário, empobrece. Quanto mais cheia a caixa, mais rico é o país. Contudo, parte da água sempre se perde pelo ralo, seja pela depreciação natural dos bens, seja — de forma indesejável — pela corrupção ou pelo mau uso dos recursos gerados.

O comportamento do PIB, aliado a outros indicadores, ajuda a identificar a fase do ciclo econômico em que um país se encontra. Há a fase de expansão, quando o PIB cresce de forma contínua e o desemprego recua; o pico, quando o PIB atinge o máximo antes de dar sinais de desaceleração, como a aumento da taxa de desemprego; a contração, quando o crescimento perde fôlego ou diminui; e, se a queda persistir por dois trimestres consecutivos, caracteriza-se a recessão. O período entre o início da contração e o retorno do crescimento é conhecido como depressão.

Mas o que o PIB não revela? Em 1968, o presidenciável norte-americano Robert Kennedy destacou que o valor medido pelo PIB não traduzia o valor moral de uma nação. Segundo ele, esse número incluía tanto a produção de medicamentos essenciais quanto o devastador comércio de madeira de sequoias milenares; tanto as belas fechaduras das mansões quanto as das celas de prisões. O PIB não media, portanto, a qualidade da educação, a solidez dos relacionamentos humanos ou a consciência política de um povo. Kennedy chamava a atenção, ainda, para os riscos de uma avaliação ingênua do PIB per capita, indicador que, embora tão elevado quanto o da Noruega, representa níveis de bem-estar muito diferentes quando comparado aos Estados Unidos, devido à desigualdade na distribuição de renda americana. Essas palavras permanecem atuais, sobretudo em países autoritários que exibem PIBs robustos, mas dissociados de liberdades políticas, de imprensa ou religiosas. A degradação moral e os índices de suicídios em países que se encontram no topo das nações mais ricas do planeta são evidências disso. Pergunto-me se o aumento de chacinas em escolas por parte de cidadãos desequilibrados em países de poder aquisitivo mais alto não seria uma outra evidência disso também.

Portanto, ao analisar esse indicador, é essencial considerar como buscamos o crescimento e a que custo estamos dispostos a obtê-lo. O desafio não é apenas aumentar o PIB, mas asse- gurar que ele represente, de fato, prosperidade sustentável e qualidade de vida para toda a sociedade.



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