Tricologia

Cabelos e felicidade

Março/Abril 2024

Valcinir Bedin

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Valcinir Bedin

Quando procuramos no dicionário o significado de felicidade, encontramos o seguinte: “qualidade ou estado de feliz; estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar”.

Se procuramos a definição de saúde da OMS (Organização Mundial da Saúde), temos que é “um bem-estar bio, psíquico e social do indivíduo”.

Para entendermos mais sobre o assunto, podemos discutir o conceito de beleza, que, para alguns, pode ser rígido, mas que na maioria das vezes é muito subjetivo, cabendo o provérbio “quem ama o feio, bonito lhe parece”.

Vamos então misturar esses conceitos com a definição de pelo – um anexo da epiderme, sendo aproximadamente 5 milhões de unidades distribuídas por todo o corpo, a não ser nas plantas dos pés, nas palmas das mãos, na glande e nos pequenos lábios vaginais. Destes, 1,5 milhão estão localizados no segmento cefálico e, entre 100 mil e 150 mil são os chamados cabelos. São hastes proteicas, criadas à custa de aminoácidos, vitaminas e sais minerais, portanto caras ao corpo humano.

Mas, paradoxalmente, eles não têm uma função fisiológica vital. Um ser humano sobrevive sem pelos. A sua função de auxiliar na manutenção da temperatura corporal é facilmente substituída e, a não ser aqueles pelos localizados em orifícios, pouca função eles têm.

Falamos do aspecto fisiológico da questão. Mas e o social, o emocional, o bem-estar?

Vamos acompanhar um pouco a história. Da época das cavernas, temos imagens de homens arrastando mulheres pelos cabelos, parecendo um evento normal para aquele tempo. Foram encontradas, na China, fórmulas feitas há 4 mil anos, para nascer cabelos.

Os cabelos sempre tiveram uma participação muito importante na sociedade humana. No Egito Antigo, cada casta social era induzida a usar um tipo de penteado que a diferenciasse. Na Roma imperial, tanto homens quanto mulheres descoloriam os cabelos para ficarem amarelados, a cor do ouro. Todos conhecem a história de Sansão e Dalila – ele, um juiz do povo hebreu; e ela, uma inimiga filisteia. Associavam, na época, o vigor físico e a força de Sansão aos seus cabelos, que eram mantidos grandes e cuidados. Coube a Dalila a incumbência de cortá-los enquanto ele dormia, o que ela teria feito com maestria. Sem forças, Sansão foi preso e cegado. Essa crença na associação entre cabelos e força perdura há séculos. Existem homens que, quando começam a ficar calvos, referem perda de potência sexual. Não há nenhuma evidência científica que corrobore esta afirmação, mas até hoje há uma associação entre calvície e envelhecimento. Um instituto de pesquisa norte-americano, observando a escassez de calvos no parlamento do seu país, fez uma pesquisa de campo, na qual eram mostradas fotos de homens calvos e não calvos e foram feitas perguntas a respeito de qualidades que estes indivíduos poderiam ter só pela aparência. Os calvos receberam vários adjetivos positivos, como honesto, sério e trabalhador. Mas, quando perguntado se o entrevistado votaria no calvo, a resposta majoritária foi não. O argumento mais constante foi que o calvo tinha menos energia, que parecia velho.

Hoje temos uma procura muito grande pelos transplantes de cabelo, motivada, é claro, pelo marketing, que soube encontrar nos homens calvos um nicho de mercado muito grande.

Os cabelos sempre foram usados em representações sociais. Na França e na Inglaterra, durante séculos houve o hábito de usar peruca polvilhada, que dava um aspecto de sobriedade e nobreza ao seu portador. Até hoje muitos tribunais europeus fazem uso eventual desta peça.

Ainda hoje existem comunidades africanas que usam o cabelo trançado. Estas tranças demoram muito para serem feitas, e, para não as desfazer, o portador (ou a portadora) passa a dormir com um tronco sob o pescoço.

A ausência de pelos e cabelos também tem um significado social importante. Há relatos de que as mulheres romanas queimavam os pelos indesejáveis. Até hoje o hábito da depilação permeia a sociedade ocidental.

Raspar os cabelos pode significar desprendimento dos valores materiais, como no caso dos monges tibetanos, ou uma punição, como no caso das mulheres francesas que namoraram soldados nazistas durante a segunda guerra mundial.

O fato é que os cabelos são mais do que apenas a moldura do rosto. Eles têm uma importância emocional imensa tanto nos homens, mas especialmente nas mulheres. Um estudo feito na Universidade de Berkeley, na California, mostrou que mulheres com queda de cabelos tinham um sofrimento maior do que quando perdiam algum ente querido. Isso mostra o tamanho da importância que os cabelos têm para essa população.

Os números estão aí para serem avaliados. A indústria de produtos para tratamento capilar só cresce. Os salões de beleza nas grandes cidades tornaram-se palácios e dificilmente enfrentam tempo ruim.

Uma coisa é verdade: não dá para ser feliz com um cabelo feio!



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