Toxicologia

Teste de Draize: 64 anos de bons serviços

Janeiro/Fevereiro 2008

Dermeval de Carvalho

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Dermeval de Carvalho

Teste de Draize: a primeira mensagem que chega ao nosso todo poderoso sistema nervoso central, através de milhares de sinapses, informa que o assunto refere-se aos testes de irritação da pele e mucosas – predominantemente a ocular. A mensagem recebida, ricamente atrelada a fundamentos técnicos e científicos, pode levar ao esquecimento de importantes nomes que dedicaram parte de suas vidas a iniciativas relevantes à saúde, a exemplo de John H. Draize.

John H. Draize (1900- 1992) nasceu em Brussel, Wisconsin, Estados Unidos, aos 22 anos graduou-se Bacharel em Ciências, Título outorgado pela University of Wisconsin. E após os trabalhos iniciais em sua cidade natal, retornou à mesma Universidade. Em de 1931, obteve o seu Doutorado (PhD) em Farmacologia, desenvolvendo estudos experimentais em hipertireoidismo (Survey of Ophthalmology 45(6):493-515, 2001). Após o doutorado trabalhou 4 anos junto ao Agricultural Experiment Station-The University of Wyoming investigando plantas tóxicas para os animais e homens. Em 1935 foi recrutado pelo USA Army, integrando a equipe Edgewwood Arsenal-Chemical Warfare Service (Maryland), tempo suficiente para que pudesse avaliar os danos ocasionados ao sistema ocular por substâncias químicas (http://www.ezonline.com/jveahh/ nbchist.htm).

Dr. John H. Draize de reconhecida capacidade na avaliação dos perigos ao sistema ocular ocasionados pelas substâncias químicas, certamente estava a poucos passos para se juntar às equipes do FDA, fato que aconteceu em 1939, em que assumiu a chefia do Dermal and Ocular Toxicity Branch - Division of Pharmacology. Ao contratado foi confiado o desenvolvimento de testes de segurança de produtos cosméticos, face emenda legislativa (Clark GR. “John H. Draize, the man and the scientist”, J Soc Cosmetic Chem 9:120-1, 1958).

O aumento do número de ingredientes cosméticos de uso tópico e a aplicação da legislação aguçaram o apetite científico da equipe liderada pelo Dr. Draize. Depois de pormenorizada discussão a respeito das múltiplas alterações (funcionais, orgânicas e sistêmicas) envolvidas na avaliação de toxicidade das substâncias químicas, na pele e mucosas, Draize JH, Woodard G e Calvery HO publicaram “Methods for the study of irritation and toxicity of substances applied topically to the skin and mucous membranes”, J Pharmacol Exp Therap 82:377-390, 1944), validado pela OECD (Test Guideline 404 – adopted 24 april 2001; 45:493-515).

A importância do teste de Draize e a sua integração com outras áreas envolvidas: bioestatística (Toxic in Vitro 9(4):549-556, 1995), validação de métodos (Toxic in Vitro 13:73-98, 1999), interpretação dos possíveis danos ao sistema ocular (Reg Toxicol Pharmacol 45:206-213, 2006), mecanismo de ação das substâncias irritantes (Toxic in vitro 18:231-243, 2004), relação estrutura/ atividade (Toxic in vitro 14:79-84, 2000), possíveis intercorrências laboratoriais resultantes das diferenças anátomo-fisiológica do olho humano e do animal de experimentação (Survey of Ophthal 45(6):493-515), representam alto valor científico agregado, tudo isto sem falar na constante busca de métodos alternativos.

O editorial “Is there a replacement for the Draize Test?” (Cutaneous and ocular Toxicology 24(3): 147- 148, 2005) certamente vem ao encontro dos questionamentos acima levantados. Outra contribuição que valoriza o teste de Draize afirma que a ele tem sido apresentadas inúmeras alterações, entretanto
não significativas. (Curr Opinion Allergy Clin Immunol 6:367-372, 2006).

O teste de Draize, de reconhecido valor técnico-científico- regulatório, tem sido objeto de críticas. Pretendemos voltar ao assunto, comentá-las e, se possível, conduzir o nosso pensamento permeando passagens e comentários relativos aos métodos alternativos, participação dos 3R, emprego e proibição do uso de animais de experimentação e parâmetros que exigem a aferição diária, pois milhares de moléculas estão à espera de testes pré-clínicos destinados à avaliação de irritação ocular.

Após 64 anos, mundialmente conhecido como Teste de Draize, tem sido citação obrigatória quando se fala em irritação ocular.



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Prezado Diego, Obrigado pelo comentário e pela observação. Talvez não tenha percebido, mas esta matéria foi escrita no ano de 2008 e, realmente, muita coisa mudou.

por Tecnopress Editora 17/05/2018 - 16:46

Boa tarde .. interessante a abordagem, mas ultimamente já existem disponíveis vários métodos in vitro que simulam a atividade medida em animais, uma vez que esse método e ultrapassado e custa a vida dos animais. Procurem se informar mais.

por diego 17/05/2018 - 14:40

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