Embale Certo

A embalagem e os cuidados microbiológicos

Setembro/Outubro 2021

Antonio Celso da Silva

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Antonio Celso da Silva

Sempre que se fala em embalagens o foco está no design, no molde, na qualidade, nos fornecedores, no dia a dia da fábrica etc.

Raramente vemos alguém abordar a preocupação microbiológica. Será que embalagem não contamina?

Vamos aqui levantar pontos de atenção e orientar caminhos para minimizar esse problema. Não que eu seja expert no assunto ou tenha formação em microbiologia, mas as quatro décadas de experiência dentro de fábrica, vivendo no detalhe o dia a dia dos problemas, me credenciam para dizer: cuidado com a contaminação nas embalagens e das embalagens.

Primeiro vamos entender que a embalagem é a primeira barreira para proteger o produto, porém ela também pode ser um meio de contaminação desse produto. É óbvio que, num primeiro momento, estamos falando das embalagens primárias, aquelas que entram em contato direto com o produto, como frascos, potes, bisnagas, tampas, válvulas, batoques, cascaseal, escovinha de máscara (rímel), bandejas de compactados etc.

Mas aí vem a pergunta: as embalagens são lavadas e higienizadas antes de entrar na linha de envase? A resposta é não. Na indústria cosmética, não existe a obrigatoriedade de fazer esse processo, embora algumas empresas até o façam. O que é preciso exigir é que as embalagens estejam devidamente limpas e livres de poeira e sujidades, principalmente partículas de papelão. Para tanto, é mandatório que essas embalagens venham em sacos plásticos transparentes, de boca para baixo e dentro da caixa de embarque. Isso, na verdade, deve fazer parte da especificação técnica e ser um ponto de controle durante a inspeção no recebimento do lote na fábrica.

É importante também ressaltar que não existe norma da Anvisa específica para controle microbiológico nas embalagens nem tampouco determinação de limites de UFC (unidades formadoras de colônias), como existe para o produto acabado e suas famílias.

Quando cito saco plástico transparente, é porque já passei pela experiência de receber um lote de cascaseal, aquele protetor que vai sob as tampas dos potes de cremes, em saco plástico preto de lixo, um belo foco de contaminação microbiológica numa embalagem primária. O lote foi obviamente reprovado antes de se iniciarem as análises dimensionais e os atributos daquela embalagem.

Os riscos de contaminação raramente acontecem durante o processo de fabricação das embalagens, principalmente as plásticas e primárias, pois elas são fabricadas sob altas temperaturas, seja pelo processo de sopro ou por injeção. Esses riscos começam a acontecer a partir do momento em que saem das respectivas extrusoras ou injetoras e vão para as áreas de decoração, colocação em caixas e armazenamento temporário para serem enviadas aos clientes. As condições de estocagem, o adequado fechamento das caixas e principalmente a limpeza e a obediência às boas práticas de fabricação e controle (GMP) no almoxarifado de embalagens.

Os riscos de contaminação também acontecem no recebimento e na amostragem do lote na fábrica. O não uso de EPIs adequados pelo amostrador, área de amostragem aberta, o retorno às caixas das embalagens amostradas e inspecionadas por atributos e o devido fechamento das caixas amostradas são também pontos de atenção para evitar contaminação microbiológica nas embalagens.

Na linha de envase, também existem pontos que requerem atenção. A começar por não levar as caixas de papelão contendo as embalagens para dentro da área de envase, o uso dos EPIs adequados e, principalmente, não colocar mãos e dedos dentro das embalagens para posicioná-las na linha de envase, mesmo que de luva - da mesma forma, o retorno de saldos de embalagens da linha para o almoxarifado e os cuidados com a recolocação de boca para baixo nos plásticos dentro das caixas e devidamente fechados.

Importante ressaltar que os cuidados com contaminação física cruzada se confundem com os cuidados microbiológicos, mas um leva ao outro.

Também é importante destacar que diferente do laboratório químico, o microbiológico não é obrigatório nas empresas - ele pode ser terceirizado. É claro que essa é uma decisão da empresa, considerando que isso atrasa os já demorados testes microbiológicos.

Para finalizar, informar que alguns fabricantes de embalagens plásticas já começam a utilizar recursos para minimizar a contaminação microbiológica das embalagens e também os produtos nessas embalagens primárias. Trata-se do uso de íons prata (Ag+). Isso ainda está muito pouco divulgado, por estar em fase de testes, mas creio que será uma tendência muito em breve.

São vários os pontos que requerem cuidados para evitar a contaminação microbiológica nas embalagens, mas o objetivo aqui é acender uma luz amarela e redobrar a atenção para as nossas tão esquecidas embalagens na fábrica.



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