Mercado

Mercado de luxo: um ponto fora da curva

Julho/Agosto 2021

Carlos Alberto Pacheco

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Carlos Alberto Pacheco

Apesar da catastrófica situação econômica em que a pandemia mergulhou todas as economias do planeta, há ainda uma ilha quase inabalada que sinaliza como um farol de oportunidades e porto seguro para quem atua nesse mercado: o mercado de luxo. O mercado de luxo abrange desde o segmento gastronômico (vinho, café, chocolate, azeite e outros) até o têxtil e seus utensílios (vestimenta, bolsas, joias, sapatos e outros), lógico, passando também pelo segmento cosmético. Esse, por sua vez, vai muito além do setor de perfumes, abrangendo também o que podemos chamar de procedimentos estéticos associados a viagens e spas.

O conceito de luxo sempre existiu, senão como atividade econômica - como se percebe no movimento organizado e profissional europeu a partir de 1987 -, pelo menos como status nas sociedades classistas que acompanham a humanidade desde seu início. Em apoio ao dito anterior, podemos mencionar o uso exclusivo de ouro, prata e joias por reis, sacerdotes e abastados homens de negócios, alijando o resto da população desses privilégios materiais - e, quando muito, restrito a alguns adereços pessoais adquiridos a muito custo e sacrifício. Na era contemporânea, decidiu-se migrar o luxo das sombras do artesanato para o mercado profissional e global, porém mantendo ainda uma das bases de sustentação desse mercado: a exclusividade. Um exemplo disso é a criação das marcas Louis Vuitton no estilo dos ovos de Fabergé.

Aqui faço uma ressalva: o mercado de luxo é mais do que simplesmente uma grande marca invejada pelo consumidor, mas sim um estilo de vida que busca a experimentação de sensações diferenciadas, superiores às obtidas no dia a dia e as mais exclusivas possíveis. Outro ponto é que nem sempre luxo é sinônimo de superioridade de produto. Na China e na América Asteca, o mercúrio era utilizado como elemento de luxo pela realeza. Ele foi empregado na confecção de túmulos e em elixires para garantir a imortalidade da alma daqueles que eram considerados divindades. Pelo fato de que o mercúrio tem a propriedade de refletir a imagem como um espelho líquido, era usado também em rituais de passagem para outros mundos. Os participantes mergulhavam as mãos em piscinas cheias de mercúrio enquanto entravam em transe pelo uso de substâncias psicotrópicas. Hoje sabemos dos efeitos nocivos do uso do mercúrio no corpo humano e no meio ambiente. No entanto, esse exemplo serve para mostrar que o exótico nem sempre é saudável, salutar ou mesmo superior. Mesmo atualmente, em um mundo engatinhando em suas visões ambientalmente sustentáveis e ecologicamente responsáveis, esse tipo de situação tende a ser rara, porém não podemos nos esquecer dos problemas que os casacos de pele de animais causaram no final do século XX.

De qualquer maneira, de uma coisa não podemos escapar: o mercado de luxo passa pelo consumo de produtos e serviços, quando não pelos dois em sinergia, e, diga-se de passagem, com preços altos. A atividade do luxo na França representa a quarta principal força do resultado do PIB. Confesso que fiquei
impressionado com esse dado, mas vale lembrar que, culturalmente, a França já milita nesse conceito há muito tempo, desde a época dos monarcas absolutistas, principalmente no seu expoente máximo, Luís XIV. Países como a própria França, a Itália, a Inglaterra e a Alemanha são ícones do luxo tradicional
e produtores das principais marcas de luxo de renome global.

Eu fico até sem jeito de falar em um assunto como esse em um país com nível de desemprego na ordem de 14,8 milhões de pessoas no 1º trimestre de 2021. 14,7 milhões de famílias no mesmo período estão recebendo o Bolsa Família (note: famílias, não pessoas, o que representa um número muito maior de pessoas afetadas) e com um PIB nos 12 meses anteriores a março de 2021 recuando em 3,8%. No entanto, a realidade é que, apesar da crise, a concentração de renda nos 1% mais ricos do país, América Latina e mundo vem aumentando e deve continuar crescendo, pois a crise não afeta igualmente a todos - atinge menos os de maior poder aquisitivo, justamente o público-alvo do mercado de luxo.

A velha máxima das aulas de marketing continua valendo: toda crise anda associada a uma ou mais oportunidades. Cabe a cada um se preparar para descobri-las e aproveitá-las, pois enquanto há quem chore, há quem venda lenços, e, neste caso, lenços de seda.



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Parabéns Pacheco pelo artigo!

por CARLOS MESQUITA AGUIAR 18/08/2021 - 23:55

Gostei muito!

por Paula Fernanda adoglio 16/08/2021 - 17:39

Excelente matéria

por Richard Nemer 16/08/2021 - 14:51

Excelente Matéria

por Antonio Rocha Leão Junior 16/08/2021 - 15:17

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