Tricologia

Conservantes naturais para produtos capilares

Maio/Junho 2021

Valcinir Bedin

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Valcinir Bedin

Os conservantes são alguns dos ingredientes mais controversos que existem, mas por quê? Produtos cosméticos sem conservantes ou mal conservados podem representar um sério problema de saúde pública para os consumidores. E, ainda assim, as alegações de produtos “sem conservantes” são abundantes! Isso pode levar à crença de que os conservantes não são apenas desnecessários, mas potencialmente prejudiciais.

Os ingredientes, a embalagem, o modo de usar, onde guardar... Tudo isso tem importância em um produto. Os produtos cosméticos são preservados para nos manter seguros. Não importa quão estéreis sejam o espaço de fabricação e a embalagem e quão cuidadosos estejamos fazendo os produtos. Assim que a água é introduzida em uma formulação, por mais que ela seja tratada, o crescimento de microrganismos é inevitável.

Além disso, mesmo se o produto foi capaz de chegar até o usuário sem o crescimento destes seres, não se vive num mundo estéril. O mais provável é que esses produtos sejam mantidos no banheiro, onde sofrem ação do vapor toda vez que você entra no chuveiro. Cada vez que se interage com um produto, ele é apresentado a uma nova vida microbiana. Sem preservativos, cada uma dessas interações seria comparável a um jogo de azar. Basta um pequeno grupo de seres nocivos para transformar o seu produto em algo perigoso.

No fi nal das contas, os cosméticos precisam ser seguros para uso durante sua vida útil total, e a única maneira para que isso seja possível é a preservação e os testes, para garantir que o produto resista até às possíveis interações dos microrganismos do consumidor.

Vamos listar alguns dos microrganismos que crescem em produtos cosméticos: Pseudomonas sp. (segunda infecção mais comum em hospitais), Klebsiella (causadora de pneumonia), Staphylococcus aureus e Staphylococcus epidermidis (causam infecções na pele), Streptococcus sp. (causa infecções na garganta e meningite), Candida sp. (pode causar aftas ou infecção sistêmica que mata cerca de 50% dos infectados), Aspergillus sp. (produz a toxina afl atoxina), entre outras.

Para agravar ainda mais o problema, os produtos naturais tendem a ser mais propensos ao crescimento de microrganismos do que os convencionais. Normalmente, há muito mais nutrientes biodisponíveis para as bactérias se alimentarem e florescerem. Nossa pele pode adorar extratos de plantas e proteínas, mas, infelizmente, as bactérias também adoram. Dado que a maioria das alegações de ‘sem conservantes’ nos produtos cosméticos estão no setor natural, isso pode se tornar um grande problema. Para piorar o quadro, muitas pessoas que mudam para tudo natural estão fazendo isso depois de um problema de saúde ou de decepções com produtos ou drogas convencionais. Para começar, esses consumidores não necessariamente têm um sistema imunológico forte. No final das contas, seja o produto sintético ou natural, a preservação adequada é de extrema importância.

Para os formuladores de produtos naturais, há muitas opções, mas criar um sistema de preservação eficaz pode ser bastante complicado e requer um pouco mais de inovação. Para os consumidores, se houver água em uma formulação e nenhum conservante, isso deve ser um aviso de perigo. Se o produto é à base de água, estável e vive até sua vida útil com uma alegação de que não contém conservantes, isso não deve ser verdade. Por exemplo, as empresas podem ocultar seus ingredientes de preservação nos ingredientes/óleos essenciais de fragrâncias ou em outros ingredientes não defi nidos classicamente como conservantes, como, por exemplo, o álcool.

A maior desvantagem para conservantes ditos “naturais” é que eles são menos efi cazes do que os conservantes sintéticos. Por exemplo, a maioria não é de amplo espectro e deve ser usada em uma dosagem muito maior para ser efi caz. Com isso em mente, o formulador tem que fi car atento para criar um sistema conservante com vários conservantes naturais trabalhando juntos para alcançar uma proteção de amplo espectro. Além disso, muitos conservantes naturais podem ser bastante alergênicos, especialmente em concentrações mais altas, dependendo dos ingredientes. Os conservantes naturais são geralmente muito mais caros do que seus equivalentes sintéticos. Uma vez que a maioria dos conservantes naturais são ácidos fracos – por exemplo, ácido salicílico, ácido sórbico, ácido lático, ácido cítrico, ácido benzoico etc. –, eles normalmente só são estáveis em pH entre 5 e 5,5, o que pode representar um desafio para produtos com um pH mais alto. Finalmente, os conservantes naturais podem adicionar aroma ou cor ao seu produto.

Cabe ao formulador o trabalho de descobrir qual é a mistura ideal para seu produto, levando em conta que o respeito ao consumidor, além de ser uma questão ética, é também uma ferramenta de marketing.



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