Mercado

Um risco perigoso e oculto à vista de muitos

Maio/Junho 2021

Carlos Alberto Pacheco

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Carlos Alberto Pacheco

O custo humano e econômico imediato da Covid-19 é alto, não só aqui como no mundo. De acordo com o relatório de Risco Globais 2021, realizado pelo WEF (World Economic Forum), essa situação ameaça reduzir anos de pequenos avanços na redução da desigualdade social, tomando como eixo central a diminuição da pobreza e dificultando ainda mais a coesão social e a cooperação global. Demissões em massa, diferenças cada vez maiores na inclusão digital, interações sociais produtivas interrompidas e mudanças abruptas nos mercados podem levar a consequências graves e perda de oportunidades para boa parte da população global.

Entre as ameaças mais iminentes, ou seja, aquelas mais prováveis de acontecer em um prazo de dois anos, incluem-se crises ocupacionais e de subsistência (leia-se: sérios problemas com qualidade de mão-de-obra, quantidade de oportunidades de trabalho e comprometimento do nível salarial), desilusão generalizada entre os jovens e estagnação econômica. A título de evidência, vale destacar que a perda de 495 milhões de empregos somente no segundo trimestre de 2020, a recuperação econômica em velocidade desigual entre os Estados mundiais e o avanço da 4ª Revolução Industrial mais rápido do que se esperava têm empurrado muitas pessoas para os limites da linha de pobreza (renda de US$ 5,50 por pessoa por dia) e uma parte maior ainda para a linha de extrema pobreza (renda de US$ 1,90 por pessoa por dia).

Em relação à desilusão generalizada entre os jovens, há um capítulo específico no relatório sobre esse novo risco detectado. Ele traça o perfil de uma generalizada juventude desiludida, desengajada e sem confiança nas estruturas econômicas, políticas e sociais, impactando negativamente a estabilidade, o bem-estar individual e a produtividade econômica.

Essa geração de jovens adultos foi duplamente afetada pelas significativas perdas de oportunidades causadas pela crise financeira de 2008 e, agora, pela pandemia iniciada em 2020, e, apesar do salto digital ter aberto oportunidades para alguns, muitos deles estão iniciando suas vidas profissionais sem perspectivas. Já exposta às consequências das mazelas mencionadas, somadas ao aumento da desigualdade social e à interrupção da transformação industrial, essa geração agora enfrenta grandes desafios para sua educação, perspectivas econômicas e saúde mental. O risco de “desilusão entre os jovens” está sendo amplamente negligenciado pela comunidade global, mas poderá se tornar uma ameaça grave ao mundo no curto prazo. As duras conquistas da sociedade podem ficar comprometidas se a geração atual não tiver acesso a novas oportunidades de subsistência.

Pessimismo sensacionalista? Vamos aos fatos mais próximos de nós. Ao longo de 2020, a proporção dos jovens brasileiros entre 25 e 29 anos que nem estudam nem trabalham, conhecidos pela alcunha de geração “nem-nem”, chegou a quase 30% diante das dificuldades impostas pela pandemia. O último trimestre apresentou o maior valor em oito anos da Pnad Contínua. Esse indicador tem sido puxado por jovens que não estão trabalhando, enquanto o percentual de jovens fora da escola - que sempre foi bem alto - se manteve quase estável. A taxa de desemprego nessa faixa etária chegou a 29,8%, o que corresponde a cerca de 4,1 milhões de pessoas. Muitos dos jovens que saíram do mercado foram direto para a inatividade, sem passar pela condição de desempregados, o que ressalta o desalento dessa parcela da população. De forma geral, os jovens ficaram restritos ao mercado informal.

O que tudo isso pode ocasionar? Situações parecidas com essa no passado acabaram causando agitação social, fragmentação política, crises intergeracionais, aberturas maiores entre classes sociais e tensões geopolíticas, preconizadas por atores reacionários, integrantes do crime organizado, grupos extremistas, líderes de conflitos armados e coisas nessa linha. Além disso, o desalento pode causar solidão e transtornos mentais decorrentes desses desajustes no mercado de trabalho. Em outras palavras, retrocesso nas intenções de diminuição da desigualdade social.



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