Embale Certo

Falta de embalagens: o pior ainda está por vir

Março/Abril 2021

Antonio Celso da Silva

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Antonio Celso da Silva

Vivemos talvez um dos piores momentos da história do nosso país. A pandemia está expondo de maneira cruel as nossas fragilidades.

Bastou aumentar o consumo de álcool gel para que as principais matérias-primas da fórmula sumissem e alguns fornecedores, aproveitando-se da situação ou em nome da demanda, passassem a praticar preços abusivos. As embalagens tomaram o mesmo rumo, principalmente as válvulas, que sumiram do mercado, e passamos a ver uma busca desesperada por trazê-las da China.

Algumas empresas saíram na frente e começaram a substituir as válvulas por tampas fl ip-top, disc-top e até por tampa cega, mesmo com toda a difi culdade de uso do produto.


O mesmo aconteceu com o mercado de papelão e micro-ondulado, no qual não tínhamos difi culdades (e eu mesmo sempre falei que esse era um segmento com o qual não precisaríamos nos preocupar em trazer de fora), tanto no que diz respeito à qualidade quanto à quantidade. O que se vê hoje é um caos, com empresas de produto acabado deixando de entregar porque têm o produto pronto, mas não têm a embalagem terciária que é caixa de embarque. Da mesma forma, essas embalagens sumiram, os preços explodiram, e o prazo de entrega aumentou muito.

A foto atual do mercado de embalagens é desanimadora, salvando-se, por enquanto, alumínio e vidro.

Hoje, ao preparar essa matéria, vi que foi decretada para todo o estado de São Paulo a fase roxa, chamada de fase emergencial. Embora a ação seja necessária para tentar frear a pandemia, tudo fica ainda mais complicado para o setor produtivo.

Mas o que parecia ruim pode ficar bem pior diante da nota emitida hoje pela Braskem, fornecedora das resinas termoplásticas, a todos seus clientes sobre o colapso no primeiro semestre de 2021. A empresa enfatiza que esse ano não vai ser fácil, pelo menos no primeiro semestre. E explica: “parte do problema é uma planta parada no Rio de Janeiro e a própria crise entre a Braskem Idesa (controlada pela Braskem) e a Pamex (controlada pelo governo mexicano) na operação da planta no México”.

No meio dessa crise, houve a interrupção no fornecimento de gás pela Cenagás, agência estatal do México, responsável única pelo sistema de dutos e transportes de gás natural na região.

Outra razão para o colapso foi a suspensão de contratos firmados com fabricantes de todo Brasil, com volumes até então garantidos, além da aplicação de um corte no fornecimento de resina estimado em 50% a partir do mês de março. Entregas, portanto, só mediante disponibilidade de estoques e capacidade produtiva das plantas em operação.

Vale lembrar também que os preços já tinham sido ajustados para as matérias-primas a partir de primeiro de janeiro desse ano.

Para complicar mais ainda e justifi car o colapso citado, temos as paradas já ofi cializadas pela Braskem para manutenção das plantas do Rio Grande do Sul (15 dias) e São Paulo (40 dias), que estavam previstas para março, reduzindo consideravelmente o fornecimento e com impactos desastrosos nas cadeias de PP (polipropileno), PEAD (polietileno de alta densidade) e PEBD (polietileno de baixa densidade).

Como vemos, por trás da escassez de plásticos no mercado - que afeta os fabricantes de embalagens e, na sequência, as empresas que compram essas embalagens -, temos também que considerar as ações tomadas por quem tem o monopólio na fabricação das resinas termoplásticas. Porém, a culpa de tudo fi ca por conta da pandemia para os que não têm conhecimento desse assunto.

O que mais assusta as empresas compradoras de embalagens não é a falta das resinas para as empresas transformadoras produzirem as embalagens, mas os aumentos, que muitas vezes ocorrem mais de uma vez por mês - e sempre na casa dos dois dígitos.

Se considerarmos que, em um produto cosmético, muitas vezes a embalagem é a parte mais cara, não é difícil imaginar que poucas empresas vão suportar esses aumentos nos seus produtos.

Isso escancara de vez as portas do nosso país para as embalagens chinesas. O que começou timidamente há alguns anos com as grandes marcas hoje já é uma realidade para as pequenas e desconhecidas marcas.

O que podemos notar também é o aumento de distribuidores/importadores que trazem da China e disponibilizam embalagens standard com estoque local e, da mesma forma, o aumento de empresas de trading com facilidades para quem quer trazer pequenas quantidades daquele país asiático.

Atualmente, as empresas estão pensando duas vezes antes de trazer da China diante do preço do dólar.

Resta saber o que nos espera nesse emaranhado de problemas no fornecimento de resinas termoplásticas e o que vai acontecer com esse mercado de embalagens plásticas no país.



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