Fragrâncias

Fragrâncias e produtos cosméticos

Janeiro/Fevereiro 2021

Olivier Fabre

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Olivier Fabre

Um reflexo, quando uma consumidora depara com um novo produto cosmético, é cheirá-lo. E, quando a consumidora gosta do cheiro e a promessa do produto atende às suas expectativas, isso pode induzi-la a comprá-lo e, posteriormente, a renovar sua compra. O prazer que isso traz é importante, mas não é essa a única razão pela qual os cosméticos são perfumados.

Como são escolhidas as fragrâncias?
Perfumar é quase uma obrigação.

Os produtos são cheirosos para que, antes de tudo, esse odor acompanhe ou atenue o cheiro da base da formulação. Certos princípios ativos podem apresentar odor forte e desagradável, por isso é necessário revesti-los olfativamente. Um exemplo é a goma guar e os tensoativos catiônicos, derivados de quaternários de amônio presentes em muitos condicionadores capilares e que têm cheiro aminado ou, falando de uma maneira mais prosaica, tem cheiro de peixe!

No caso do cheiro desagradável de uma base, o trabalho do perfumista não é fácil. O perfumista precisa atingir um equilíbrio sutil. A solução para isso não é usar uma dosagem alta de uma fragrância. O objetivo do seu trabalho é acompanhar o desenvolvimento do produto, para encontrar a melhor sinergia entre a fragrância e a base, em vez de, simplesmente, atenuar o cheiro forte da base.

No caso específi co de um condicionador capilar com derivados de quaternários de amônio, o perfumista tem à sua disposição uma paleta de notas verdes para a cabeça da fragrância, notas florais verdes para o coração e notas de fundo musk e amadeiradas (sândalo) para as notas de fundo, que acompanham o cheiro específi co da base.

Além de ter boa sinergia com a base do produto, a fragrância precisa ser estável e não alterar o cheiro e a cor com o passar do tempo. Esse é um verdadeiro ato de equilíbrio.

Outros produtos difíceis de perfumar são os óleos e os séruns. Isso porque perfumá-los é tecnicamente muito complicado.

Por serem viscosos, os óleos tendem a “abafar” a fragrância. Nesse caso, o perfumista vai privilegiar as notas mais “pesadas”, ambaradas e amadeiradas. Além de serem tecnicamente adequadas a esse tipo de base, essas notas são adequadas à imagem do produto. Esse é mais um fator que contribui para a sua aceitação.

Os séruns, por outro lado, contêm grande quantidade de ingredientes ativos e, às vezes, álcool. Dessa forma, o cheiro dos séruns é muito intenso, portanto estes são mais difíceis de perfumar.

A intensidade da fragrância também é importante em um produto. Outro aspecto do cheiro de um produto cosmético é que esse odor não deve “brigar” com a fragrância (do perfume) que a consumidora vai usar.

Uma vez que tenha sido desenvolvida a fragrância adequada a estabelecer melhor sinergia com o cheiro da base, inicia-se o trabalho de ajuste da dosagem da fragrância para encontrar seu nível ideal, ou seja, que proporcione o uso mais confortável. Para mascarar o cheiro da base, a fragrância deve ser agradável e delicada, e o toque remanescente deve ser discreto.

Vários testes devem ser realizados para determinar como e quando adicionar o perfume ao processo de fabricação, pois certas fragrâncias podem desestabilizar uma fórmula, dependendo do momento em que for incorporada. Por exemplo, se o processamento for a quente, é recomendado sempre incorporar a fragrância quando a batelada já tiver sido resfriada. Finalmente, é recomendado realizar testes de estabilidade para avaliar o comportamento da formulação durante o tempo de vida do produto.

Mas o que acontece quando um produto não tem perfume?

Uma tendência atual é lançar produtos cosméticos sem perfume. Mas como resolver o problema de bases que têm cheiro desagradável e forte? Nesse caso, o formulador tem duas alternativas. A primeira é selecionar ingredientes com cheiros que sejam os mais neutros possíveis, para elaborar a fórmula. A segunda é selecionar ingredientes que tenham cheiro agradável ou coerente com o produto. Esse será um trabalho tão exigente e minucioso quanto o do perfumista.




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