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Quando eu era garoto, minha mãe fazia bolo, biscoito, roscas e pães em casa. Ela gostava de fazer esses quitutes, o que era comum no interior de Minas. Entre os meus 8 e 11 anos, comecei a ajudá-la. Achava interessante o processo de medir e misturar ingredientes, avaliar o aspecto e a textura da massa, acompanhar as mudanças do processo de assar e, obviamente, degustar no final.
Ingredientes, misturas, processo e avaliação. Acha que parece P&D?
Pois bem, as restrições por causa da pandemia acabaram deixando algum tempo livre. Certo dia, eu resolvi fazer um bolo. Peguei uma receita: farinha de trigo, ovos, manteiga, açúcar, sal, fermento e leite. Aí pensei: “vou mudar a receita, quero fazer um bolo de coco”. Troquei 2/3 do leite por leite de coco e coloquei coco ralado. Fiz um bolo de coco que ficou saboroso.
Há alguns anos, quando fui desenvolver um creme antiaging, comecei com uma revisão sobre anatomia, histologia e fisiologia da pele, para entender o processo de diferenciação e os fatores envolvidos no seu envelhecimento. Eu já tinha estudado o assunto antes, mas quando se tem uma ideia definida de produto, é possível perceber detalhes que passariam despercebidos em um estudo de rotina.
Depois pesquisei quais ativos poderiam ser usados, qual era o modo de ação e quais eram os requisitos para que essa ação se desenrolasse com eficácia e segurança. A substância escolhida emulava um ataque à pele, que, em resposta, acelerava a diferenciação celular e a descamação epidérmica para remover o “agressor”. A superfície da pele ficaria formada por células diferenciadas em um tempo mais curto, com menos perda de água, originando uma epiderme mais hidratada, com células mais volumosas e com aparência rejuvenescida.
A literatura dizia que a substância tinha uma ação satisfatória, mas o modo de ação poderia causar desconforto, e isso já determinava algumas características da rotulagem e também da formulação, que deveria ser macia – porque poderia ser reaplicada em uma pele irritada, mesmo que levemente – e não poderia escorrer durante a aplicação, nem depois de ser assimilada pela pele.
Como a aplicação era noturna, logo antes de dormir, e removida pela manhã, não houve preocupação com o suor, mas foi tomado o cuidado para que o filme resultante fosse seco o sufi ciente para não haver chance de o produto passar para a fronha e, inadvertidamente, atingir os olhos.
Pode parecer um excesso, mas é tecnicamente razoável e, portanto, passível de consideração.
Detalhes assim podem ser um diferencial e dar mais valor ao produto, desde que empregados corretamente na concepção e divulgação.
A concentração da substância e o pH foram defi nidos a partir das informações da literatura. Na verdade, há de se considerar os fatores que determinam o comportamento dérmico de uma substância: o peso molecular, o coefi ciente de difusão, o coeficiente de partição O/A e a concentração.
O peso molecular é inerente à substância, e não havia recurso para avaliar a difusão no laboratório. O coeficiente de partição O/A foi ajustado com o pH, que, no caso, era decisivo para definir a eficácia e a segurança. Para concentração, somente foi considerado o valor nominal, porque ainda não se sabia da existência da concentração resultante [Índice de Atividade Cosmetodinâmica, Cosm & Toil Bras 32(5):24-29, 2020].
A sequência foi preparar as amostras, fazer uma avaliação preliminar para escolher uma delas e submetê-la aos estudos de estabilidade. Na época, a obrigatoriedade dos estudos de segurança e eficácia ainda não estava bem definida como hoje. Um equívoco tecnológico e regulatório.
Pois bem. O trabalho de desenvolvimento envolve uma série de procedimentos e protocolos - que devem ter embasamento técnico e científico, estar em consonância com as normas aplicáveis - e deve atingir os objetivos do briefi ng. Além da formulação, há ainda que se verificar e avaliar a adequação da embalagem, o texto e as figuras. A conclusão deve ser formalizada sob a forma de um dossiê, com configuração estabelecida pela legislação. E ainda tem a participação no trabalho de validação do processo de fabricação industrial.
Então, qual dos dois exemplos representa melhor o modo de funcionamento do P&D na sua empresa? Claro que creme antiaging não tem absolutamente nada a ver com bolo de coco. O problema é que, ainda hoje, muita gente desenvolve cosméticos como eu fiz meu bolo de coco. Um equívoco primário que diminui o valor das empresas e de seus técnicos.
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