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Bem-vindo, 2021!

Janeiro/Fevereiro 2021

Carlos Alberto Pacheco

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Carlos Alberto Pacheco

Três, dois, um… Começou! Já estamos em 2021. Não posso deixar de notar como a mudança do calendário anual pode exercer um poder ilusório sobre as pessoas. O sentimento que muitos expressam não só verbalmente, mas também na prática, é de que a simples virada cronológica do calendário, automaticamente as libertam de um cenário presente e até certo ponto indesejado. Ledo engano. O cenário é um ente mais difícil de mover quando comparado às nossas expectativas, aos nossos desejos.

E o que o cenário presente nos promete para esse ano que acaba de berrar a pulmões abertos?

Comecemos pelos dois índices de infl ação mais usados no país, o IPCA e IGPM. Aquele de acordo com as projeções do Boletim Focus de 15 de janeiro indica uma infl ação de 3,43% a.a., e este, 4,94%. A proximidade desses indicadores deve diminuir as crises entre contratantes e contratados no momento dos reajustes, como as ocorridas em 2020. Isso inclui os dissídios coletivos – a diferença entre esses índices no ano de 2020 foi de 18,62 pontos percentuais a favor do IGPM. No entanto, o boletim indica que as opiniões dos pesquisados indicam aumento desses dois índices ao longo do ano. Dessa forma, o IPCA pode ficar acima da meta de 3,75% a.a., porém dentro do limite máximo de 4,58%. O mesmo ocorre para o IGPM, ou seja, há uma tendência de alta ao longo do ano. Essas duas informações são interessantes para os investidores, que deverão buscar ativos financeiros que entreguem retornos maiores que esses valores - aos assalariados, no momento dos dissídios; e aos fornecedores e clientes, no momento do planejamento orçamentário das compras e vendas de produtos e serviços.

Em se falando de juros, a taxa Selic apresenta projeção de 3,25% a.a. com tendência de alta na perspectiva dos entrevistados. A projeção ao longo dos anos à frente é de 4,75% para 2022, chegando a 6% em 2024. A alta da Selic faz com que o apetite do investidor aumente, diminuindo o consumo, além de atrair ainda mais o investidor externo – caso possa ser mantida a estabilidade política no país. Caso contrário, nem com uma Selic cada vez mais interessante o dinheiro de fora fará porto em mares locais. Um benefício adicional do aumento do volume de recurso investido em títulos do Governo é a manutenção do financiamento da dívida pública sem recorrência a empréstimo externo.

Já que falamos em dívida pública, aí vai uma má notícia: continua alta, com tendência de alta e sem um plano para controlá-la e, depois, quem sabe, reduzi-la. Atualmente, temos comprometidos 64,95% do PIB gerado com a nossa dívida pública. Aqui há um efeito sinérgico negativo: os gastos governamentais aumentam não necessariamente em ativos de infraestrutura, que poderiam retornar em geradores futuros de caixa, e a geração do PIB que não corresponde ao aumento dos gastos. Há muita expectativa em relação ao que as reservas de petróleo possam gerar, porém muitos esquecem que ele é uma fonte não renovável e que vivemos em um mundo com ideologias verdes cada vez mais fortes. Países do Oriente Médio e Venezuela são exemplos de que abundância de petróleo não é sinônimo de país rico e sustentável. Pode ser que as apostas nesse fluxo de caixa venham a não se cumprir no médio e longo prazo, como muitos insistem em acreditar.

Em relação ao PIB, que mede a saúde econômica de um país, a expectativa é de fechar o ano em 3,45%. No entanto, aqui cabem ressalvas. O número anterior tem como fonte o BC (fonte nacional). Já a OCDE (fonte externa) projeta um crescimento bem inferior, na ordem de 2,6%. A fonte nacional acaba por vezes sendo enviesada e sempre bastante otimista, enquanto a fonte externa não é tão independente como gostaríamos, mas em geral é considerada mais realista.

Aproveitando ainda o tema PIB, em um estudo do FMI sobre a evolução do PIB na segunda década deste século (2011/2020), o Brasil apresentou um crescimento pífi o, de 2,2% a.a., frente a um crescimento mundial de 30,5% a.a. Comparando com os países mais ricos, que tiveram um crescimento de 11,5%, o Brasil não deixa esperança de um dia ser considerado um país rico. Fazendo um recorte e considerando apenas os países emergentes, o crescimento nacional fi ca extremamente abaixo dos demais, que apresentaram no conjunto 47,6%. Que triste cenário. Essa foi mais uma década perdida!

Quanto ao câmbio, a projeção é de R$/US$ 5,00 com tendência de estabilidade na projeção. Aqui o indicador influencia positivamente a balança comercial para quem exporta e complica para os importadores. No entanto, esse indicador depende mais da conjuntura externa do que interna. O ideal seria crescer nas exportações de produtos de maior valor agregado em vez de ficar abraçado majoritariamente em commodities agrícolas e minerais.

Teríamos muitos outros indicadores para explorar no intuito de calçar as projeções para 2021, como a taxa de desemprego, a geração de renda familiar, a expectativa do crescimento da produção ou ainda assuntos que irão certamente impactar o desenrolar do cenário internacional ou local (EUA x China, política migratória, 4ª Revolução Industrial, reforma fiscal, política ambiental, crises das instituições locais, campanha de vacinação...). Porém, os indicadores descritos acima indicam que a nossa capacidade de reação frente às sucessivas crises é pequena e os efeitos ruins de um país ainda jovem na sua formação política, vão se acumulando ao longo das décadas e nos distanciando dos países emergentes.



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