Mercado

Sopa de letrinhas que afetam as nossas vidas

Novembro/Dezembro 2020

Carlos Alberto Pacheco

colunistas@tecnopress-editora.com.br

Carlos Alberto Pacheco

Com a mínima chance de errar, você já ouviu falar de todas estas siglas, mas saber de fato o que elas significam é outra coisa...

Para começar, temos que entender o que é essa tal infl ação. Só a menção da palavra já causa calafrios em alguns brasileiros que, da década de 80 até metade da de 90, já tinham capacidade de perceber a dor e o desespero dos pais ao tentar garantir o sustento familiar mês a mês - certamente era um Brasil bem diferente do atual. Como defi nição, do ponto de vista de quem consome, pode-se dizer que a infl ação é a alta generalizada dos preços dos produtos e serviços de maneira contínua e persistente. Por outro lado, do ponto de vista do investidor, o conceito é o alargamento do prazo de pagamento (do “à vista” para o “a prazo”), da injeção de moeda circulante na economia, que por consequência direta desvaloriza a nossa moeda frente a outras economias, que não precisam injetar moedas ou pelo menos o fazem em uma quantidade menor.

A evidência do efeito da primeira defi nição pode ser notada quando, no primeiro dia do mês anterior, compra-se um frasco de desodorante a R$ 10,00 e um mês após, para comprar o mesmo desodorante, você precisa pagar R$ 11,00. Nesse caso, diz-se que houve uma infl ação de 10% para esse item no espaço de trinta dias. Uma evidência para o segundo efeito se dá quando precisamos desembolsar mais reais para a compra da mesma quantidade de uma moeda estrangeira (por exemplo, no primeiro dia do mês anterior precisávamos de R$ 10,00 para termos US$ 2.00 e trinta dias depois, para termos os mesmos US$ 2.00, precisávamos de R$ 11,00. Nesse caso, diz-se que houve uma desvalorização do real frente ao dólar de 10%).

Atualmente a inflação está sob controle, mas, se fôssemos fazer o mesmo exemplo acima citado do desodorante no mês de março de 1990, o impacto seria muito maior: o preço do desodorante teria passado de R$ 10,00 para R$ 18,24, ou seja, 82,39% em um único mês. Agora transporte isso para uma compra mensal doméstica, transporte público, vestuário, combustível etc. Os salários eram corrigidos periodicamente, porém muitas categorias não tinham o seu poder de compra reposto à altura das perdas causadas pela infl ação. Caso você tenha menos de trinta anos, com certeza terá difi culdade de entender, uma vez que a partir de março de 1994, Fernando Henrique Cardoso, o então Ministro da Economia do governo de Itamar Franco, colocou em marcha o Plano Real, transformando a moeda no atual Real, desindexando a economia e domando assim a inflação.

Apesar disto, não se engane: a inflação sempre deve ser vigiada e, como um vírus de um resfriado comum que todos carregamos durante toda a vida, o importante é evitar que o evolua para uma gripe debilitante ou até mesmo mortal. Atualmente, poucos países encontram-se em risco de hiperinflação ou de inflação descontrolada, sendo presente em geral em regiões onde há desestruturação da ordem civil como, por exemplo, em guerras ou insurreições.

Existem quatro tipos diferentes de inflação: de demanda, quando a procura por bens e serviços é superior à quantidade ofertada, o que faz com que, quando a economia está aquecida, tenhamos uma baixa infl ação positiva; de custo (oferta), quando há um aumento dos custos de produção ou serviço (quando há aumentos de salários, oneração da folha de pagamento, matéria-prima, combustível, impostos etc., é inevitável haver um contínuo aumento da inflação); inercial, que não tem a ver com oferta ou demanda, mas sim com uma perspectiva futura negativa, tendo em vista problemas históricos, indefi nições eleitorais que geram desconfi ança quanto à estabilidade econômica, causando uma espiral infl acionária que não se justifi ca materialmente, apenas na insegurança do investidor; estrutural, semelhante à inflação de custos - nesse caso, a infl ação é resultado da ineficiência da infraestrutura produtiva de uma economia, resultando em uma rigidez da oferta de bens e serviços dessa estrutura econômica.

Para medir o fenômeno, há a necessidade da criação de um índice que possa mensurar ao longo do tempo a variação dos preços de produtos e serviços, sejam eles para maior ou menor. Aqui entram os índices criados pelo governo e pelas instituições privadas, uma verdadeira “sopa de letrinhas”. O IPCA (Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo) e o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) são os dois índices ofi ciais gerados pelo governo através do IBGE. O IGPM (Índice Geral de Preço do Mercado) é elaborado por uma instituição privada, a FGV (Fundação Getúlio Vargas), e o IPC-FIPE (Índice de Preço ao Consumidor) é elaborado pela FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade da USP).

Apesar das diferenças desses índices, é importante ter em conta que a inflação pode até ser considerada por alguns como um fenômeno democrático, uma vez que atinge todas as pessoas. Porém, com certeza o impacto não é tão democrático, visto que é bem diferente entre as diferentes classes sociais, sendo um dos fatores que contribui para o aumento da desigualdade social.



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